Projeto promove atividades físicas para pessoas com diabetes e dislipidemias

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Aulas de corrida e caminhada ocorrem na pista de atletismo da Esefid - Foto: Gustavo Diehl/UFRGS

A prática de exercícios físicos é amplamente recomendada para pessoas com diabetes ou dislipidemias (grupo de distúrbios relacionados ao aumento de gordura no sangue, incluindo a elevação do colesterol e dos triglicerídeos). Além de colaborar para a perda de peso, a prevenção da obesidade e o reforço da musculatura, as atividades físicas podem ajudar a controlar o nível de glicose, a moderar a concentração dos triglicerídeos e do colesterol e a diminuir a resistência à insulina, entre outros benefícios. É importante ressaltar, contudo, que os exercícios não são todos iguais, e as pessoas costumam responder de forma diversa a cada tipo de treinamento. Mesmo a recomendação de 150 minutos semanais de atividades, por si só, não garante o alcance dos objetivos pretendidos. A intensidade do treino, sua modalidade e mesmo o meio em que é praticado (na rua ou na piscina, por exemplo) são determinantes para um bom resultado.

Visando estudar – e ofertar – os exercícios mais eficazes para o controle da diabetes tipo 2 e das dislipidemias e contribuir para a melhora da qualidade de vida dos que vivem com essas doenças, um grupo da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Dança (Esefid) da UFRGS promove projetos de pesquisa e extensão. Além de aulas de corrida e caminhada abertas à comunidade, pesquisas diversas analisam os benefícios de diferentes modalidades de treinamento, terrestres e aquáticos, em uma série de parâmetros fisiológicos.

O projeto de extensão está em seu terceiro ano de funcionamento, mas as pesquisas específicas com essa população começaram há aproximadamente 10 anos, conforme conta o coordenador das atividades, Luiz Fernando Kruel. “Primeiro saiu um TCC de graduação, depois saíram duas dissertações de mestrado, depois duas teses de doutorado… Aí, quando nós estávamos nas teses de doutorado, vimos que já tínhamos um bom domínio de como colocar um serviço para atender bem o público”, comenta.

 

Dinâmica do projeto

Cerca 20 pessoas frequentam, atualmente, as aulas de corrida e caminhada que ocorrem na pista de atletismo da Esefid. O programa é exclusivo para diabéticos tipo 2 e dislipidêmicos. O primeiro passo para a participar das atividades é uma entrevista dos interessados, que devem levar seus exames anteriores, com a equipe do projeto. Na sequência, é realizado um eletrocardiograma de esforço. “Com essa avaliação, a gente vê se eles não têm junto um problema cardíaco e como é que nós vamos tratar eles nos outros testes de esforço”, explica Kruel.

“Então, a gente passa por um período chamado de pré-treinamento, de 4 a 8 semanas, para eles poderem pegar um ritmo, já que normalmente são sedentários, e poderem participar de uma bateria de outros testes que nós vamos fazer”, afirma o professor. Os exames seguintes têm o objetivo de estabelecer a capacidade física dos participantes, de modo a prescrever o melhor treinamento para cada um. “É um trabalho totalmente individualizado. Esse serviço que a gente montou é o que tem de melhor no primeiro mundo para fazer a prescrição. Tanto é que esses trabalhos nossos, essas teses, estão servindo de referência para o pessoal refazer os modelos de treinamento no resto do mundo”, enfatiza Kruel.

A partir daqueles testes, são definidos dois protocolos de treino: um contínuo, com 45 minutos de atividades numa mesma frequência cardíaca; e um intervalado, no qual se alterna a intensidade dos exercícios ao longo do período de treino. Cada participante experimenta os dois protocolos – um em cada dia –, a fim de verificar a qual deles é mais responsivo. No caso de um diabético, por exemplo, observa-se após qual mais caiu a glicemia, e esse será o protocolo prescrito para as aulas seguintes.

coleta de sangue

Participantes do projeto passam por exames de sangue periódicos – Foto: Gustavo Diehl/UFRGS

“No momento em que a gente determina o protocolo de treino, atualmente ele vem no nosso laboratório, nós coletamos sangue – tudo incluído no preço que eles pagam –, ele faz uma bateria completa de exames de sangue e passa a treinar por 16 semanas. 16 semanas depois, a gente o reavalia, testa dois outros protocolos, porque eles estão num nível de condicionamento físico mais alto, refaz toda a bateria de exames de sangue, e passa a treinar por mais 16 semanas”, relata o pesquisador.

