Tires, Portugal

Mãe chora filhas cujos corpos foram encontrados em Portugal

'Pelo menos acabou a agonia', diz a mãe, após meses de espera

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O drama do desaparecimento de três brasileiras no começo do ano, cujos corpos foram encontrados em Portugal, enquanto o suspeito do crime fugiu para o Brasil, é descrito na edição deste sábado do jornal Diário de Notícias, de Lisboa, em reportagem de Ana Bela Ferreira e Rute Coelho:

 

Tudo parecia correr bem na vida de Michele, 28 anos. Estava noiva, grávida de três meses e a irmã mais nova tinha chegado há pouco a Portugal. Vivia com o namorado, numa quinta onde funciona um hotel para cães e gatos, junto ao aeródromo de Tires. Com eles estava também a irmã dela, Lidiana Santana, de 16 anos, que chegou em novembro do ano passado e que no final de janeiro foi viver com a amiga Thayane Dias (de 22 anos), recém–chegada. Até que as três jovens desapareceram, no início de fevereiro, sem deixar rasto. Os seus corpos foram ontem encontrados pela Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT) da Polícia Judiciária, numa fossa de esgoto, na quinta onde todas chegaram a viver. E o principal suspeito é precisamente Dinai, o companheiro de Michele.

Os corpos foram descobertos depois de a UNCT ter desenvolvido várias diligências, como visitas ao local e a outros nas proximidades, soube o DN junto de fonte policial. Dinai, que entretanto voltou para o Brasil pouco depois do desaparecimento, ainda não tinha sido detido pelas autoridades, ontem ao início da noite. Para já, a PJ está "numa corrida contra o tempo" para tentar decifrar como morreram as três jovens e o que motivou o crime, uma vez que "o suspeito não diz nada", refere a mesma fonte. Sem pistas, os exames médico-legais e as autópsias, que devem realizar-se no início da próxima semana, vão ser cruciais para ajudar a perceber como tudo aconteceu.

"Ele não era muito carinhoso"
Quem conhecia vítimas e suspeito só agora começa a perceber que talvez nem tudo fosse perfeito na vida do casal. Juntos há quatro anos, Michele e Dinai conheceram-se cá, mas ele "não era muito carinhoso. Não mostrava muito afeto e às vezes dizia-lhe, no meio de brincadeiras, palavras mais pesadas. Mas ela nunca me disse que ele era violento para ela. Era só o jeito dele", conta a amiga Flávia Macedo, que conhecia as três mulheres desde a infância. Foi ela que, em Portugal, alertou a polícia.

"No início de fevereiro, a mãe da Michele e da Lidiana ligou-me a dizer que as filhas não davam notícias há uma semana. Achei estranho. Liguei para os quatro e ninguém atendeu. Fui à quinta onde moravam, mas era noite e já tinha fechado e não veio ninguém à porta. No dia seguinte, como ninguém atendia, fui lá confrontar o Dinai e ele disse-me que elas tinham saído de casa e que tinha ido lá um rapaz brasileiro buscar as coisas delas." Flávia achou a história estranha e recorreu às autoridades.

"A coisa que mais me chocou agora foi porque na altura a Polícia Judiciária esteve lá e eu perguntei se eles tinham revistado a quinta toda, porque o espaço é muito grande e tem locais mais escondidos, e eles disseram que sim, que viram tudo. E agora elas estavam lá."

Ainda incrédula com a informação estava a mãe das duas irmãs. Ao telefone do Brasil, limitou-se a dizer que "pelo menos acabou a agonia e o tormento de não saber onde estavam". Solange Santana sempre pensou, no entanto, que as filhas "tinham sido traficadas", quis acreditar que estavam com vida.

Foi também só depois do desaparecimento que Solange começou a estranhar o comportamento de Dinai. "Parecia uma pessoa boa ao início", conta, mas tudo mudou quando elas desapareceram e o "radar" de mãe apitou. "Ele mentiu para mim, disse que elas estavam bem e que tinham ido viver para Londres. Tudo mentira. Conversou comigo no WhatsApp e depois disse que nunca tinha conversado comigo no WhatsApp."

Antes disso, a sogra confiava tanto nele que deixou que fosse o responsável legal pela filha mais nova em Portugal. "Ele tinha uma vida estabilizada em Portugal, estava cá há mais de dez anos e já tinha ido ao Brasil conhecer a família da Michele. Eles confiam nele", refere Flávia.

Dinai ainda era casado no Brasil
Foi também só depois de começar a investigação policial que Flávia descobriu que afinal Dinai era casado no Brasil e não divorciado, como tinha dito. "Falei com a Michele em novembro e ela estava superfeliz porque estavam a tratar dos papéis do casamento", recorda a amiga.

Nessa altura a casa terá sido assaltada e os documentos roubados, o que impediu o casamento, contou o irmão, ao Público. Dinai tem dois filhos – um em comum com a mulher e outro "com uma rapariga também de Campanário como nós que ele não quis assumir", conta Flávia. Seria pai pela terceira vez agora com Michele.

Ao que tudo indica, a mulher com quem Dinai ainda está legalmente casado terá vindo a Portugal no início do ano. Facto que Michele desconheceria, segundo a amiga. E que poderá ter levado Dinai a cometer os crimes. Como as vítimas são brasileiras, o caso pode vir a ser julgado lá.

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