Manual de guerra

Secretário do GDF pode ter ajudado invasores do hotel Torre Palace

PM apreendeu instruções de 'combate' para invasores do hotel

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A invasão de manifestantes do Movimento de Resistência Popular (MRP) ao abandonado hotel Torre Palace, no centro de Brasília, pode ter contado com a ajuda de um importante integrante do Governo do Distrito Federal. No quinto e último dia de desocupação do hotel, após longos nove meses invadido, a polícia encontrou um caderno do subsecretário de Movimentos Sociais e Participação Popular da Casa Civil, Acilino Ribeiro, autografado, com o título "Estratégia e tática da luta revolucionária". O Diário do Poder teve acesso exclusivo ao 'manual' apreendido.

O livro mostra estratégias de guerrilha durante a vida de Ribeiro, um dos principais líderes da esquerda brasileira. Com o material, um pouco sujo, porém intacto, os invasores teriam aprendido como resistir e desobedecer ordens de desocupar o prédio e combater as autoridades. Até agosto do ano passado, Ribeiro, que também é irmão do deputado distrital Raimundo Ribeiro, trabalhava no Palácio do Buriti ao lado de Rodrigo Rollemberg.

A polícia encontrou o caderno em um dos andares em que os invasores ocupavam conhecido como "QG do MRP", por se tratar do local onde eram tomadas as decisões. Ele estava bem guardado e parece que foi um presente recente. "Só tem moral para construir o futuro quem teve coragem de lutar no passado", diz uma das frases na capa.

Parte importante do GDF, Acilino Ribeiro é advogado, tendo se formado na década de 1970 pela UDF, professor universitário. Integrante da direção do PSB no DF, secretário nacional de Relações Internacionais e Políticas Estratégicas do MPS, um dos mais fortes segmentos sociais do Partido Socialista Brasileiro, é também considerado um dos melhores quadros da própria esquerda do Governo Rollemberg.

Ex-guerrilheiro e combativo líder revolucionário nos anos de chumbo contra a ditadura, Acilino Ribeiro atuou no movimento estudantil onde foi dirigente do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e do Movimento Revolucionário 8 de outubro (MR8). Também foi o principal dirigente político e Comandante Militar do minúsculo, mas radical, grupo guerrilheiro Movimento dos Comitês Revolucionários, de tendência kadafista nas décadas de 1970 e 1980, tendo se tornado o lendário Comandante Mercúrio, da Operação Galáxia, criada por Kadafi para enfrentar a Operação Condor. Acilino também teria sido segurança de Kadafi, ex-ditador da Líbia, em 1989.

Resistência

Durante os nove meses de invasão ao Torre Palace houve casos de tráfico de drogas e até mortes dentro das dependências do hotel. Em 12 de março um homem foi morto a facadas por outro invasor. No mês seguinte, outro homem foi encontrado morto em frente ao hotel. À época, a suspeita foi de que ele teria sido empurrado do último andar. Invasores que faziam tráfico de drogas, com crianças por perto, viviam livremente. Os invasores também tá atiraram contra policiais.

Em 22 de março, a Justiça deu 20 dias para donos do Torre Palace retirarem invasores. Mas a ordem não foi cumprida e os manifestantes continuaram instalados no hotel que já foi o mais luxuoso de Brasília.

Defesa

Por meio de nota, a Casa Civil do DF, órgão do qual o subsecretário faz parte, informou que o ex-guerrilheiro repudia utilizar crianças e idosos no enfrentamento com as forças de segurança. "Há passagens no livro onde Acilino enfatiza a não violência fazendo apologia a luta pacifista", disse.

Entre as atribuições de Acilino Ribeiro, no governo do DF, a Casa Civil disse que estão o diálogo com os diversos movimentos sociais e a coordenação da política de participação popular e controle social no processo de fortalecimento da democracia e cidadania. "Na desocupação do Torre Palace, Acilino apenas prestou apoio pelo cargo que ocupa no governo", completa um trecho da nota.

A Agência de Fiscalizaão (Agefis), por sua vez, explicou que está apreendendo todo o material de valor deixado no hotel. "Os documentos pessoais, como certidão de nascimento, casamento e carteiras de identidade, serão devolvidos para os seus donos, após identificação, sem cobrança dos custos", disse, por e-mail.

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