Andreas Von Richthofen transforma herança milionária de R$10 milhões em grandes dívidas

Andreas Von Richthofen enfrenta 24 ações na Justiça de São Paulo por dívidas de IPTU e condomínios atrasados, somando um calote de aproximadamente R$500 mil

Andreas Von Richthofen após quatros anos do assasinato de seus pais causado pela irmã Suzane Von Richthofen e os irmãos Cravinhos, conseguiu judicialmente o direito de herdar todo o patrimônio dos país. 

Na época, a herança avaliada em quase R$10 milhões, haviam carros, terrenos, seis imóveis, entre elas a mansão onde o casal foi assassinado, vendida por R$1,6 milhões, além de dinheiro em contas correntes e aplicações. 

Após 20 anos da tragédia que impactou o Brasil e mudou a vida de Andreas, o caçula Von Richthofen enfrenta 24 ações na Justiça de São Paulo por dívidas de Imposto Predial Territorial Urbano (IPTU) e condomínios atrasados, somando um calote de aproximadamente R$500 mil, segundo o escritor da biografia de Suzane Von Richthofen, Ullisses Campbell. 

 

Usucapião e imposto atrasado

Duas das casas herdadas por Andreas foram invadidas por falsos sem-teto enquanto as casas estavam fechadas. A principal delas é a casa da Rua Barão de Suruí, na Vila Congonhas, onde a família von Richthofen morou antes de se mudar para a mansão da Rua Zacarias de Góis, onde Daniel e Cristian Cravinhos mataram o casal a pauladas. A casa está avaliada em até R$1 milhão. 

Nessa casa funcionaram duas editoras, a Magnum, especializada em armas de fogo, e a Etros. Após que as duas empresas deixaram o imóvel, diversos corretores procuraram o Andreas pelos interesses de compra da casa, mas ele recusou todas as ofertas. 

A casa sem manutenção, ficou com o aspecto de abandonada e recentemente uma família se instalou clandestinamente que ao perceberem o abandono do imóvel, os falsos sem-teto trocaram as fechaduras para acessar a casa sem arrombar portas e portões. 

No bairro de Campo Belo, onde Andreas tem mais duas casas, invasores já ganharam título de propriedade por usucapião. Trata-se de aquisição de imóvel por meio da posse prolongada, contínua, pacífica e sem oposição, também chamada no Direito Imobiliário de prescrição aquisitiva. O tempo dessa posse pode ser entre 5 e 15 anos.

Além do usucapião, Andreas pode perder as propriedades herdadas pelos pais por dívidas de IPTU que devem ser pagas à prefeitura da cidade de São Paulo e do município de São Roque. A casa da Barão de Suruí acumula R$48.524,07 de imposto atrasado, segundo o levantamento feito em novembro de 2023, a dívida refere-se ao período de 2021 e 2022, sendo que nesse tempo a casa já estava ocupada por invasores. 

Outro imóvel em risco de ser invadido é a antiga clínica da psiquiatra Marísia Von Richthofen, mãe de Andreas e de Suzane, localizada na Rua República do Iraque, no bairro Brooklin Paulista. Até julho de 2023 a casa acumulava um débito de R$20.170,17. Andreas chegou a morar no imóvel por alguns anos, época em que cursava Farmácia e Bioquímica na Universidade de São Paulo, entre 2005 e 2015.

Segundo vizinhos, na época Andreas reunia amigos e fazia festas esporádicas no local com outros estudantes mantendo o som alto até a madrugada. No entanto, os vizinhos de porta nunca se queixaram do barulho. “Esse garoto era tão triste que não tínhamos coragem de reclamar quando ele estava se divertindo com os amigos”, disse a dentista Olívia Massaoka, vizinha de porta da casa da República do Iraque.

De acordo com amigos próximos do herdeiro Von Richthofen, Andreas não pretende abrir mão dos bens porque mantê-los significa preservar a memória dos pais, Manfred e Marísia. No entanto, ele tem medo que a irmã assassina, Suzane, acesse esses bens, pois o mesmo não é casado e não tem filhos. 

 

Traumatizado

Andreas costuma andar com uma medalha no bolso contendo o brasão da família von Richthofen. O irmão de Suzane acredita que é descendente de Manfred Albrecht Freiherr von Richthofen, piloto de avião conhecido como “Barão Vermelho”, que atuou na Primeira Guerra Mundial e morreu em combate no dia 21 de abril de 1918.

