Odebrecht pagou marqueteiro de José Serra, diz delator
Pagamento para Luiz Gonzalez saiu da obra da Linha 2 do metrô
O delator Benedicto Júnior, ex-presidente da Construtora Norberto Odebrecht, entregou aos investigadores uma planilha na qual elenca as obras no estado de São Paulo em que houve pagamento de propina. Uma das obras, segundo o delator, é a Linha 2 do Metrô de onde teria saído um pagamento para a empresa GW Comunicação, do marqueteiro Luiz Gonzalez – responsável por campanhas do tucano José Serra (PSDB).
No documento entregue à Lava Jato, BJ não detalha a forma e os valores repassados à GW. O delator apenas informa que foram “localizados pagamentos para a empresa GW”. Mas em um relatório da Polícia Federal produzido com base no material apreendido em um HD de BJ, em uma das fases da Lava Jato, a PF transcreve uma troca de e-mail entre BJ, Marcelo Odebrecht e Fabio Gandolfo, então diretor da empreiteira em São Paulo.
Com o título de DGI, segundo a PF sigla utilizada para propina, a mensagem de 30 de agosto de 2004 aborda a programação de pagamento de R$ 2 milhões relacionados a obra da linha 2 do Metrô. “Segue programação L2 para o fim do mês – comunicação=GW – careca=amigo PN – I=R$ 2.000.000,00”, diz a mensagem trocada entre os executivos. Segundo as informações prestadas pelos delatores, “careca” e “amigo PN” são codinomes utilizados para o senador José Serra – o último por conta da relação dele com o ex-presidente da Odebrecht, Pedro Novis (PN).
A GW, apontada como destinatário do pagamento, é a mesma que BJ cita em sua delação sem apontar os valores. Naquele ano de 2004, Luiz Gonzalez foi o marqueteira da campanha de Serra à Prefeitura de São Paulo. Segundo a prestação de conta do tucano no Tribunal Superior Eleitoral, a GW recebeu ao menos R$ 1,8 milhão da campanha vitoriosa de Serra.
Linha 2. A obra para extensão da Linha 2 do metrô teve seu contrato assinado na década de 90. Por conta da falta de recursos, o governo de São Paulo não executou o contrato até que, em 2003, o governador Geraldo Alckmin decidiu retomar a obra e expandir a linha que atualmente vai da Vila Madalena até a Vila Prudente.
Outro executivo da Odebrecht que aparece no e-mail sobre os pagamentos para a GW, Fabio Gandolfo, também detalhou outros pagamentos proveniente da obra. “Neste período [de contrato] nós recebemos do Metrô mais ou menos 320 milhões de reais porque tinha reajuste. Eu detectei pagamento para (…) o Vizinho de 4,670 milhões. Os 3% dariam 7,5 milhões, mas eu só detectei isso. Mas eu saí do contrato em 2006. O contrato do lote 3 se estendeu e eu não sei se foi pago depois””, disse o delator. O “vizinho” citado por ele é o senador José Serra, este outro apelido também faz alusão ao fato dele ser vizinho do ex-presidente da empreiteira Pedro Novis.
A investigação sobre a linha 2 do metrô foi encaminhada para a Justiça Federal de São Paulo. Serra será investigado no STF por possuir foro privilegiado.
Procurada pela reportagem, a GW informou que Gonzalez deixou a empresa em 2013. O Estado não conseguiu contato com o marqueteiro. O senador José Serra afirmou que não se manifestará sobre o tema. (AE)