GESTÃO ENVIESADA

Renan Filho culpa imprensa por caos na saúde e gastos suspeitos

Falta seringa em hospital, mas Saúde tem persiana de R$ 29 mil

acessibilidade:

À frente de um governo acuado pela Operação Correlatos, deflagrada este mês pela Polícia Federal, o governador de Alagoas Renan Filho (PMDB) minimizou o absurdo e permanente desabastecimento no Hospital Geral do Estado (HGE) e culpou a imprensa por “enviesar o pensamento do cidadão”, ao expor que seu governo bancou reforma de R$ 178 mil no mobiliário da Secretaria da Saúde, com persiana de R$ 29 mil, no mês passado, enquanto falta tudo no maior hospital do Estado.

Renan Filho é responsável pela gestão de R$ 180 milhões dos R$ 237 milhões de gastos suspeitos com medicamentos e insumos. Mas apesar de dizer que defende e contribui com a PF, na apuração dessas ilegalidades, vê como problema a ampla divulgação do desabastecimento no maior hospital de Alagoas e dos gastos suspeitos na pasta da Saúde, tratados em reportagem do Fantástico, no último domingo (27).

A Secretaria da Saúde do governo de Renan Filho permite que o maior hospital de emergência de Alagoas seja cenário constante de guerra, onde sobram pacientes agonizando nos corredores do HGE, e faltam gaze, luvas e material básico para atendimento. Mas o governador quis comparar as contradições do financiamento da estrutura necessária ao serviço público essencial do atendimento à saúde, com as estruturas das redações de órgãos de imprensa de Alagoas.

“As compras da área meio em saúde são infinitamente inferiores às compras da área fim. Esses R$ 29 mil da persiana não representam 0,1% da despesa. Essa forma da imprensa ver as coisas enviesa o pensamento do cidadão. Na sala onde você trabalha também tem uma cortina e você nunca perguntou quanto custa. Você deveria perguntar ao seu chefe, que ele vai te falar. As organizações em Alagoas têm excelentes prédios para a imprensa trabalhar. A Secretaria de Saúde tem que ser em péssima condição?”, reagiu Renan Filho, ao ser questionado pela imprensa, na segunda-feira (28).

A fala do delegado chefe do Núcleo de Inteligência da PF, Antônio Carvalho, ao Fantástico, lembra o que realmente deveria importar. "Parece até brincadeira, mas o Estado foi incapaz de prever a necessidade de comprar de sutura e gaze para o HGE, o maior hospital do Estado de Alagoas".

LUXO ÀS CUSTAS DO CAOS

Christian Teixeira ressaltou legalidade e necessidade de persianaDe acordo com o Portal da Transparência do Governo de Alagoas, custou R$ 1.224,00 por metro quadrado da persiana adquirida para ser instalada nos vidros duplos da sede da Secretaria Estadual de Saúde do Estado de Alagoas (Sesau). Foram adquiridos 24,22 metros quadrados, ao custo total de R$ 29.645,28, à empresa Caderode Móveis para Escritório LTDA.

"Esses gastos por você aqui mencionados são necessários. Nós estamos andando dentro da legalidade, comprando os materiais, sejam eles quais forem, dentro da legalidade", justificou o secretário Christian Teixeira, na matéria do Fantástico.

"A saúde de uma maneira geral se encontra numa UTI. O MP já entrou com as medidas necessárias e espera que a gestão e os governantes também aotem as suas medidas necessárias para resolver a questão", disse a promotora de Justiça Micheline Tenório.

Entre os anos de 2015 e 2016, a metade do governo de Renan Filho, a PF e a Controladoria Geral da União (CGU) encontrou indícios de fraudes a licitações e fracionamento ilegal em um montante de R$ 180 milhões de compras medicamentos e insumos, pela Sesau.

A ex-secretária de Saúde do governo de Renan Filho, Rozangela Wyszomirka, atual reitora da Uncisal, foi conduzida coercitivamente pela PF, na Operação Correlatos, para explicar indícios de crimes, como fracionamento de até dez compras de medicamentos, em um só dia, com valores propositalmente abaixo de R$ 8 mil, burlando a Lei de Licitações. Ela nega ter cometido qualquer ato indecoroso ou negociado propina ou qualquer tido de vantagem.

A Operação Correlatos é um desdobramento da série de reportagens do Diário do Poder que inspiraram a PF a deflagrar a Operação Sucupira, que investigou favorecimento e ingresso irregulares de assessores do governo de Renan Filho no curso de Mestrado Profissional em Administração Pública (Profiap) da Universidade Federal de Alagoas (Ufal).

Reportar Erro