Aliada crítica

Janaina Paschoal defenderia comunidade gay, se houvesse redução de direitos

Recordista de votos elogiou indicação de Moro e nega ser oposição

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Rainha Marta homenageada pelo hexa inédito de melhor do mundo. Foto: Lucas Figueiredo/CBF

A deputada estadual eleita mais votada do Estado de São Paulo, Janaina Paschoal (PSL), declarou que será contra uma eventual iniciativa de o governo de Jair Bolsonaro para “retirar de direitos de minorias como a comunidade gay”, como acusou a oposição durante a campanha, sem que o presidente eleito tenha afirmado isso. Mas ela acha infantil sugerir que tal postura possa ser encarada como uma “oposição” ao presidente eleito.

Autora do pedido de impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff (PT), a advogada de 44 anos demonstrou entusiasmo com a indicação do juiz federal Sérgio Moro para ser ministro da Justiça e da Segurança Pública do futuro governo de seu colega de partido Jair Bolsonaro.

“Se Bolsonaro fizer algo como retirar conquistas da comunidade homossexual, LGBT, o que vocês quiserem chamar, serei contra. Agora, falar que sou oposição… Acho isso tão infantil!”, declarou a advogada criminalista de 44 anos, em entrevista à Folha.

Na conversa em escritório de advocacia que tem com duas irmãs nos Jardins paulistanos, Paschoal disse que achou “o máximo” e que está muito feliz com a indicação do juiz Moro. E considera tolo dizer que Moro agiu com interesses políticos ao condenar Lula à prisão, em 2017, ou ao levantar o sigilo sobre a delação do ex-ministro petista Antonio Palocci, a dias do pleito.

Há um mês, com apoio de 2 milhões de eleitores, Paschoal ganhou uma vaga na Assembleia Legislativa paulista, com a melhor votação na história dos parlamentos brasileiros. E superou em 200 mil votos o recordista na Câmara dos Deputados, o colega do PSL Eduardo Bolsonaro, e multiplicou em quase sete vezes os 306 mil do ex-detentor da marca no Legislativo de São Paulo, Fernando Capez (PSDB).

E quem levava fé em Bolsonaro? “Vamos falar a verdade, a maioria dos analistas sequer acreditava na vitória dele.” Ela crê e não é de hoje. Filiou-se ao PSL do capitão reformado e quase foi sua vice. Na convenção que ungiu o presidenciável, indispôs-se com a militância ao dizer que boa parte dela “tem uma ânsia de ouvir um discurso inteiramente uniformizado”. E pediu: “Reflitam se não estamos fazendo o PT ao contrário”.

Já ela se diz aberta “ao contraditório”. Veja só: em 2016, quando coassinou o impeachment de Dilma Rousseff (PT), vários de seus alunos da Faculdade de Direito da USP, onde dá aula, não gostaram. Teve até encenação do enterro da Constituição em sala de aula.

“Pensei: ‘Ah, se estou de alguma maneira estimulando a arte, tudo bem'”, conta e ri.

Se ela é do diálogo, dá para dizer que também o é Bolsonaro – alguém que, no passado e no presente, já falou em fechar o Congresso, fuzilar FHC e “a petralhada” e atacou a Folha de S.Paulo por lhe desagradarem suas reportagens?

“Ele tem essas frases muito contundentes. Mas, no modo de ser, não é autoritário como o PT. É difícil sentar com petista sem ele te chamar de ignorante, se sentir superior”, respondeu a deputada.

Nem sempre a esquerda é gentil com ela, que virou alvo de zombaria por seus discursos inflamados -como ao tuitar que, a partir da Venezuela, a Rússia estaria por um triz de atacar o Brasil. “Estão rindo? Bem típico: fazer a pessoa passar por burra, para que se cale. Mas comigo, não!”

Em outro, girando a bandeira do Brasil feito hélice, responde a Lula ter dito que “a jararaca está viva”. Aqui, bradou, não é a “República da Cobra”. Pela cena, foi comparada com a garota de “O Exorcista”.

Ativismos

Quando Bolsonaro promete “botar um ponto final em todos os ativismos”, a opinião pública o entendeu mal, diz Paschoal. Todo ativismo, do rural ao feminista, “acaba se tornando cruel” se “virar a única lente, e tenho a sensação de que é disso que ele está falando”.

Janaina acha, sim, que há doutrinação ideológica no ambiente de estudo, e a isso ela se opõe. “O que acontece na universidade é emburrecimento em massa, o cara tem que dizer amém [para a cartilha da esquerda], se prostituir intelectualmente”, afirma.

“Mas proibir temas me preocupa”, continua. E se um aluno perguntar ao professor temas como homossexualidade? Ele deve dizer “vá para a casa e pergunte à sua mãe”?

A criminalista acha que não, por isso afirma ter ressalvas ao projeto Escola Sem Partido.

Não gosta que lhe digam o que deve ser. Quando usou lilás, cor associada ao feminismo, em sua campanha, ouviu: “Isso tá muito feminazi!”. E desde quando a pauta é monopólio da esquerda?, questiona a advogada, que já foi confundida com assessora e cliente dos pares engravatados.

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