Crise da política

Marina diz que obsessão por eleições motiva caos na política

Ex-senadora Marina Silva condena velha política estagnada

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No mesmo evento em que questionou a noção de harmonia entre os poderes que tem o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), a ex-senadora acreana Marina Silva (REDE) condenou a obsessão da classe política pelo debate focado na disputa de poder e de eleições, e disse que ver surgir um novo “sujeito político” preocupado em reconstruir as estruturas estagnadas da velha política tradicional. 

Ao ser homenageada pela Câmara de Maceió, pela vereadora e ex-senadora Heloísa Helena (REDE), na tarde da última quarta-feira (7), Marina conversou com o Diário do Poder sobre as perspectivas para o caos estabelecido na política, para seu futuro nas próximas eleições e para a proposta de Michel Temer para a Reforma da Previdência.

A entrevista foi concedida após a homenagem, ocasião em que Marina discursou em defesa do respeito às instituições e da Justiça. E quando ainda condenou Renan por descumprir a decisão monocrática do ministro Marco Aurélio Mello do Supremo Tribunal Federal (STF), já revertida em Plenário, sobre o afastamento do senador solicitado pela REDE.

Confira:

A senhora já avaliou o projeto da Reforma da Previdência enviada ao Congresso pelo governo de Michel Temer?

Claro que vamos avaliar com todo o rigor necessário para algo tão complexo que mexe com a vida das pessoas. É preciso que se tenha sim uma Reforma da Previdência. No entanto, já tem algumas questões inaceitáveis, por exemplo, ter que ter quase 40 anos de contribuição. Outra coisa é o fato de estar tratando de servidores públicos e de trabalhadores da iniciativa privada, mas não se está considerando também os parlamentares, no caso os deputados e senadores, e militares, que ficaram de fora, e as autoridades do Judiciário. Você não pode ter dois pesos e duas medidas. Mas vamos continuar fazendo a análise com profundidade, entendendo ser necessário uma reforma da Previdência, mas que existem questões inaceitáveis e que já ficam evidentes.

É uma boa dobradinha para 2018, Heloísa Helena e Marina Silva?

(Heloísa: ‘Eu não ajudo em nada ela’) Isso é o que ela está dizendo. Mas nós não estamos nesse momento ainda discutindo a questão de candidatura. E nem eu mesma ainda não tenho a certeza de se serei candidata. E, obviamente que o que estamos fazendo é o debate sobre as questões que interessam ao Brasil. Infelizmente, uma boa parte dos problemas que estamos vivendo é porque as pessoas só pensam em poder e em eleição. Se se discutisse mais as necessidades que o País tem em relação à saúde, educação, infraestrutura, segurança, ética na política… Se se discutisse mais projeto de país e menos projeto de poder, talvez a gente não estivesse no caos em que a gente está vivendo.

Os fatos recentes mostram que a política partidária não vale mais nada, no Brasil e no mundo?

Costumo dizer que estamos vivendo uma grave crise, que não é uma crise na política, mas uma crise da política. E essa crise da política precisa ser encarada com a profundidade que ela tem. Acho que a pessoa que mais tem trabalhado esse tema é o [sociólogo polonês Zigmunt] Bauman, que tem um livro muito interessante que é “Em busca da política”, em que ele diz que nós avançamos muito nas democracias, mas chegamos em um momento de estagnação da política. Pois conseguimos a liberdade de fazermos o que quisermos, menos de mudar o sistema. E ele indaga que, se a única coisa para que serve a política é para juntar as pessoas para fazer mais do mesmo, para que serve a política? E esses fenômenos que estão acontecendo Brasil afora e mundo afora são parte dessa crise mais abrangente.

O que isso tem provocado?

Está surgindo, no meu entendimento, um novo sujeito político no mundo. Esse novo sujeito político ainda não tem as suas lideranças consolidadas, não tem sequer um projeto de mundo, ou alguma visão de mundo, e está em gestação. Agora, que as velhas estruturas estão completamente estagnadas e estão passando por um processo de deslegitimação na sociedade, isso não tem sombra de dúvidas. E o populismo que está acontecendo hoje no mundo não é só no campo da direita. É também no campo da esquerda. Existe tanto populismo de esquerda, quanto populismo de direita. E isso é um fenômeno que precisa ser entendido à luz da grave crise que a política está vivendo no mundo e da falta de atenção que se tem em dar resposta para atualizar a política. A REDE é um esforço de atualização da política. De fazermos um processo de descobrir quais são as novas estruturas, qual é a  visão e quais são os novos processos que nos levem a dialogar com esse novo sujeito político.

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