Liberação de prédio para moradores pode levar meses

Defesa Civil afirma que interdição continuará até fim das obras

Moradores do Edifício Canoas, em São Conrado, na zona sul do Rio de Janeiro, podem ainda levar meses para poder voltar para suas residências após a destruição causada por uma explosão nesta segunda-feira, 18. O engenheiro da Defesa Civil Luís Moreira Alves afirmou nesta terça-feira, 19, que a desinterdição total do edifício só deverá ocorrer depois de o condomínio fazer todas as obras de restauro elétrico,  hidráulico e de gás. 

"Amanhã (quarta-feira, 20) até o fim do dia devemos fazer a desinterdição do prédio para obras. O condomínio terá que apresentar um responsável técnico que assuma o restauro da parte elétrica, hidráulica e das inalações de gás", afirmou.

Segundo Alves, somente após a realização de todas as obras, a Defesa Civil fará uma nova vistoria para liberar a habitação do prédio. O engenheiro, no entanto, se esquivou de dar prazos. "Vai depender da empresa que for contratada", disse.

Ainda assustados com os estragos da explosão, os moradores voltaram aos seus apartamentos nesta terça-feira para pegar mais pertences e objetos pessoais.

"Pelo menos o básico para seguir a vida em frente. Em menos de 90 dias não acredito poder voltar. Enquanto isso vamos continuar incomodando os familiares", afirmou o administrador Fernando Galio, de 58 anos, morador 7º andar do edifício. 

Até o início da tarde desta terça-feira, já haviam sido retirados 15 caminhões de entulho do local.

"Durante a madrugada toda fizemos o trabalho pesado de remoção dos escombros e agora vem a parte mais minuciosa", disse o secretário municipal de Coordenação de Governo, Pedro Paulo. "Amanhã até o fim do dia encerramos nossa parte e devolvemos o edifício para que os moradores continuem os reparos."

O subsíndico do Edifício Canoas, José Andreata, afirmou que a apólice do seguro do prédio está sendo analisada para cobrir os estragos causados pela explosão. "O seguro só cobre a parte física dos apartamentos", disse. Danos a móveis e eletrodomésticos terão de ser arcados pelos próprios moradores.

"Dormi na casa de meu filho aqui em São Conrado. O clima ainda é de apreensão porque não se sabe ainda o nível de dano geral", disse o professor universitário que mora no 4º andar do edifício de 19 andares. "Já se sabe que a estrutura do prédio não foi alterada", contou Andreata, que há 38 anos mora no local.

Para o conselheiro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado do Rio de Janeiro (Crea-RJ), Antônio Eulálio, a realização da autovistoria não teria impedido o acidente. "Não teria adiantado. No caso do gás,  uma negligência ou um cano mal vedado poderiam ter causado o acidente", disse.

O especialista em estrutura acredita que a explosão possa ter sido desencadeada pelo acendimento de uma lâmpada ou por uma faísca gerada pelo motor da geladeira.

Eulálio também avaliou que a estrutura do prédio não tenha sido abalada pela explosão, embora as lajes do 10º e 9º andar tenham caído no 8º andar. "Não vejo nenhum problema de estrutura. A laje serve para enrijecer a estrutura, mas não é fundamental. Além disso, foi só na área da cozinha", afirmou.

Para o especialista, após a retirada dos escombros, será fundamental fazer uma vistoria nos pilares do edifício.

Já o engenheiro David Gurevitz, especialista em inspeção predial, avaliou que ainda há risco de o sobrepeso na laje do 8º andar causar um efeito "castelo de cartas". "Só depois que todo o entulho for retirado será possível avaliar", disse.

Gurevitz também acredita que a autovistoria não seria fundamental para evitar o acidente. "A lei tem um furo grande de não cobrar a avaliação dos níveis de metano no ar, que é um gás que pode explodir um prédio inteiro", afirmou.

Por volta das 5h40 de segunda-feira, uma explosão na cozinha do apartamento 1.001 destruiu as paredes de quatro dos 72 apartamentos do Edifício Canoas.

Morador do 1.001, o alemão Markus Bernard Maria Müller seguia internado nesta terça-feira em estado muito grave no Centro de Terapia Intensiva (CTI) do Hospital Miguel Couto, na Gávea, zona sul. Ele teve cerca de 50% do corpo queimado, principalmente nas regiões do tórax e do abdome. (AE)