Principal afilhado de Renan em Alagoas vai trocar PMDB pelo PTN
Derrotado em Maceió e inelegível, Ciço abandona Renan em crise
Menos de seis meses após ser derrotado na disputa pela Prefeitura de Maceió, com apoios “de peso” do então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e do governador de Alagoas, Renan Filho (PMDB), o deputado federal Cícero Almeida, o Ciço (PMDB-AL), decidiu trocar mais uma vez de partido e ingressar no PTN. O ex-prefeito da capital alagoana deve ingressar em sua 9ª sigla partidária ao longo de sua carreira política de 17 anos, com a promessa do Planalto de indicar a Superintendência Estadual da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), em Alagoas.
A decisão de Almeida de pular fora do PMDB dos Calheiros acontece justamente no momento em que o senador Renan e, consequentemente, seu filho governador passam por um momento crítico na avaliação perante o eleitorado e a opinião pública. Ainda mais quando apareceram, pai e filho, na lista de alvos de novos inquéritos abertos no início deste mês de abril pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin.
Mas a nova pulada de galho partidário de Ciço, já comunicada ao seu padrinho Renan Calheiros, surpreende porque contraria a previsão feita pelo seu algoz da última eleição. No debate do 2ª turno, o prefeito reeleito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), "profetizou" que nem telefonema de Ciço o senador do PMDB atenderia, após sua derrota. Disse que o deputado estava sendo usado e seria “desprezado, cheio de processos nas costas, cheio de dívida”.
Mas foi Ciço quem desprezou Renan, em busca do tão sonhado comando estadual de um partido. E outro fator surpreendente desse fato é que tudo isso acontece, apesar de o deputado federal ter ficado inelegível no mês seguinte à sua derrota para o prefeito tucano em 2016. Em novembro, o Tribunal de Justiça de Alagoas condenou o peemedebista a ressarcir R$ 195 mil aos cofres públicos, por ter feito empréstimos ilegais avalizados e pagos com recursos da Assembleia Legislativa de Alagoas, descobertos pelas investigações da Operação Taturana, deflagrada em 2007.
MANTENDO APARÊNCIAS
Nos bastidores, Ciço quer manter as aparências de que não há um rompimento com Renan, nem com o Renan Filho, com quem protagonizou a singela cena dos rostos colados, durante o ato de filiação ao PMDB, em 18 de março de 2016. O deputado que deixará o PMDB sem um único representante na bancada alagoana da Câmara dos Deputados levou a presidente nacional do PTN, deputada federal paulista Renata Abreu para conversar com Renan, há cerca de duas semanas, já depois da abertura dos quatro novos inquéritos da Lava Jato contra o senador e dos dois primeiros contra seu filho governador.
Mas, na realidade, nem Ciço apresenta mais o potencial de votos desejado pelo padrinho; nem Renan tem condições de oferecer garantias de poder político como imaginava ter seu afilhado. E, sem voto nem poder, acabou a liga na aliança.
SETE TROCAS EM CINCO ANOS
De cobrador de ônibus, taxista a repórter de programa policialesco “mundo cão”, Cícero Almeida foi eleito vereador de Maceió, em 2000, pelo PSL, com 7,6 mil votos; venceu para deputado estadual, em 2002, pelo PDT, com 27,8 mil votos. Em 2004, elegeu-se para o primeiro mandato de prefeito de Maceió, ainda pelo PDT, com 143,8 mil votos; tendo sido reeleito com votação recorde de 319,8 mil votos, pelo PP, depois de ter passado pelo PTB. Antes de terminar o 2º mandato, passou pelo PEN, pelo PSD e pelo PRTB, só em 2012.
Ciço responde a processo na Justiça Eleitoral por infidelidade partidária, por ter deixado, em 2015, o PRTB que o elegeu deputado federal em 2014, com a penúltima votação entre os eleitos, com 64,4 mil votos. Quando saiu do PRTB, ainda ingressou voltou ao PSD, antes de ser convidado a ingressar no PMDB, com a promessa de Renan de apoiá-lo para prefeito de Maceió. E foi derrotado no 2º turno por uma diferença de 20,5 pontos percentuais para Rui Palmeira.
Apesar do histórico de trocas de siglas partidárias, o deputado Ciço nunca teve o comando estadual de um partido em Alagoas. Porém, já em 2015, o deputado Ciço manteve o comand0 informal do PTN no Estado, apesar de mantê-lo sob as rédeas do cacique peemedebista Renan Calheiros.
O Diário do Poder apurou que somente será dado a Cícero Almeida o poder de indicar o comando da superintendência da Funasa em Alagoas, quando for oficializada sua filiação ao PTN. A mudança fará o senador Benedito de Lira (PP) perder a indicação de Domício Silva, atual superintendente da Funasa. O senador conhecido como Biu é rival de Renan e presidia o PP, quando o então prefeito Ciço era filiado à sigla e apoiou a reeleição do governador Teotonio Vilela Filho (PSDB), outro adversário do ex-presidente do Senado.
O deputado não foi localizado pela reportagem para comentar a mudança, que está certa para ocorrer, mas ainda sem data e local definidos.