Família acusa governador de Alagoas de matar vereador e pede proteção à PF
Paulo Dantas diz que acusação é falsa e motivada pelo período eleitoral
A filha do vereador Adelmo Rodrigues de Melo, o “Neguinho Boiadeiro”, assassinado por pistoleiros em 2017 ao sair da Câmara de Batalha (AL), protocolou ontem (24) requerimentos à Polícia Federal (PF), ao Ministério Público Estadual de Alagoas (MPAL) e ao Ministério Público Federal (MPF), solicitando proteção a seus familiares e reforçando o pedido de federalização das investigações acerca da morte de seu pai. Nos documentos, Maria Cavalcante de Melo, conhecida como “Bahia Boiadeiro”, acusa o governador-tampão e candidato à reeleição de Alagoas, Paulo Dantas (MDB), e a primeira-dama Marina Dantas, de serem os mentores e mandantes do assassinato de seu pai.
A coligação de Dantas afirma que acusação é falsa, e diz que um irmão de Bahia Boiadeiro já desmentiu essa denúncia em juízo. E garante que o caso já foi esclarecido pela Segurança Pública de Alagoas. Os Dantas são aliados do ex-governador e candidato a senador Renan Filho e do senador Renan Calheiros, todos do MDB.
O crime levou a região do Sertão de Alagoas a vivenciar um cenário de velho oeste, há cinco anos. Quando foi assassinado, Neguinho Boiadeiro e sua família faziam oposição à família Dantas, direcionando críticas e preparando um dossiê contra o agora governador, que é ex-prefeito de Batalha, e sua esposa, então prefeita do município sertanejo.
Nos requerimentos, Bahia Boiadeiro afirma que os filhos de Neguinho Boiadeiro, irmãos e viúva sentem-se inseguros com o fato de forças policiais serem comandadas pelo governador Paulo Dantas.
“Já estamos sendo alvo de novas perseguições e ameaças, inclusive contra nossas vidas e as vidas de nossos familiares. Queremos que a apuração deste crime seja enfim federalizada e queremos proteção da Polícia Federal. Podemos ser assassinados a qualquer instante. Caso algo aconteça conosco, certamente serão outros crimes de pistolagem e de motivação política que, infelizmente, ainda mancham a história de Alagoas”, afirmou Bahia Boiadeiro.
“Já chegaram ‘recados’ a toda nossa família de que qualquer tentativa de se buscar respostas para a morte de Neguinho nesse período eleitoral, sofreria represálias duras e fortes, o que faz a família temerosa de novos episódios sangrentos e dos quais não se pode duvidar”, prossegue a denunciante.
Ao MPF, Bahia Boiadeiro relembra que o Ministério Público de Alagoas já enviou em 2021 pedido oficial à Procuradoria Geral da República, pedindo a instauração de “Incidente de Deslocamento de Competência”, a federalização do caso, perante o Superior Tribunal de Justiça (STJ). E afirma que não teria havido qualquer movimentação ou andamento do pedido realizado.
Coligação diz que acusação é falsa
Por meio de nota, a coligação de Paulo Dantas afirmou que a acusação teria como base informações falsas. E destacou que o crime já foi elucidado pela Segurança Pública de Alagoas.
“Este crime já foi elucidado pela Segurança Pública, com autores denunciados pelo Ministério Público Estadual. O irmão da pessoa que está divulgando essas informações falsas, já declarou em juízo que é mentira a acusação, após ter sido processado por crime de calúnia. Não é surpresa que, ‘às vésperas da eleição’, os adversários políticos lancem mão de uso de fake news para tentar confundir a opinião do eleitor”, diz a nota da campanha de Dantas ao governo.
Histórico sangrento
A morte do vereador, em 2017, resgatou o clima de guerra entre os clãs Boiadeiro e Dantas. O pecuarista e ex-prefeito de Batalha, José Miguel Rodrigues Dantas, conhecido como “Zé Miguel”, foi assassinado com sua esposa Matilde Toscano, em 1999, por “Laércio Boiadeiro”, que foi condenado a 35 anos de prisão.
Nesta guerra, as famílias de Batalha já perderam um total de seis pessoas. Em 2006 foram assassinados Samuel Theomar Bezerra Cavalcante, irmão da primeira-dama Marina Dantas; e Edvaldo Joaquim de Matos, segurança de Paulo Dantas. E em 2016, Emanoel Boiadeiro, que é sobrinho do vereador Neguinho Boiadeiro, foi morto em operação policial comandada pela Delegacia Especial de Investigações e Capturas (Deic). Emanoel era acusado de matar Samuel e Edvaldo.
Em 2019, a Polícia Civil de Alagoas divulgou que interceptou uma trama criminosa para matar o então deputado estadual Paulo Dantas e sua esposa. À época delegados da Divisão Especial de Investigação e Capturas (Deic) afirmaram que pistoleiros pernambucanos haviam recebido R$ 290 mil da família Boiadeiro para o crime. (Com informações da Gazetaweb).