Resgate do senador

Saboia decide 'virar a página' e buscar reparação na Justiça

Ele voltou a trabalhar, agora no Senado,

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O diplomata Eduardo Saboia, que foi punido com suspensão de vinte dias por fazer o que tinha de ser feito, salvando a vida de um senador de oposição asilado na embaixada do Brasil em La Paz, decidiu fazer uma espécie de “voto de silêncio” sobre o assunto, tocar a vida, e anunciou que vai buscar na Justiça a reparação para os danos sofridos.

Em mensagem postada na sua página no Facebook, Saboia agradece a todas as manifestações de apoio e amizade, mas comunica que, a partir de agora. pretende manter “um silêncio obsequioso no Facebook sobre certos assuntos” E ainda avisa:

– Não se espantem se farei menos "curtidas". Espero que compreendam meus motivos. 

O diplomata, que é ministro de segunda classe da carreira e um dos profissionais mais admirados do Itamaraty, informa também em sua mensagem que tomou posse como assistente da Comissão de Relações Exteriores do Senado (CRE), agradecendo a seu presidente, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) pelo convite, que considerou honroso. “Minha gratidão se estende também aos demais parlamentares que me acolheram no momento difícil que atravessei e a políticos honrados que já nos deixaram, como o saudoso governador Eduardo Campos e o ministro Paulo Brossard”, afirma Saboia.

Ele também faz um agradecimento especial ao senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), ex-presidente da CRE, “por não ter permanecido indiferente diante do que viu na Bolívia, quando lá esteve em 2013.”
Eduardo Saboia afirma o desejo, “de todo coração”, de virar esta página. “Mas, para que haja verdadeira paz, é preciso acabar com o sofrimento de outras pessoas que estão sendo injustiçadas. Confio que esforços serão feitos nesse sentido por pessoas de bem. Sei que as há em todo o espectro político deste País,” afirma.

Atitude heróica

Saboia era encarregado de negócios (embaixador interino) do Brasil em La Paz e conviveu por 455 dias com o drama vivido pelo senador Roger Pinto Molina, que, perseguido pelo cocaleiro Evo Morales, semi-ditador da Bolívia, asilou-se na embaixada. O asilo irritou o Palácio do Planalto, aliado de Morales, e levou o Itamaraty a dar ordens destinadas a tornar o asilo de Molina um inferno, além de não fazer gestões para que o governo local expedisse salvo-cobduto para que o asilado, sob a proteção do governo brasileiro, pudesse deixar o país em segurança. O ex-ministro Antonio Patriota chegou a ordenar que fossem confiscados celular e computador de Molina, além de ordenar que ele fosse confinado a um cubículo debaixo da escada da casa onde funciona a embaixada. Aos poucos, Molina foi se deprimindo e Saboia passou a temer uma tragédia. Foi quando decidiu auxiliar Molina a fugir para o Brasil. O caso estava sob "banho-maria" desde agosto de 2013, até que na sexta-feira (10) o Itamaraty escreveu uma das páginas mais vergionhosas e constrangedoras da sua hstória, anunciando a decisão de punir o diplomata-herói com suspensão de vinte dias.

– Aprendi muito com este episódio – diz Saboia em sua mensagem no Facebook, nesta quarta – Estou em paz com a minha consciência. Mas quero olhar para frente e enfrentar novos desafios profissionais. O resgate do senador boliviano não me define como pessoa ou profissional. Não sou diplomata “de uma nota só”.

Ao final da sua mensagem, Saboia se dirige aos colegas e informa que vai à Justiça buscar reparação pela punição que sofreu, por considerá-la injusta: “Meu apreço pela maioria dos meus colegas do Itamaraty permanece inabalado. Compreendo as circunstâncias em que se dá esta punição, mas, ainda assim, a considero injusta e inconsistente com os princípios do Estado Democrático de Direito e com a tradição da diplomacia brasileira. Não guardo ressentimentos, mas buscarei – com a ajuda do meu advogado e amigo Ophir Cavalcante Jr. – fazer o que é correto e no tempo certo para reparar o dano que me foi causado”.

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