Vingança

Lobista da JBS aproveita delação para se vingar de jornalista que o denunciou

Corruptor usa delação para retaliar jornalista do 'Diário do Poder'

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(Publicado originalmente às 17h22 de 19/maio/17) – Denunciado em novembro de 2014 pelo jornalista Cláudio Humberto, do Diário do Poder,  como “o homem da mala” do grupo JBS, o lobista Ricardo Saud resolveu se vingar do colunista, tentando arrastá-lo para o seu lamaçal, afirmando agora em depoimento que teria sido vítima de “chantagem”. O corruptor confesso mente, como forma de se vingar do fato de o jornalista ter lançado luz sobre suas atividades criminosas. Ele próprio diz, no depoimento, que as notícias do colunista criaram “muitos problemas” para ele. Saud também não apresentou provas, tampouco indícios do que alegou. Serão adotadas contra o lobista as medidas judiciais cabíveis.

Saud mentiu ao afirmar que não havia contrato de veiculação publicitária, quando na verdade o documento foi assinado em 5 de fevereiro de 2015 pelo prazo de um ano, e cujo objeto é claro, definido na em sua cláusula primeira: “A contratante terá direito à veiculação de banner publicitário, com marca, em espaço disponibilizado pela contratada, no portal ‘Diário do Poder’, cujo local específico será definido em comum acordo entre as partes”.

Outra cláusula do contrato reforça que o lobista mentiu em seu depoimento, distorcendo a natureza das relações meramente publicitárias entre as partes. Diz a cláusula terceira do contrato: “O contratante (J&F) está ciente de que a presente relação contratual não implica em qualquer compromisso de natureza editorial, tampouco obriga a contratada (site) a veicular informações que não sejam produto de rigorosa apuração jornalística”

As abordagens da empresa para anunciar no portal começaram em setembro de 2013, mais de um ano antes da publicação das notícias denunciando as atividades criminosas do lobista Ricardo Saud.

Homem de Severino Cavalcanti

O ressentimento do corruptor se consolidou com a notícia da coluna, que há 19 anos revela e denuncia falcatruas de políticos, de que ele fez a vida à sombra da corrupção em Brasília, tendo sido assessor e pupilo do ex-deputado Severino Cavalcanti (PP-PE), que entrou para a história pelas negociatas que protagonizou.

Depois que Severino caiu em desgraça, Ricardo Saud se afastou dele, ligando-se ao deputado Eduardo da Fonte (PP-PE), com quem dividiu apartamento em Brasília. Da Fonte tem sido citado em diversas investigações do Ministério Público Federal.

A empresa J&F, controladora da marca Friboi, fechou com o site em fevereiro de 2015 para adquirir espaços publicitários, a exemplo do que faz nos principais veículos de comunicação do País. O contrato foi fechado no valor de R$18 mil.

Deslumbramento com churrasco

O colunista Cláudio Humberto, que acompanha os bastidores do poder em Brasília, também denunciou Ricardo Saud, especialista em bajular políticos, pela intimidade que demonstrava com o então presidente do Senado, Renan Calheiros.

O “deslumbramento” do lobista Saud entrou para o anedotário dos meios políticos. Ele até entrava na residência oficial do senador, até na ausência dele, para surpreendê-lo com um churrasco sofisticado, com carnes selecionadas e bebidas caras.

Essa notícia irritou Saud e também Calheiros, que desde então assumiu uma postura hostil em relação ao jornalista – como tantos políticos cujas malfeitorias foram por ele denunciadas.

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