Selic

Pela 6ª vez seguida, Banco Central mantém juros a 14,25%

Analistas esperam corte da taxa de juros no 2º semestre deste ano

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Mais do que a decisão amplamente esperada de manter a taxa básica Selic em 14,25% ao ano, o principal sinal que a diretoria do Banco Central deixou nesta quarta-feira, 27, no que pode ter sido o último encontro dos atuais membros no governo Dilma Rousseff, foi o de que um corte de juros está mais próximo, o que não ocorre há quase quatro anos. Essa interpretação se dá porque dois dos oito membros da cúpula do BC mudaram de posição no Comitê de Política Monetária (Copom).

Votando por uma alta da Selic desde novembro do ano passado, Sidnei Marques e Tony Volpon, desta vez, foram com a maioria pela permanência da taxa, que está no mesmo patamar desde julho do ano passado. A decisão, portanto, foi unânime pela primeira vez desde outubro. Com o congelamento da Selic pela sexta vez seguida, a taxa ficou agora estacionada pelo período mais longo desde 1999, quando o Brasil aderiu ao sistema de metas de inflação.

Num cenário cada vez mais claro de recessão econômica, de aumento de desemprego, de diminuição tanto da oferta quanto da demanda pelo crédito, a expectativa do mercado financeiro já era de que o BC passasse a promover reduções da Selic no segundo semestre. Agora, com a colaboração do dólar mais baixo e com essa mudança de Marques e Volpon, essas apostas tendem a ganhar força.

O comunicado que se seguiu à decisão trouxe que o "comitê reconhece os avanços na política de combate à inflação, em especial a contenção dos efeitos de segunda ordem de ajustes de preços relativos. No entanto, considera que o nível elevado da inflação em 12 meses e as expectativas de inflação distantes dos objetivos do regime de metas não oferecem espaço para flexibilização da política monetária".

No anterior, o BC citava as incertezas domésticas e, principalmente externas, para referendar a decisão, além de mencionar o cenário macroeconômico, as perspectivas para a inflação e o atual balanço de riscos. Antes do início da reunião, o BC teve acesso à avaliação de seu par americano, o Federal Reserve, de que o mercado de trabalho nos Estados Unidos melhorou, mas que a atividade seguiu em desaceleração. Em outras palavras, o Fed demonstrou não ter pressa para elevar os juros e sinalizou que uma alta das taxas deve acontecer somente no segundo semestre deste ano.

Até então, os dois diretores que votavam pela alta da Selic no Brasil mostravam-se preocupados com o nível elevado da inflação corrente e com o aumento das expectativas do mercado para o IPCA. Tanto o acumulado em 12 meses quanto a pesquisa semanal que o BC faz com os agentes financeiros revelam que a inflação prevista segue acima do teto que a instituição não pode deixar passar este ano, de 6,50%. Pelos cálculos da própria instituição, a tarefa ainda não está ganha, já que o IPCA deve subir 6,6% pelo cenário de referência ou 6,9%, considerando os parâmetros do mercado.

Não há dúvidas, porém, de que a alta dos preços perdeu a intensidade nos últimos dias. As expectativas para IPCA de 2016 no Relatório de Mercado Focus caíram 0,59 ponto porcentual entre a véspera da reunião do Copom de março e a de hoje, para 6,98%. No mesmo período, a previsão do grupo das instituições cujas projeções mais se aproximam da realidade, denominado Top 5, saiu de 7,95% para 6,66%, uma queda de 1,29 ponto porcentual. Em 12 meses, a inflação passou de 10,36% em fevereiro para 9,39% em março. Ainda nesse intervalo de tempo, a cotação do dólar cedeu de um patamar acima de R$ 3,90 para a casa de R$ 3,50. E provavelmente só não despencou mais porque o BC atuou no mercado várias vezes.

Detalhes sobre o que levou o colegiado a decidir pelo congelamento da taxa mais uma vez serão apresentados na ata que o BC divulgará na quinta-feira da semana que vem. O próximo encontro do Copom está previsto para os dias 7 e 8 de junho. Até lá, é possível que já esteja em ação um eventual governo Michel Temer, caso o impeachment da presidente Dilma Rousseff seja aprovado pelo Senado. Há grandes expectativas sobre mudanças na equipe econômica, o que deve incluir o BC. Portanto, mesmo os sinais dados agora pelo colegiado podem sofrer mudança de rota numa nova gestão do BC dentro de um novo governo. (AE)

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