Lira e seu pai transformam paisagem de miséria que marcou Alagoas

Presidente da Câmara garantiu projeto habitacional iniciado com o ex-senador Benedito de Lira, na paupérrima orla lagunar de Maceió

Ao participar da entrega de mais 914 apartamentos do Residencial Parque da Lagoa, na orla lagunar de Maceió, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), coroa, nesta sexta (10), um esforço conjunto iniciado há mais de uma década, com seu pai e ex-senador Benedito de Lira (PP-AL), para dar fim ao complexo de favelas que abrigava um bolsão de miséria às margens da Lagoa Mundaú. A inauguração comandada pelo presidente Lula (PT) e pelo prefeito João Henrique Caldas, o “JHC” (PL), que concluiu a obra, não extingue a pobreza na capital alagoana, cuja região mantém-se paupérrima. Mas consolida o clã de Lira como motor político à frente de mais de 90% dos conjuntos habitacionais entregues aos alagoanos, desde a criação do Minha Casa Minha Vida, no governo petista.

Arthur Lira e seu pai e ex-senador Benedito de Lira – Foto: redes sociais.

Os blocos de apartamentos entregues hoje mudam um cartão-postal de miséria que tingia, com o preto das lonas das favelas, as águas que inspiraram o nome do estado de Alagoas. Mais 7 mil maceioenses ganharam as moradias populares do Parque da Lagoa, deixando para trás a vida em centenas de barracos insalubres das comunidades Mundaú, Sururu de Capote, Peixe e Muvuca. Os apartamentos têm 45 metros quadrados, com sala, banheiro, área de serviço e dois quartos, acabamento em cerâmica, e acesso a água potável encanada.

Tal dignidade chega após o trabalho de Arthur e do velho Biu de Lira transcender governos de petistas de Lula e Dilma Rousseff, de Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PL), garantindo cerca de R$ 200 milhões investidos em obras para área de lazer, asfalto novo, iluminação e saneamento, mais R$ 138 milhões na construção das habitações inauguradas no evento de hoje.  O residencial com 89 blocos terá 1.776 apartamentos, dos quais 1.074 já foram entregues.

Lula inaugurou obra turbinada por Lira e finalizada por JHC (à dir.) – Foto: Itawi Albuquerque)

A liderança de Arthur Lira na política habitacional alagoana tem relação direta com a indicação de ministros das Cidades, desde quando Benedito de Lira era deputado federal e participou da indicação de Márcio Fortes, que criou o Minha Casa, Minha Vida, em 2009. Ao lado do filho, o agora prefeito de 82 anos da paradisíaca Barra de São Miguel, garantiu a construção de quase 60 mil unidades habitacionais, em dezenas de municípios de Alagoas. Desde 2011, a dupla assegurou R$ 1,1 bilhão para execução dos projetos habitacionais em Alagoas.

“Todos conjuntos habitacionais de Maceió e de sua região metropolitana têm a participação minha e dele. Porque ficamos à frente do Ministério das Cidades. São quatro a seis ministros que nos deram oportunidade de desenvolver a política habitacional aqui”, destacou Lira, citando para o Diário do Poder ter acabado com outro bolsão de pobreza, ao garantir habitação para pescadores da Favela de Jaraguá.

Ainda há muito a fazer, pois Alagoas é o estado em que os casos de insegurança alimentar grave são mais frequentes, com 36,7% das famílias enfrentando algum nível de falta de alimentos e passando fome. Os dados são de um estudo da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (PENSSAN), divulgado em 2022.

Moradora de comunidade pobre da região lagunar – Foto: Ailton Cruz/Gazeta de Alagoas

Sonho antigo e continuado

Ainda no governo de seu parceiro político Teotonio Vilela Filho (PSDB), o então deputado Benedito de Lira semeou o sonho de dar fim ao complexo de favelas da Lagoa Mundaú, que abrigou famílias que enfrentaram enchentes, incêndios, surtos de doenças, lideradas por mulheres marisqueiras, cuja carga de trabalho no processamento do molusco sururu durava das primeiras horas da manhã, até o fim da noite. E garantiu sua eleição ao Senado com a série de obras que fazia questão de inaugurar dançando forró nos palanques, no clima de festa que costuma contagiar inaugurações como a desta sexta.

Depois de batalhar junto com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para destravar o grandioso projeto do Parque da Lagoa, Arthur Lira conseguiu que o prefeito JHC efetivamente erguesse as paredes do residencial que começou a ser entregue (160 unidades) no final do governo do  antecessor e rival de Lula. Isso após projetos terem sido aprovados em outubro de 2018, quando a ordem de iniciar as obras foi dada pelo então prefeito Rui Palmeira (PSD). As obras foram efetivamente iniciadas em 2019, mas logo interrompidas, e somente retomadas em agosto de 2020, ano em que JHC foi eleito prefeito.

Favelas e pobreza na Orla da Lagoa Mundaú, em Maceió – Foto: Google Maps/Arquivo.

Mesmo de saída da Presidência da Câmara dos Deputados, Arthur Lira disse ao Diário do Poder que teve atendido seu pleito junto ao atual ministro das Cidades, Jader Filho, para que o governo de Lula anunciasse mais 2.400 casas para moradores de áreas de risco de Maceió. Anunciou o feito na inauguração de hoje.

“Dessas 2.400 novas casas, queremos garantir mais 400 para a orla lagunar de Maceió. Porque o levantamento feito entre 2015 e 2016 contabilizou 1.776 barracos, número contemplado pelo Parque da Lagoa. Mas o avanço da obra levou à criação de novas demandas, que o Ministério Público, órgãos de assistência social e Caixa acompanham”, disse Arthur Lira, em referência aos últimos barracos que restam à margem da Lagoa Mundaú.

Parte da militância de esquerda que não atura a manutenção de seu poder, enquanto apoiador da reeleição de Bolsonaro, vaiou o momento do discurso de Arthur Lira, no evento de hoje, que atraiu até rivais locais do presidente da Câmara, como o governador Paulo Dantas (MDB) e o senador licenciado e ministro dos Transportes, Renan Filho (MDB-AL). Diante da hostilidade, o deputado foi apoiado por Lula, que se colocou ao seu lado para intimidar as vaias, enquanto o presidente da Câmara exaltou o legado que segue construindo.

“Com respeito e sem demérito a nenhum político deste Estado, ninguém entregou mais casas no Estado do que o senador Benedito e o deputado Arthur Lira”, reagiu o presidente da Câmara. “A história da gente é longa. Ele fazia, e eu faço”, completou Lira, para o Diário do Poder.

Desde a véspera, uma faixa foi afixada na entrada de Maceió como expressão de desagrado pela visita.