Câmara vê omissão do MP e da SSP nas mortes da população de rua de Alagoas
Câmara cobra que MP apure mortes da população de rua de Alagoas
Diante da omissão do Governo de Alagoas em apurar assassinatos de alagoanos em situação de rua, o presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados (CDHM), Paulão (PT), cobrou do procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça Neto, a instauração de uma investigação sobre a omissão do governo de Renan Filho (MDB) na apuração das mortes da população de rua em Alagoas, bem como o efetivo exercício do controle externo da atividade policial pelo Ministério Público de Alagoas (MP/AL), que afirma já atuar com uma comissão desde o fim do ano passado.
O requerimento traz como ponto central o fato de a Secretaria de Segurança Pública de Alagoas (SSP/AL) ter informado à Comissão que, entre 2015 e 2017, foram abertos 29 inquéritos para apurar assassinatos de “moradores de rua”, sendo 14 destas investigações concluídas sem indicação de autoria e apenas sete com indicação de autoria. Apenas três desses inquéritos mencionam prisões dos indiciados como homicidas. E há quatro inquéritos com prazo para a conclusão dilatado, enquanto outros quatro têm o status pouco esclarecedor de “instaurados”.
O Diário do Poder procurou ouvir a SSP de Alagoas a respeito das cobranças da Comissão da Câmara, mas não obteve respostas até a publicação desta reportagem.
RESPONSABILIDADE É DO MP
“Tal vigilância e intervenção ministerial deve ser redobrada quando, como no caso concreto, se trate da violação ao direito humano à vida, mormente de pessoas em condições de altíssima vulnerabilidade, direito à vida que há mais de cinco décadas a comunidade internacional vem contemplado em alguns dos principais instrumentos internacionais de direitos humanos que o Brasil está vinculado”, diz um trecho do requerimento, que exalta o direito à vida como fundamento essencial do Estado Democrático de Direito contemporâneo.
Veja a série de itens requisitados ao MP pela CDHM da Câmara:
1. Laudo Necroscópico de cada pessoa em situação de rua, elaborado pelo IML, incluindo croquis (infografias) e radiografias;
2. Fotografias originais e/ou digitalizadas da perinecroscopia e do procedimento de abertura de cavidades e de achados, de cada um dos corpos, especial atenção deve se dar às fotografias dos punhos; orelhas, têmporas, palma das mãos e sola dos pés;
3. Laudo de exames de locais de morte violenta de todos os casos citados incluindo fotografias originais e/ou digitalizadas e resultados de exames complementares;
4. Boletim médico-hospitalar ou prontuário médico-hospitalar das vítimas que eventualmente foram atendidas em hospitais públicos e/ou privados, quer com vida, quer já mortas;
5. Cópias de inteiro teor dos Inquéritos Policiais relativo a cada uma das mortes de pessoas em situação de rua;
6. Recomende ao Diretor Geral da Polícia Civil para que nos Inquéritos Policiais seja observada o uso da terminologia apropriada da política nacional para a população de rua, ao invés da expressão do senso comum “morador de rua”.
‘MP JÁ ATUA’
Em resposta ao Diário do Poder, o Ministério Público de Alagoas disse que já foram tomadas providências antes do requerimento da Câmara dos Deputados. Mas apesar de apontar o abandono que os poderes em todas as esferas e a própria sociedade relegam à população de rua, não avaliou se considera satisfatório o relatório das investigações.
O chefe do MPE/AL garante que a instituição está com atuação efetiva na cobrança das respostas às autoridades responsáveis pelas investigações. Além disso, o MP atua no controle externo efetivo das polícias por meio de todos os promotores de justiça de Alagoas com essa atribuição, seja acompanhando investigações, realizando inspeções ou requisitando documentos.
Para o MPE/AL, a violência aos moradores de rua é uma temática que ultrapassa o âmbito da Justiça Criminal e revela o abandono que os poderes em todas as esferas e a própria sociedade relegam a essa classe de desfavorecidos.”