Primeiro julgamento

Supremo valida decisão de Cunha sobre ordem de votação no impeachment

Serão chamados a votar bancadas do Norte e Sul, alternadamente

acessibilidade:

A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu que a votação do impeachment da presidente Dilma Rousseff no plenário da Câmara deve seguir o previsto no regimento interno da Casa, com chamada alternada de deputados de Estados do Norte e, posteriormente, do Sul do País. Com isso, fica validada a determinação desta tarde do presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para a votação do impedimento da petista, agendada para o próximo domingo. 

Em sessão confusa, seis ministros votaram pelo indeferimento de uma ação direta de inconstitucionalidade proposta pelo PC do B na qual o partido questionava a ordem de votação estabelecida por Cunha. O voto inicial nesse sentido foi do ministro Teori Zavascki, seguido pelos ministros Luiz Fux, Rosa Weber, Cármen Lúcia, Gilmar Mendes e Celso de Mello. A decisão nessa linha considerou que não cabe interferência da Corte nesse debate e que não há nenhuma violação à Constituição no texto do regimento da Câmara.

Ministro Marco Aurélio outra vez foi voto vencido.O ministro Luiz Fux disse que não cabe ao STF "ditar regras de como deve se comportar o parlamento". "Isso representa uma verdadeira antítese à cláusula pétrea da separação dos poderes", afirmou Fux.

Os ministros ainda devem discutir na noite desta quinta-feira mandados de segurança propostos por parlamentares, que também discutem do tema da ordem de votação. Nessas ações, os ministros analisam o ato concreto de Cunha e podem mudar algumas das definições do peemedebista. Na ação do PCdoB, uma ação direta de inconstitucionalidade, eles discutiram apenas a interpretação do regimento da Câmara confrontado com a Constituição.

Além disso, os ministros precisam se debruçar sobre o recurso da Advocacia-Geral da União (AGU) que pede a suspensão da análise do impeachment de Dilma pelos deputados e a anulação do parecer do deputado Jovair Arantes (PTB-GO) a favor da admissibilidade da denúncia contra Dilma.

Inicialmente, Cunha pretendia iniciar a votação por todos os Estados da Região Sul. Para o Planalto, a ordem estabelecida a princípio por Cunha era vista como prejudicial, pois pode influenciar os deputados indecisos a votarem a favor do impeachment, uma vez que os Estados do Sul têm maior adesão ao afastamento da presidente. Nesta quinta-feira, já depois da interposição das ações no STF, Cunha recuou e informou que a votação seria alternada entre os Estados, começando pela Região Norte. Dentro do bloco estadual, a chamada será feita, segundo Cunha, por ordem alfabética.

Ministro Gilmar Mendes: voto contundente.Discussão

Um dos ministros mais críticos ao governo, Gilmar Mendes defendeu que a ordem de votação do impeachment era um ato interna corporis da Câmara, ou seja, que não caberia ao Supremo se intrometer nesse caso. Durante a sessão, Gilmar foi irônico e disse que o problema da presidente não era a ordem da votação, mas sim a falta de votos contra o impeachment. "Se o sujeito vai definir sua opinião a respeito do voto na hora, então estamos muito mal de representantes", disse.

O ministro criticou os colegas e sugeriu que havia integrantes da Corte que estavam tentando favorecer a presidente. "Se houver falta de votos, não há intervenção judicial que salve", afirmou.

Os quatro primeiros votos da sessão foram divergentes. A maioria só passou a se formar após a análise de Teori. Antes, o relator, ministro Marco Aurélio Mello votou por atender o pedido do PC do B e adotar a votação nominal dos deputados e por ordem alfabética. 

O ministro Luiz Edson Fachin sugeriu outro entendimento: a alternância entre Norte e Sul por deputado – e não por bancadas estaduais, como propõe Cunha. Terceiro a votar, Luís Roberto Barroso levantou a terceira possibilidade, de manter a chamada do Norte para o Sul por Estados, mas com obediência à latitude das capitais. O debate sobre a latitude dos Estados foi levantado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Segundo ele, o critério só foi obedecido pelo presidente da Câmara em parte.

O presidente da Corte, Ricardo Lewandowski, seguiu o voto de Fachin. O único ausente na sessão, em razão de viagem oficial, foi o ministro Dias Toffoli.

Reportar Erro