Anvisa pede fim dos cruzeiros e se omite sobre superlotação de aviões, ônibus, metrô e trens

Navios viraram bode expiatório da incompetência da agência reguladora

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou nesta quarta-feira (12) a suspensão definitiva da temporada de navios de cruzeiro no Brasil, após verificação o “aumento exponencial” de casos de covid-19 principalmente entre os tripulantes.

A recomendação para proibir cruzeiros marítimos foi encaminhada ao Ministério da Saúde e à Casa Civil, “com fundamento no princípio da precaução”, mas a Anvisa não se utiliza do mesmo argumento para outros tipos de transporte sob risco ainda maior.

A Anvisa não parece estar preocupada, por exemplo, com as viagens aéreas em voos superlotados e sem qualquer fiscalização da própria agência reguladora, nem mesmo após o cancelamento de centenas de viagens somente esta semana, em razão do aumento exponencial de contaminação de tripulantes por covid.

A Anvisa também não parece preocupada com a aglomeração compulsória das populações mais pobres de centros urbanos, que diariamente são obrigadas a utilizar transporte público superlotado, seja por ônibus, metrô ou trem.

O problema, para a Anvisa, são viagens de cruzeiro marítimo, talvez porque os seus burocratas não gostem de quem se utiliza dessa forma de passeio turístico, apesar de os navios jamais navegarem superlotados e terem histórico de obediência rigorosa aos protocolos sanitários, sobretudo de combate à covid.

No último dia de 2021, a agência havia recomendado a suspensão provisória da temporada de cruzeiros, após um navio, o MSC Splendida, atracado no Porto de Santos (SP) e o navio Costa Diadema, em Salvador, interromperam as atividades devido a casos de covid-19 a bordo.

“A Anvisa entende que o cenário atual é desfavorável à continuidade das operações dos navios de cruzeiro. Nesse sentido, com fundamento no princípio da precaução e a partir de todos os dados disponíveis, recomendou a suspensão definitiva da temporada de navios de cruzeiro no Brasil, como ação necessária à proteção da saúde da população”, informou a agência em nota.

A Anvisa não fez qualquer referência às viagens aéreas, apesar o surto de covid em tripulações, e nem muito menos fez qualquer recomendação quanto ao transporte público por ônibus, metrô ou trem.