Eleições 2018

Procurador, que pode disputar o Senado, desiste de pesquisa do MP de Alagoas

Políticos temem uso eleitoral em 'medição de satisfação'

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A publicação de um aviso de cotação para a contratação de empresa para realizar diagnóstico de imagem e pesquisa de opinião sobre “a satisfação da sociedade com a atuação do Ministério Público de Alagoas (MP/AL)” causou indignação na classe política do Estado, nesta segunda-feira (22). Mas a polêmica não teve nem tempo de romper o limite dos bastidores; e a seleção será suspensa, porque foi aberta menos de um mês após o procurador-geral de Justiça, Alfredo Gaspar de Mendonça, ter admitido que pensa em disputar uma das vagas do Senado, nas eleições de outubro deste ano.

A decisão de suspender a seleção foi tomada no mesmo momento em que o chefe do MP foi questionado pelo Diário do Poder, se considerava oportuna a contratação de pesquisa de opinião neste contexto em que ele avalia se disputa ou não uma eleição. O chefe do MP respondeu imediatamente que determinaria o adiamento da contratação da pesquisa para o projeto denominado “Ministério Público mais perto de você”, conduzido pela Assessoria de Comunicação Social do órgão ministerial de Alagoas.

Alfredo suspendeu a pesquisa. (Foto: Dárcio Monteiro/Gazeta de AL)“Eu nem estava por dentro desse contexto. Mas já vou dizer ao setor responsável para deixar essa pesquisa para depois da eleição. Ela é importante para o Ministério Público, mas pode esperar para acontecer lá em novembro, depois da eleição”, respondeu de imediato Alfredo Gaspar, que poderia ser acusado futuramente de abuso do poder, por suposto uso da pesquisa para evidenciar sua imagem, ligada diretamente à do MP.

O Aviso de Cotação foi assinado na última sexta-feira (19) por Diogo Lessa dos Santos Melo, do setor de compras da Procuradoria Geral de Justiça de Alagoas. E foi publicada na edição dessa segunda-feira do Diário Oficial do Estado de Alagoas.

Em mensagem de ano novo bancada com recursos próprios, Alfredo Gaspar exaltou seu empenho para combater a criminalidade e a corrupção, à frente do MP de Alagoas, desde janeiro de 2017. Na ocasião, disse ao Diário do Poder que decidiria "mais à frente" se seria candidato a senador.

Em sua gestão, já foram mais de dez operações contra a corrupção em nove municípios, e denúncias contra conselheiros do Tribunal de Contas de Alagoas e prisões e ações ajuizadas contra prefeitos. E o atual chefe do MP foi secretário de Segurança Pública no primeiro ano e três meses do governo de Renan Filho (PMDB, conquistando o mérito pela redução histórica de 17,6% nas mortes violentas decorrentes de crimes em Alagoas, em 2015.

'PROJETO É TÉCNICO'

A diretora de Comunicação do MP, jornalista Janaína Ribeiro, lamentou o fato de o projeto ter sido suspenso, ao garantir que a pesquisa não teria qualquer relação com a imagem pessoal do procurador-geral, e estava pronto desde o ano de 2017, esperando dotação orçamentária para ser posto em prática.

“Nosso projeto é técnico, um trabalho da Assessoria de Comunicação do Ministério Público que foi produzido ao longo de seis meses. Teria relação direta com os 162 membros. Porque iríamos ao interior saber se o morador daquela cidade conhece o promotor que trabalha lá. A pesquisa nem teria o resultado pronto, caso ele vá disputar a eleição. Dr. Alfredo já estaria afastado e, portanto, nada teria de relação com o que fôssemos fazer. Só sinto por um projeto que está pronto há tanto tempo, não poder ser colocado em prática por causa disso”, lamentou Janaína Ribeiro.

Ela explicou ainda que nenhum trabalho de pesquisa desta natureza havia sido realizado nos últimos cinco anos. Mas esclareceu que a ideia teve como base uma pesquisa feita em 2017 pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), que contratou uma empresa para aferir essa percepção da população. A mesma coisa fez o Tribunal Regional do Trabalho do Rio Grande do Sul.

“A gente se baseou nesses resultados que foram muito importantes para essas duas instituições analisarem seu processo de comunicação”, concluiu a diretora da Comunicação do MP de Alagoas.

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