Ele está sumido desde a época da pandemia, quando se refugiou em um sítio de São Roque, também herdado dos pais. Logo após o período de isolamento, Andreas comprou outro sítio no mesmo município. Essa nova propriedade fica isolada no meio do mato e tem difícil acesso. Para não ser incomodado, ele vive sem telefone celular e internet.

 É justamente esse isolamento voluntário que aumenta a possibilidade de Andreas perder seus bens, pois os oficiais da Justiça de São Paulo tentam localizá-lo para notificá-lo sobre os processos das dívidas e não conseguem. Nos autos dessas ações judiciais, os procuradores do município de São Paulo afirmam que vão preparar ações para levar os imóveis de Andreas a leilão, já que ele se recusa a quitar os débitos.

 

Relação abalada

Segundo pessoas próximas, Andreas desapareceu definitivamente em janeiro de 2023, quando Suzane passou a cumprir o restante da pena em liberdade. Assim que ela ganhou a possibilidade de ressocializar, Andreas passou a ser procurado de forma insistente pela advogada de Suzane, Jaqueline Domingues. A defensora tentava costurar um encontro entre irmãos, algo que nunca ocorreu nos últimos 20 anos. “Andreas tem um misto de medo e amor pela irmã”, disse um amigo dele.

Em 2017, durante o saidão do Dia das Mães e Suzane pode sair da cadeia de Tremembé, os dois irmãos tentaram se encontrar 15 anos após o crime. Na época, ele estava com 30 anos; e ela com 34. Andreas mandou uma mensagem para o celular de Suzane e os dois marcaram um encontro no município de Angatuba, onde Suzane morava com o ex-noivo, Rogério Olberg. 

Suzane propôs um jantar e Andreas aceitou. Mas ele não compareceu. No dia marcado, ele acabou capturado por policiais ao tentar invadir uma casa na Região de Santo Amaro, em São Paulo. Andreas estava em estado de surto e foi levado para uma clínica de recuperação, onde ficou internado por dois meses. As imagens dele correndo desnorteado pela rua e depois sentado todo rasgado num banco da ala psiquiátrica do Hospital Municipal de Campo Limpo, zona sul, são comoventes.

Nem mesmo a advogada de Andreas sabe do paradeiro, pois ela tenta incansavelmente localizá-lo para impedir que os bens dele sejam leiloados para pagamento de dívidas públicas. Quem ficou com a guarda de Andreas até ele completar 18 anos foi Miguel Abdalla Netto, irmão de Marísia. Ele também não sabe onde o sobrinho está.

Os bens de Andreas localizados no bairro de Campo Belo eram administrados pela imobiliária Laert de João Imóveis. As corretoras também tentaram encontrá-lo durante todo o ano passado para que ele assinasse contratos de locação. Em vão. “A última vez que compareceu aqui, em 2021, ele estava irreconhecível. Estava tão sujo e maltrapilho que parecia um morador de rua. Aparentava estar em surto. Ficamos até com medo de abrir a porta”, contou a dona da imobiliária, que pediu para não ser identificada.

O claro desinteresse de Andreas é o processo que o condomínio do edifício Greenwich Village Campo Belo move contra ele desde 2021 por inadimplência no condomínio. Só nessa ação ele já perdeu R$150 mil entre taxas e honorários de sucumbência, que são os valores que se paga aos advogados da parte vencedora de uma ação. Andreas comprou à vista em 2017 uma unidade de 32 metros quadrados no prédio por R$430 mil reais. O condomínio tem piscina, sauna, salão de festas, uma vaga na garagem, espaço gourmet e portaria 24 horas. Em 2023, o apartamento já valia R$630 mil, ou seja, valorizou 46%. Desde 2020, quando se mudou para o sítio, Andreas não paga condomínio (R$718 + taxa de reserva de R$22) nem IPTU desse apartamento.

Quando a dívida de Andreas em taxas alcançou R$17.184,53, a administração do Greenwich Village o acionou na Justiça. A primeira ação data de 4 de agosto de 2021. Como ele nunca se manifestou nos autos, a Justiça executou o irmão de Suzane a revelia. A pedido da advogada Bruna da Silva Kusumoto, representante do condomínio, Andreas teve a conta bancária bloqueada para pagamento da despesa. Como a taxa do condomínio é permanente, os valores são sacados da conta dele a cada três meses, assim como os honorários da advogada. “Vai ficar assim ad aeternum porque ele se recusa a pagar o boleto espontaneamente”, explicou Bruna Kusumoto.