Ouvidoria investiga acusação de assédio de subsecretário no DF
Ouvidoria do governo no DF vai apurar as denúncias de assédio sexual
Enquanto o governo do Distrito Federal tenta ignorar a denúncia de assédio sexual dentro da máquina pública, uma mulher sofre acuada a vergonha de ser tratada como um objeto sexual. Casada, mãe de cinco filhos, a assessora especial do subsecretário de Promoção de Igualdade Racial do Distrito Federal, Moredison Ramos Cordeiro, chora só de pensar em ter que vê-lo no trabalho. A Secretaria alega não ter “elementos” para afastar Moredison.
Ao Diário, a mulher negra, de 40 anos, corpo emoldurado contou o drama de ver seus traços serem vulgarizados pelo olhar de um homem incontido. ?Nada o dá o direito de me tratar com aquela falta de respeito?, contou com os olhos lacrimejados. O tratamento desrespeitoso interferiu na família e só não estremeceu o casamento porque diz ser construído em base sólida.
Quando se tornou assessora da Secretaria de Promoção Racial, a mulher já estava gestante da filha caçula. Ficou no trabalho por alguns meses e saiu para a licença maternidade. Tudo parecia correr bem. No entanto, no retorno às atividades, ela teve um imprevisto. Precisou lidar com um problema novo: o interesse inexplicável do chefe e as vulgaridades que começara a dizer para ela.
De início, pensou que conseguiria reverter a situação. Mudou o comportamento. Começou a agir com certa frieza. Evitava brincadeiras e risos. Logo, Moredison teria percebido e dito que ela não serviria mais para trabalhar lá, ?pois só andava de cara feia?. ?A cara feia era minha proteção?, conta já aos prantos. A mulher então se deu conta do tamanho do problema e pediu para trocar de sala.
?Era muito difícil denunciar e ver que as pessoas me olhavam como se eu fosse a culpada, eu tenho vergonha. Essa situação me maltrata muito?, relatou engasgada com as lágrimas. ?Eu vi o descaso dos secretários como se aquilo fosse uma coisa banal?, denunciou. Foi numa reunião só com mulheres negras que ela resolveu delatar tudo às colegas. Mas apesar de chocadas, nada mudou.
Cansada, a mulher procurou a Delegacia da Mulher na sexta passada e denunciou Moredison. ?Não tem cunho político, a denúncia é de uma mulher que não aguentava mais ser tratada daquela forma?, conta ela. O secretário de Comunicação do governo alega se tratar de denúncia recente e não quer comentar o caso.
O subsecretário Moredison repete estar surpreso com a alegação da mulher e nega as acusações. Já o secretário-adjunto procurado pela mulher na semana passada, José Alves, reconhece que ela pediu por duas vezes para trocar de setor, mas não teria justificado o motivo. A Ouvidoria do governo investiga o caso. O secretário alega não ter ainda elementos para afastar Moredison, mas garantiu que vai remanejá-la de setor. Enquanto isso, a vítima segue envergonhada, sem querer sair de casa ou voltar ao trabalho.