Lobista fica calado em depoimento na CPI da Merenda

Depoimento de Marcel Ferreira Julio era um dos mais aguardados

Apontado como operador político do esquema que fraudava contratos da Cooperativa Orgânica Agrícola Familiar (Coaf) com prefeituras paulistas e com o governo do Estado, o lobista Marcel Ferreira Julio ficou calado durante depoimento nesta terça-feira, 11, em sessão secreta na CPI da Merenda, na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

O depoimento de Marcel era um dos mais aguardados e já havia sido adiado, há cerca de um mês, quando ele obteve uma liminar do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) que lhe garantiu o direito de ficar em silêncio na CPI. Após pressão dos deputados e de uma nova convocação, ele aceitou falar em sessão secreta, com a presença apenas dos parlamentares. Mesmo com a proposta aceita, ele respondeu a poucos perguntas iniciais e depois decidiu ficar calado.

Na saída da comissão, Marcel apenas confirmou à imprensa que fez pagamentos em dinheiro para José Merivaldo dos Santos e Jeter Rodrigues, servidores da Assembleia e ex-assessores do presidente da Alesp, Fernando Capez (PSDB). Jeter assinou contrato de consultoria com a Coaf no valor de R$ 200 mil e Merivaldo recebeu um cheque sem fundo da cooperativa no valor de R$ 50 mil. Marcel não citou pagamentos ao deputado tucano.

O lobista disse em sua delação premiada à Procuradoria-Geral de Justiça que teve encontros com Capez em seu escritório político e que o tucano pediu dinheiro para sua campanha eleitoral. Segundo o lobista, o presidente da Alesp recebeu R$ 450 mil para sua campanha à reeleição em 2014.

Em troca, de acordo com Marcel, o tucano teria intercedido em favor da Coaf, acusada pelo Ministério Público Estadual de fraudar licitações da merenda em dezenas de prefeituras e que mirava ainda contratos da Secretaria de Educação do governo Geraldo Alckmin (PSDB). Capez nega taxativamente qualquer participação no esquema e diz que seu nome foi usado pela quadrilha.

O depoimento do lobista na PGJ foi tomado no dia 1.º de abril, logo após ele ter se entregado à Polícia Civil. Marcel contou que, em 2014, foi procurado pelo presidente da cooperativa, Cássio Chebabi. Segundo o delator, Chebabi lhe disse que a Coaf venceu chamada da Secretaria da Educação do Estado para um contrato de R$ 10 milhões. (AE)