Grampos ligam presidente da Alesp à médico condenado por desvios na saúde

Carlão Pignatari (PSDB) intermediava a entrega da administração de dois hospitais para organizações sociais do grupo de Cleudson Garcia Montali, condenado a 200 anos de prisão

A Polícia Civil de São Paulo interceptou telefonemas com conversas suspeitas entre o presidente da Alesp, Carlão Pignatari (PSDB), e o médico Cleudson Garcia Montali, condenado a 200 anos de prisão em agosto de 2021 por liderar uma organização criminosa envolvida no desvio de R$ 500 milhões da Saúde em SP. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Carlão Pignatari aparece nas conversas intermediando a entrega da administração de dois hospitais para organizações sociais do grupo do médico, que hoje está preso. Montali prestava também contas ao deputado de suas ações, segundo o Estadão. Na época, o médico já era investigado pela polícia e pelo Ministério Público Estadual. O tucano, até então, não era investigado.

A reportagem do Estadão traz conversas entre os dois. Entre elas está uma do dia 22 de maio de 2019, em que Montali telefonou para Carlão Pignatari e ouviu uma solicitação. “Deixa eu te fazer um pedido, o prefeito de Santa Fé ‘tá’ com um problema sério na Santa Casa dele lá. ‘Cê’ não quer pedir pra alguém ‘dá’ uma olhada lá e vê se põe uma OS tua pra gerenciar aquilo?”

“Claro, claro. Só que eu…O senhor pode me passar o telefone?”, respondeu o médico.

Segundo o Ministério Público, o grupo de Cleudson usava notas frias e desviava grande parte dos recursos repassada às organizações sociais por meio de superfaturamento de compras e de serviços não executados.

Cluedson foi alvo da Operação Raio X, contra fraudes na gestão de hospitais de 27 cidades em quatro estados: São Paulo, Pará, Paraíba e Paraná.

A assessoria de Pignatari divulgou uma nota negando as acusações. “As supostas conversas questionadas pela reportagem são datadas de 2019, antes de qualquer denúncia ou suspeita pública contra o médico Cleudson Garcia Montali”, diz o comunicado, afirmando ainda que o tucano “não é investigado na Operação Raio X e que em nenhum momento foi alvo de diligências determinadas pela Justiça”.

“O inquérito principal da operação inclusive já foi encerrado, resultando em mais de 160 novos inquéritos, sendo que o parlamentar não é investigado em nenhum deles. Não possui, portanto, qualquer relação com o caso”, completa a assessoria.

O deputado participou da CPI das Organizações Sociais da Saúde na Alesp, que investigou o setor e se encerrou em 17 de setembro de 2018. Participava das sessões ativamente, mesmo suplente. Cleudson prestou depoimento em agosto de 2018 aos parlamentares sobre investigações envolvendo a OSS Santa Casa de Birigui e sua atuação na contratação de organizações sociais por municípios paulistas. O médico negou irregularidades.

As conversas grampeadas ocorreram oito meses após o término da CPI.