Lava Jato

Júlio Camargo relata repasse de R$ 2,1 milhões a Dirceu

Pagamentos ao petista foram feitos entre os anos de 2010 e 2013

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O lobista Julio Camargo confessou ao juiz federal Sérgio Moro – que conduz os processos da Operação Lava Jato em primeira instância – que abriu portas para empresa Apolo Tubulars na Petrobras por intermédio do ex-diretor de Serviços Renato Duque. Pelo negócio, ele diz ter repassado cerca de R$ 2,1 milhões para o ex-ministro José Dirceu, entre 2010 e 2013, por indicação do ex-executivo da estatal que era apadrinhado do petista.

Julio Camargo é delator da Lava Jato e confessou ser próximo de Dirceu e dos negócios controlados pelo PT na Petrobras, via Diretoria de Serviços. Duque, preso há um ano e meio pela Lava Jato, retomou no último mês tratativas com a força-tarefa de procuradores para um acordo de delação premiada. Ele foi indicado ao cargo em 2003 na cota comandada por Dirceu. "Tenho 30 anos de trabalho como representante de grandes empresas na Petrobras."

"Dentro desse relacionamento anterior (com Renato Duque) haviam pagamentos indevidos que eu fazia ao senhor Pedro Barusco (ex-gerente de Engenharia) e ao senhor Renato Duque. Quando essa operação com a Apolo teve êxito, eu fui ao doutor Duque e disse que tinha um contrato que não faz parte do nosso dia-a-dia, foi oportunidade que eu tive onde o senhor se interessou e deu apoio para verificar o que estava acontecendo internamente e quero dizer o seguinte: eu estou ganhando 2% de comissão e estou à disposição se o senhor quiser alguma coisa disso", afirmou Julio Camargo, em audiência em ação penal sobre pagamento de propina para Duque e Dirceu, em contrato da Apolo na Petrobras.

Julio Camargo contou ao juiz que foi procurado por executivos da Apolo para que ele conseguisse na Petrobras que a empresa passasse a integrar a lista de convidadas para fornecimentos de produtos. O lobista disse que procurou Duque e que esse disse que resolveria o assunto.

A força-tarefa da Lava Jato sustenta na denúncia do caso que "foi comprovado que os executivos da empresa Apolo Tubulars, Carlos Eduardo de Sá Baptista e Paulo Cesar Peixoto de Castro Palhares, interessados em adentrar no mercado de tubos e celebrar grandes contratos com a Petrobras, solicitaram a intervenção de Júlio Gerin de Almeida Camargo junto a Renato Duque para que a empresa fosse beneficiada perante a estatal".

Ontem, Julio confirmou em juízo que quando conversou com Duque "ele disse que faria uma avaliação da empresa e voltaria a me procurar". "Dois ou três meses depois, ele me ligou e disse que Apolo era uma empresa que teria condição de fornecer tubos para a Petrobras." O lobista afirmou que tinha contato constante com Duque.

Propina

Julio Camargo afirmou em juízo que depois de efetivado o contrato ele procurou Duque, que teria dito que "não queria nada" para ele, mas indicou que fosse feito repasse de valores para Dirceu. "'Preciso ajudar o ex-ministro José Dirceu' (teria dito Duque). Era uma situação que não lembro se era política, mas existe uma demanda dele comigo e você poderia ajudar repassando talvez metade dessa comissão que você vai ganhar para a equipe do doutor José Dirceu que vai te procurar."

O delator afirmou que foi o irmão de Dirceu, Luis Eduardo, também réu no processo, que teria o procurado para viabilizar o recebimento dos valores. O contrato inicial, segundo Julio, era de R$ 250 milhões – tendo sido aumentado em pelo menos R$ 100 milhões, posteriormente.

A comissão do lobista teria sido de R$ 7 milhões, recebido entre 2010 e 2013 da Apollo via contrato da empresa Piemonte, que era usada por ele para justificar suas intermediações de contratos entre Petrobras e empresas privadas representadas por ele.

"O que foi repassado como crédito ao doutor José Dirceu e equipa dele foi de R$ 2,1 milhões, aproximadamente", declarou Julio Camargo.

O lobista contou ainda sobre as entregas em dinheiro para Dirceu. Segundo ele, além do irmão do ex-ministro, recebiam esses valores o operador de propinas e também lobista Milton Pascowitch e o ex-assessor do petista Roberto Marques, o Bob. Os valores repassados em dinheiro era de uma dívida que ele tinha com Dirceu de R$ 4 milhões, em propinas. Julio lembrou ainda de um repasse via pagamento para a empresa Credencial Construções. (AE)

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