Na Argentina

Justiça argentina divulga denúncia de Alberto Nisman

O processo tem 290 páginas e traz denúncias contra a cúpula argentina

acessibilidade:

O Centro de Informação Judicial da Argentina decidiu na noite desta terça-feira (20) tornar pública a denúncia feita pelo promotor Alberto Nisman, contra a presidente Cristina Kirchner e alguns integrantes da cúpula do governo argentino.

O processo tem 290 páginas, nele o promotor garantiu que Kirchner ?não somente foi quem decidiu a articulação deste plano criminoso de impunidade e se valeu de diferentes atores para levar adiante sua execução?. Ele também acusou Cristina de liderar ?a campanha discursiva e midiática necessária para camuflar a execução do delito?.

A denúncia também envolve outros membros do governo argentino, como o ex-promotor encarregado do caso Amia, Héctor Yrimia, o deputado governista Andrés Larroque, os militantes Luis D’Elía e Fernando Esteche e Ramón Allan Héctor Bogado que seria um suposto espião entre outros. Segundo Nisman, o chanceler Héctor Timerman foi ?o principal instrumentador do plano de impunidade idealizado” e “transmitiu ao Irã a decisão do governo argentino de abandonar a reivindicação de justiça pelo caso Amia”.

Nisman assegurou que o memorando de entendimento com o Irã seria ?a peça central do plano de impunidade?, assinado em 2013, previa a revisão dos documentos da investigação judicial e a criação de uma ?Comissão da Verdade? que possivelmente interrogaria os suspeitos pelo atentado contra a sede da Associação Mutual Israelita Argentina (Amia), em 1994.

O promotor ratificou que a assinatura do documento ?implica na destruição das acusações contra os suspeitos de nacionalidade iraniana? e acrescentou que membros do governo argentino, ?sabiam que a Comissão da Verdade não tinha sido criada para investigar absolutamente nada, mas para legitimar a mentira que estava sendo fabricada”.

Para Nisman houve um acordo geopolítico e comercial, e os funcionários agiram com o propósito de ?conseguir a impunidade” para os acusados iranianos, para assim, ?estabelecer plenas relações comerciais? com o Irã. O promotor ainda destacou, ?a presidente entendeu que o petróleo iraniano teria a capacidade de aliviar a severa crise energética que o país vem atravessando”. A Argentina enfrenta uma crise energética desde 2004

Dentro deste contexto, o principal interesse do Irã em assinar tal memorando seria “o fim das notificações vermelhas da Interpol” contra os acusados iranianos.  Segundo a denúncia, o chanceler Héctor Timerman não cumpriu com o acordo, ?não porque não quisesse, mas porque a Interpol o impediu”.

De acordo com o promotor, “Enquanto transcorriam as negociações diplomáticas públicas”, em canais paralelos avançava o plano para fabricar a inocência do Irã e saciar os interesses da República da Argentina, com ?o desvio da investigação para uma nova e falsa hipótese”, onde os iranianos fossem desvinculados e terceiros incriminados.

O promotor era o responsável pela investigação do caso Amia. Em 1994 um atentado contra a sede da Associação Mutual Israelita Argentina (Amia) provocou a morte de 85 pessoas e deixou mais de 300 feridos, por conta de uma explosão que também causou danos estruturais em outros nove edifícios no bairro Oncer.

Reportar Erro