Santa Casa de Maceió despeja Instituto de cardiologia referência nacional no SUS

Instituto é despejado, após fazer 40 transplantes e operar mais de 20 mil alagoanos pobres

O cardiologista e ex-vice-governador de Alagoas, José Wanderley Neto, divulgou nesta quarta-feira (13), um vídeo em que lamenta que a Santa Casa de Misericórdia de Maceió esteja despejando o Instituto de Doenças do Coração de suas dependências, após quase quatro décadas de serviços prestados aos alagoanos, pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A decisão é atribuída ao provedor da Santa Casa de Maceió, Humberto Gomes de Mello.

No vídeo, Wanderley Neto destaca que o Instituto de Doenças do Coração da Santa Casa realizou 40 transplantes cardiológicos, operou mais de 20 mil alagoanos e formou mais de 80 cardiologistas que prestam serviço à população pobre de Alagoas.

A reportagem apurou que o desmonte do Instituto de Doenças do Coração pela entidade filantrópica avançou paulatinamente, com a orientação da Santa Casa para diminuir cirurgias do SUS. Há cerca de três anos, o centro cirúrgico foi fechado, e o instituto foi resistindo, mesmo com a determinação para que houvesse apenas uma cirurgia semanal. E, agora, há cerca de dois meses, o Instituto foi “convidado” a desocupar as salas onde funcionava, pela Santa Casa.

Enquanto os alagoanos desafiam a sobrevivência à espera pela sua vez na fila de espera SUS por uma cirurgia cardiológica, um dos cirurgiões mais respeitados do Brasil foi despejado por uma entidade filantrópica conveniada ao SUS.

“Infelizmente, a Santa Casa vai dar outra destinação para isso aqui, e nós estamos arrumando aqui as coisas. Estamos sendo despejados. É um sentimento de perda, né? Porque a Santa casa tem 160 anos e estou aqui, se contar com a época de faculdade e tudo, há mais de 45 anos. Mas a Santa Casa permanece. Os dirigentes passam e essas coisas, depois, serão reparadas”, disse o cardiologista que chefiou a equipe médica do instituto durante anos.

Assista:

Pedido de socorro

Wanderley Neto não divulgaria hoje o vídeo, que viralizou nas redes, após ter enviado a algumas pessoas. Mas confirmou ao Diário do Poder que pede socorro à sociedade alagoana, para que reaja. Ele apela à mobilização da sociedade civil e do poder público por uma nova estrutura para garantir os atendimentos que deixaram de ser feitos sem custos aos pacientes, na Santa Casa.

O Instituto de Doenças do Coração mantinha, na Santa Casa, cerca de cem profissionais habilitados nas atividades médica, de assistência social, enfermagem, psicológica e administrativa. A equipe atendia cerca de mais de cem pessoas por dia, em condições de infraestrutura equivalentes aos melhores centros cardiológicos da região, com controle da homodinâmica e UTI no centro cirúrgico, por exemplo.

O Diário do Poder entrou em contato com a assessoria de imprensa da Santa Casa, para saber qual a explicação de seu provedor Humberto Gomes de Mello para a decisão de despejar o instituto que prestava serviço à população mais pobre, via SUS, para priorizar atendimentos particulares e através de convênios e planos de saúde. E aguarda seu posicionamento, prometido para a manhã desta quinta-feira (14).