Entrincheirado

JHC silencia sobre bens, mas quer condenar jornalistas

JHC processa imprensa após cobrarem origem de seus R$ 3 mi em AL

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Na mesma semana em que a Associação de Brasileira de Jornalistas Investigativos (Abraji) divulgou que o senador alagoano Benedito de Lira (PP) empata com Dilma Rousseff na segunda colocação do ranking de políticos que tentam calar veículos de comunicação com ações judiciais de censura prévia, surge a notícia de que o jovem deputado federal João Henrique Caldas (PSB-AL) apresentou uma série de processos pedindo à Justiça de Alagoas indenizações por danos morais contra jornalistas e empresas de comunicação que questionaram a origem de seu patrimônio milionário.

Na noite dessa quinta-feria (21), o Diário do Poder questionou o deputado e pré-candidato a prefeito sobre o motivo dos processos, se tinham relação com textos publicados desde maio sobre as suspeitas de enriquecimento ilícito narradas pela obra do jornalista Chico de Gois, “Os Bens que os Políticos Fazem”, de 2013. Mas JHC respondeu com o mesmo silêncio com que se nega a explicar como declarou à Justiça Eleitoral ter R$ 1,5 milhão de patrimônio, aos 23 anos, na eleição de 2010, e, quatro anos depois, duplicou seus bens, para R$ 3,1 milhões.

No sistema eletrônico de consulta a processos do Tribunal de Justiça de Alagoas é possível identificar oito ações movidas por JHC, entre 2 de junho e 18 de julho, contra os jornalistas Voney Malta, Pedro Oliveira e Gabriel Mousinho, além dos portais de notícias Cada Minuto e Alagoas 24 Horas. O Diário do Poder conversou com um deles, que afirmou não ter sido notificado ainda oficialmente e imaginava que o tema dos bens tivesse sido o motivo das ações a que passou a responder, com pedidos de indenizações de até R$ 17,6 mil.

Audiências de conciliação foram marcadas pela juíza Maria Verônica Correia de Carvalho Souza Araújo, do 1º Juizado Cível e Criminal de Maceió, para 16 de março de 2017.

Sem satisfações

Desde os questionamentos feitos durante a apuração do jornalista Chico de Gois para seu livro, JHC se nega a responder claramente sobre como conseguiu a pequena fortuna. A obra que motivou as matérias neste período pré-eleitoral compara os modestos patrimônios dos pais do político de Ibateguara, o ex-deputado João Caldas e a ex-prefeita Eudócia Caldas, com os R$ 1,5 milhão que JHC declarou já acumular, quando se candidatou a deputado estadual em 2010 e era apenas um estudante universitário.

O patrimônio de JHC mais que dobrou em quatro anos de mandato como deputado estadual, após a troca de uma casa de R$ 520 mil, no Farol, por um apartamento de R$ 2 milhões, na Jatiúca. Seu eleitor, que vibrou com as corajosas denúncias de JHC, depois de vê-lo conseguir abrir da caixa-preta das contas da Assembleia Legislativa do Estado (ALE), deve estranhar que o político com imagem de defensor da legalidade e da ética no poder público reaja desta forma diante de questionamentos simples como os feitos por Chico de Gois, ainda em 2013, e pela imprensa de Alagoas.

Exemplos de perguntas que JHC se nega a responder são: A que se deve esse expressivo patrimônio? O deputado herdou bens de seus pais? E o que explica o deputado ter muito mais bens do que a soma do patrimônio de seus próprios pais?

Diante das oportunas perguntas de Chico de Gois, acrescida da pergunta sobre a evolução patrimonial do deputado federal, o defensor da ética e da moralidade reservou ao seu eleitor a seguinte resposta, em 6 de junho: “Estou tranquilo. No momento em que achar oportuno, irei me manifestar” e ponto final.

Reticências

Não. Não parece que houve um ponto final. A pronta reação com a série de ações judiciais demonstra o quanto o assunto incomodou JHC.

Há tempos, a velha política tentou calar jornalistas com ações judiciais. Foi assim que agiu, por exemplo, um grupo de magistrados e promotores paranaenses, movendo 37 ações por danos morais contra jornalistas da Gazeta do Povo, que revelaram salários acima do teto constitucional. A clara tentativa de intimidação foi denunciada e o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu todas as ações no início deste mês.

É complicado afirmar que o JHC, autodenominado como representante da nova política, não esteja em seu pleno direito de buscar um a indenização e punição por danos que deve acreditar terem sido causados à sua moral. Mas é bem simples a identificação da incoerência do militante da transparência pública JHC.

Não seria mais oportuno demonstrar algum mínimo esforço para demonstrar com clareza a inexistência de enriquecimento ilícito do deputado federal nestes fatos?

É preciso sim esclarecer qual a relação do patrimônio de JHC com a carreira basicamente política de seus pais. Até porque o jovem político tem João Caldas como pai, ex-deputado que foi condenado por improbidade administrativa, em dezembro em 2014, pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por desviar R$ 390 mil na “Máfia das Ambulâncias”, alvo da Operação Sanguessuga.

Se JHC acredita que precisa reagir diante dos legítimos questionamentos sobre sua pré-candidatura a prefeito de JHC, deveria parar de sugerir a possibilidade de realmente haver algum conflito entre o que o deputado do PSB combate e o que ele não deveria consentir na sua própria carreira política.

Se o silêncio de JHC já não era a melhor resposta a dar, pelo homem público que é, para a imprensa, para seus adversários e eleitores alagoanos; culpar o espelho pela imagem refletida é outro equívoco, talvez ainda mais grave e danoso à sua moral do que ser questionado.

Enfim, deputado, de onde vieram seus milhões?

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