Brexit

Libra cai ao menor valor em 30 anos e bancos chegam a perder 30%

Saída do Reino Unido da União Europeia arrasa mercado financeiro

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As primeiras horas após o anúncio da vitória do Brexit no plebiscito no Reino Unido foram de pânico no mercado europeu, com uma ampla e expressiva onda vendedora. A tendência negativa, porém, foi sendo minimizada. A libra esterlina, que chegou a perder 11% do valor ante o dólar, registra desvalorização próxima de 7%.

Por volta das 7h no horário de Brasília, os principais europeus operavam em firme tendência de queda, mas com recuo menos intenso que o observado no meio da madrugada: Londres cedia 4,91% e a libra operava a US$ 1,3907. Entre as demais bolsas da região, Frankfurt perdia 6,79%, Paris recuava 8,15%, Madri cedia 10,59% e Milão, 10,10%. No mercado de moedas, o euro também recuava na comparação com o dólar, a US$ 1,1107.

Na Ásia, o mercado em Tóquio liberou as perdas, com queda de 7,92% no índice Nikkei, a 14.952,02 pontos. A desvalorização do índice japonês foi a maior em um único pregão desde março de 2011 e o nível de fechamento é o menor desde outubro de 2014. Os negócios no Japão também foram pressionados pelo iene, que disparou ante o dólar em reação ao Brexit.

Em outras partes da Ásia, o índice Hang Seng caiu 2,92% em Hong Kong, enquanto o sul-coreano Kospi teve baixa de 3,09%. Na China, a reação ao resultado do plebiscito britânico foi relativamente mais contida. O Xangai Composto, principal índice acionário do país, encerrou o dia com perdas de 1,3%, enquanto o Shenzhen Composto, de menor abrangência, caiu 0,8%.

Durante a manhã, o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) anunciou que tem à disposição 250 bilhões de libras esterlina para oferecer em liquidez ao mercado caso seja necessário. O Banco Central Europeu também anunciou que tem liquidez pronta para ser usada.

O choque do mercado financeiro com as urnas começou no fim da noite de ontem, quando os primeiros números da apuração do plebiscito mostraram mais força que o esperado do grupo contra a permanência do Reino Unido na União Europeia. Inicialmente, esse fenômeno aconteceu nas pequenas localidades do interior do país. Depois, médias e grandes cidades passaram a mostrar vantagem menor que o esperado do voto pró-Europa ou mesmo a inesperada vitória do Brexit nessas localidades.

Em Birmingham, segunda maior cidade britânica, por exemplo, o Brexit venceu com 50,4%. Analistas esperavam liderança do "permanecer", especialmente na área urbana. Com a chegada desses números, o mercado passou a entender que a vitória do Brexit era uma hipótese crescente. O grupo pró-Europa liderou em Londres, na Escócia e na Irlanda do Norte. Isso, porém, não foi suficiente para reverter o quadro.

Pânico. A reação dos ativos financeiros foi imediata. Mesmo com o pregão ainda fechado na Europa, o mercado de câmbio passou a registrar queda próxima de 10% da libra esterlina na comparação com o dólar dos Estados Unidos, no menor valor desde 1985. No mercado futuro, negócios durante a madrugada indicavam desvalorização de dois dígitos das bolsas europeias. Quando os mercados foram abertos, a tendência foi confirmada com forte desvalorização.

O setor bancário é um dos que mais sofrem com a aversão ao risco. Ações de alguns dos grandes bancos britânicos, como Barclays, Lloyds e Royal Bank of Scotland (RBS) chegaram a registrar perdas próximas de 30%. Por volta das 6h45 no horário de Brasília, a queda desses papéis era um pouco menos intensa e as três ações registravam desvalorização próxima de 20%.

Analistas da corretora Accendo Markets explicam que as ações do setor financeiro são especialmente castigadas porque esse é um dos segmentos da economia britânica mais interligados à União Europeia. Outros segmentos que também sofrem são as ações do setor de commodities, como mineradoras e petroleiras, já que há expectativa de que o Brexit pode resultar em menor crescimento da economia global.

Enquanto o mercado operava com o pânico gerado pelo Brexit, o Banco da Inglaterra (BoE, na sigla em inglês) anunciou que tem 250 bilhões de libras esterlinas – mais de R$ 1,1 trilhão – disponíveis para oferecer em liquidez extra ao mercado para o período de "incerteza e ajuste". Em breve discurso na sede da instituição, o presidente da casa, Mark Carney, citou que também há "substancial liquidez em moeda estrangeira" à disposição e repetiu três vezes que, caso seja necessário, o BoE tomará medidas adicionais de política. Alguns analistas citam a chance de que a taxa de juro poderia ser diminuída para tentar amenizar o efeito do Brexit.

O Banco Central Europeu (BCE) fez anúncio semelhante e informou que, caso necessário, está pronto para prover liquidez adicional ao sistema financeiro em euros e outras moedas. A instituição informou que está em contato com outras autoridades supervisoras e considera que o sistema bancário europeu tem resiliência em capital e liquidez para enfrentar a situação. (AE)

 

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