Além desses macrociclos de 16 semanas, a cada quatro semanas os alunos aumentam a carga de atividade e, a cada oito, fazem uma reavaliação do protocolo de treino. A atualização do treinamento é essencial para manter sua eficácia, uma vez que o condicionamento físico dos alunos tende a sofrer alterações ao longo do tempo. “Para o exercício realmente ter efeito, ele tem que estar sempre sendo reavaliado e tendo progressão de treino. Vários estudos do nosso e de outros grupos têm mostrado que, quando tu não tens progressão de treino, a melhora é mínima. Tu tens uma melhora inicial, e depois seu corpo se adapta àquela carga, e aí tu passas a não melhorar”, explica Kruel. “O que a gente procura fazer no nosso projeto é prescrever da forma mais científica possível, de acordo com a literatura mundial, para que o aluno trabalhe numa dose correta e com um volume correto de treino”, complementa.

 

Saúde e qualidade de vida melhores

Além da avaliação do condicionamento físico e dos exames de sangue periódicos, os pesquisadores também aplicam questionários para verificar se há melhoras no nível de qualidade de vida dos participantes. Para Kruel, de forma geral, os resultados têm sido bastante positivos. É importante ressaltar, contudo, que as patologias são multifatoriais. O exercício físico, quando feito na medida adequada, pode ajudar muito os pacientes, mas, se não trocarem outros hábitos, como a alimentação, ou se não tomarem corretamente a medicação, a melhora fica comprometida.

Os benefícios das caminhadas são sentidos no dia a dia por Pedro Paulo Andrade de Araújo, aluno do projeto de extensão desde o seu início. “Depois que termina a aula, a gente se sente muito bem. Mas o melhor é quando tem que sair, atravessar a rua. Tenho 74 anos e a perna boa, firme, capaz de competir com os mais jovens. Além disso, tem o convívio extra: estar no meio da meninada é tudo de bom”, afirma.

Ele, que foi encaminhado para o projeto por uma empresa que prestava atendimento de saúde domiciliar para a Associação dos Aposentados da CRT, diz que sempre gostou de se movimentar. “Antes, caminhava de forma desorganizada, mas sempre tive vontade de fazer uma coisa mais organizada. E, olha, gostei muito. Isso aqui é genial. Melhor não tem. Aqui no Rio Grande, pelo menos, eu não conheço”, enfatiza.

 

Atividades na água

Além das atividades terrestres, o grupo também realiza uma série de pesquisas relacionadas a exercícios na piscina, como a hidroginástica e o jogging aquático (também chamada de deep water, a atividade consiste na corrida ou na caminhada em piscina funda com uso de um cinturão flutuador). “Inclusive, num primeiro momento, a nossa ideia era fazer atividade física para esse público dentro da água por vários motivos. E nosso grupo de pesquisa originalmente era para trabalhar só com água”, conta Kruel, que decidiu pela implantação do projeto de extensão na pista de atletismo pela falta de disponibilidade de horários na piscina da Esefid na época. Para o próximo semestre, contudo, há a previsão da oferta de um novo projeto, voltado ao mesmo público-alvo, com atividades físicas aquáticas.

Os exercícios na água têm uma série de vantagens adicionais, como a redução do impacto sobre as articulações e o desencadeamento de alterações fisiológicas e hormonais bastante benéficas, especialmente para diabéticos, dislipidêmicos e hipertensos. Em decorrência da pressão hidrostática, aumenta o volume de sangue que vai para o coração e o pulmão, o que implica uma maior saturação de hemoglobina e um maior transporte de oxigênio, permitindo que a pessoa consiga suportar atividades com intensidades maiores do que seria capaz em terra.

Um exemplo desses benefícios vem da tese de doutorado de Rochelle Rocha Costa. Mulheres idosas dislipidêmicas foram divididas em três grupos: um que praticou hidroginástica de caráter aeróbico, outro que focou na hidroginástica de caráter de força e o grupo-controle, que realizou apenas sessões de relaxamento na água. Além dos vários efeitos positivos observados nos dois grupos que realizaram atividades físicas, mesmo as participantes do grupo-controle que também eram hipertensas tiveram diminuição da pressão arterial. Ou seja, só pela imersão já é possível obter algumas melhorias.

 

Como participar

As aulas de caminhada e corrida para pessoas com diabetes tipo 2 ou dislipidemias ocorrem na pista de atletismo da Esefid (Rua Felizardo, nº 750 – Jardim Botânico – Porto Alegre, RS) às segundas, quartas e sextas-feiras, com uma turma das 17h às 18h e outra das 18h às 19h. As inscrições para alunos novos reabrem a partir de março de 2019. A mensalidade é de 130 reais e inclui aulas e exames periódicos. Mais informações sobre as inscrições e o processo de triagem (necessário para a participação) podem ser conferidas no site da Esefid.

 

Texto: Camila Raposo

Foto: Gustavo Diehl/UFRGS

Fonte: UFRGS Ciência

 

Notícia publicada originalmente em www.brasilcti.com.br/pesquisa/projeto-promove-atividades-fisicas-para-pessoas-com-diabetes-e-dislipidemias/

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