Farra na CLDF

O gasto dos deputados com combustível chamou atenção da PF na Operação Dubai

Em cinco meses, deputados usaram R$ 180 mil com combustíveis

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De R$, 1,5 milhão gastos com verbas indenizatórias pelos deputados distritais nos cinco primeiros meses deste ano na Câmara Legislativa do Distrito Federal, R$ 180 mil foram com combustíveis. Em janeiro, mês de recesso parlamentar, gastaram R$ 10 mil; em fevereiro, R$ 22 mil; março R$ 32,6 mil; abril R$ 58.806 mil; e em maio R$ 28 mil.

Em janeiro deste ano, Juarezão (PSB) foi o que mais usou verba com combustível: R$ 2.511,96. Em fevereiro, Roosevelt Vilela (PSB): R$ 3.014,23. Em março, Wasny de Roure (PT): R$ 3.450,43. Em abril, Robério Negreiros (PSDB): R$ 3.270,03. Em maio, Wasny de Roure (PT): R$ 4.309,03.

O alto número é semelhante ao do segundo semestre do ano passado, quando foi deflagrada a primeira fase da Operação Dubai, da Polícia Federal, do Ministério Público e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), e chamou atenção dos investigadores. Deputados distritais, federais e senadores pediram dinheiro e gasolina para integrante do suposto cartel de postos de combustível no Distrito Federal, segundo ligações interceptadas na Operação Dubai e obtidas pelo Diário do Poder.

A investigação apontou chamadas telefônicas realizadas entre Antonio Matias, sócio da rede Cascol, e os assessores do senador Hélio José (PMDB-DF), do deputado federal Izalci Lucas (PSDB-DF) e o deputado distrital Raimundo Ribeiro (PSDB). Além desses parlamentares, o nome da deputada distrital Celina Leão (PDT-DF) também foi citado.

Em uma dessas conversas, do dia 2 de outubro de 2015, o empresário Antônio conversa com o seu assistente, identificado como Rivelino, e pede para que o funcionário compre um cupom de R$ 1 mil em gasolina e entregue para Celina Leão, presidente da CLDF.

Antônio Matias: É, tem R$ 1.000,00 pra comprar de gasolina?

Rivelino: Tem, tem.

Antônio Matias: Então, você compra de gasolina e manda lá pra, pra Celina Leão, fala pra ela buscar aí, tá! Tá bom?

Rivelino: R$ 990,00 ou R$ 1.020,00?

Antônio Matias: R$ 1.020,00.

Rivelino: Tá bom. Sim, senhor!

Antônio Matias: Põe num envelope porque aquele outro eu mandei pra, "pro" Raimundo Ribeiro e outro pra, pro senador Hélio, tá? Tá bom?

Rivelino: Então, tá bom. Sim, senhor. Sim, senhor. Agora.

Antônio Matias: Sobra quanto ainda? Fica quanto?

Rivelino: Lá eu tenho… tem dois e duzentos. Fica mil e duzentos ainda.

Antônio Matias: Ah, então dá. Então compra lá, liga pra ela e… e man… mand.., "localiza ela" e mandar vi… "vim" buscar, tá! Tá bom? Rivelino: Tá bom.

De acordo com a Polícia Federal, parlamentares teriam se beneficiado de dinheiro e combustível cedidos pela suposta organização criminosa que comandava o cartel no DF.

Outra ligação interceptada pela força tarefa da Operação Dubai, de 2 de outubro, é entre o deputado distrital Raimundo Ribeiro (PSDB) e Antônio Matias, sócio da Cascol.

Antônio Matias: O negócio é o seguinte, você vai fazer o seguinte, eu não sei que horas vou chegar lá, mas você pode pedir pro rapaz seu descer lá pro escritório do SIA e falar com o doutor Rivelino. Pode mandar lá que eu vou deixar “alguma coisa” para você lá, tá bom? Raimundo Ribeiro: Então tá bom. E qualquer hora dessa quando você tiver por lá eu vou também para a gente tomar um café também. Hehe. Antônio Matias: Tá bom, tô lhe devendo um café tá bom?

Raimundo Ribeiro: Tá certo querido, obrigado viu.

Citados e grampeados nos áudios, Celina e Ribeiro não usaram verbas indenizatórias para custeio de combustíveis em outubro, mês em que a operação Dubai foi deflagrada. Em novembro também não há registro, nem julho, agosto, setembro ou dezembro.

Todos os deputados distritais abasteceram seus carros em postos da Cascol, menos Celina e Ribeiro. A Polícia Federal acredita que seria uma “contrapartida”.

Em maio, na segunda fase da operação, também houve menção ao fato. Na terceira fase, que está por vir, os gastos não serão deixados de lado.

Deputados se defendem

À época em que a Operacão foi deflagrada, Celina Leão negou qualquer envolvimento com a caso e disse que ninguém do gabinete dela ligou para Antonio Matias. 

Em resposta aos áudios, o deputado Izalci do PSDB disse que o assessor Mayone Dias ligou para a Cascol porque ele costuma comprar combustível da empresa para abastecer vouchers dos funcionários do gabinete. Ele afirmou que tem as notas fiscais dessas negociações.

O deputado distrital Raimundo Ribeiro disse, à época, que a conversa sobre combustível era para uma ajuda no processo eleitoral de conselho tutelar. Agora, a assessoria não respondeu à reportagem.

O senador Hélio José não foi encontrado para comentar os áudios vazados.

Em nota, a Cascol Combustíveis informou que a operação Dubai ainda está em investigação e tem certeza de que, ao final, "ficará demonstrado que não houve a prática de qualquer ato ilícito por parte da empresa ou de seus representantes". 

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