Memória das trevas

Polícia apreende documentos sobre a ditadura na casa do coronel Malhães

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Equipes da Polícia Civil do Rio em conjunto com a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal no Rio de Janeiro cumpriram nesta segunda-feira (28) mandado de busca e apreensão na casa do coronel reformado do Exército Paulo Malhães, em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. O militar, que admitiu ter participado de atos de tortura na ditadura militar, foi morto na última sexta-feira (25), em seu sítio na zona rural de Nova Iguaçu.

Foram apreendidos três computadores, mídias digitais, agendas e documentos do período da ditadura. No último sábado (26), o juiz federal Anderson Santos da Silva autorizou a apreensão de documentos e mais provas na casa do militar que possam contribuir para o esclarecimento de crimes cometidos na ditadura militar.

Em depoimento à Comissão Nacional da Verdade, no final de março, Malhães revelou que agentes do Centro de Informações do Exército mutilavam corpos de vítimas da ditadura militar assassinadas na Casa da Morte, em Petrópolis, arrancando as arcadas dentárias e as pontas dos dedos para impedir a identificação, caso encontrados. Ele também deu sua versão sobre operação do Exército para o desaparecimento dos restos mortais do deputado federal Rubens Paiva.

Sobre a morte do militar, a polícia informou que três homens invadiram a casa do coronel, amarraram a mulher dele e o caseiro, e procuraram armas. Durante a ação dos criminosos, o militar foi morto. O caso está sendo investigado.

Retrato falado. A Polícia Civil do Rio já tem o retrato falado de dois dos três homens que invadiram, na quinta-feira passada, o sítio onde o coronel Paulo Malhães morava, na zona rural de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Os criminosos, no entanto, ainda não foram identificados. A Polícia também aguarda a conclusão do laudo cadavérico que apontará a verdadeira causa da morte do militar. Malhães confessou ter participado de torturas em presos políticos durante a ditadura militar.

Inicialmente, acreditava-se que o militar havia morrido por asfixia, no entanto, a guia de sepultamento apontou que ele teve complicações cardíacas. O laudo cadavérico do Instituto Médico Legal era esperado nesta segunda-feira, 28, na Divisão de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), porém o prazo oficial para conclusão é de até 30 dias após o crime. No sábado, os policiais fizeram uma perícia complementar minuciosa no sítio e colheram impressões digitais.

Ontem, duas filhas do militar, Karla e Ísis, prestaram novo depoimento para tentar identificar ex-funcionários do coronel e também possíveis desafetos. De acordo com o delegado da DHBF Marcus Castro, que atua junto com o delegado responsável pelo caso, William Pena Júnior, o militar foi descrito como um “homem problemático e de difícil trato social”.

Mesmo sem revelar o teor dos depoimentos prestados até o momento, Castro garantiu que nenhuma testemunha associou Malhães a grupos de extermínio ou milícias. O bairro Marapicu, onde o coronel morava com a mulher Cristina Batista Malhães, é disputado por facções rivais. “(Os depoimentos) das filhas vão nos ajudar a entender quem era a vítima, ver como eram os relacionamentos sociais com funcionários e vizinhos. Isso vai nos ajudar a identificar eventuais e possíveis ameaças contra a vida dele, seja para roubar ou para realmente executá-lo. De concreto (sobre o passado de Malhães) só temos as declarações dele na Comissão da Verdade (em março)”.

O delegado reafirmou que a principal linha de investigação é latrocínio, porém as hipóteses de homicídio por vingança e queima de arquivo ainda não foram descartadas. Além dos três homens que invadiram a casa, outros dois que apoiavam a fuga teriam sido vistos do lado de fora por uma testemunha. “Estamos na eminência de solucionar o caso? Não. Ainda estamos trabalhando, investigando. Checamos todas as informações que chegam até nós, seja pelo Disque Denúncia ou outro meio, para solucionar o caso o mais rápido possível”.

Sobre uma possível participação da Polícia Federal nas investigações, o delegado garantiu que “a DHBF é capaz de solucionar esse caso sozinha”. O delegado também disse estar aberto à participação oficial da Comissão da Verdade do Rio nas investigações. “Estamos abertos à participação de autoridades que nos levem a um denominador comum: a investigação, identificação e prisão de quem fez isso (matou Malhães)”.

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