Corrupção

Investigada em cartel de trens de SP, Bombardier aparece na Lava Jato

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bombardierRegistros de movimentações financeiras em nome da Bombardier – multinacional canadense investigada no cartel dos trens em São Paulo – foram encontrados numa das contas usadas pelo doleiro Alberto Youssef, na Suíça, pela força-tarefa da Lava Jato. Eles integram uma lista de transações consideradas suspeitas de terem relação com a corrupção de funcionários públicos no Brasil e serão repassados ao Ministério Público Estadual, em São Paulo, que começou a buscar o elo entre o esquema do doleiro nas obras da Linha 15 – Prata do Monotrilho, na capital paulista.

O alvo das investigações da Lava Jato era João Procópio Junqueira Pacheco de Almeida Prado, acusado de ser um dos controladores de contas e empresas offshores da lavanderia de Youssef, por onde foram movimentados milhões desviados de obras públicas no Brasil.

Foi na conta de uma dessas offshores (empresa criada apenas no papel fora do País) investigadas pela Lava Jato, a Santa Tereza Services Limited Partnership, criada na Nova Zelândia, que apareceram os registros de valores em nome da “Bombardier Inc”.

“Apurou-se que dentro da conta da offshore Santa Tereza, na Suíça, há quatro subcontas, todas controladas pela organização criminosa de Youssef e utilizadas para as práticas delitivas”, informa documento da Lava Jato.

Suíça

A offshore Santa Tereza mantinha conta no banco PKB Private Bank da Suíça. A conta chegou a ter US$ 3,2 milhões disponíveis para movimentação, segundo análise dos extratos apreendidos pelos investigadores da Polícia Federal.

Documento de pedido de prisão e busca envolvendo João Procópio, de junho de 2014, feito pelo MPF, registra que os extratos da Santa Tereza indicam “intensa movimentação financeira, com diversas operações com valores iguais ou superiores a US$ 1 milhão cada operação”, do período de 8 de outubro de 2012 a 4 de março de 2013.

Em outro extrato anexado pela PF aos autos da Lava Jato, a “Bombardier Inc” aparece associada a um valor de US$ 202 mil. Os documentos foram aprendidos pela Lava Jato em buscas realizadas no dia 1º de julho, na casa de Almeida Prado, em São Paulo, e na sede da Queluz Participações e Negócios Ltda. – espécie de escritório não registrado de negócios que atuava em contato direto com o PKB, da Suíça, no Brasil.

Homem de confiança

Almeida Prado, que está preso desde o dia 1º de julho, é concunhado do vice-presidente da empreiteira Camargo Corrêa, João Ricardo Auler. O executivo foi um dos presos na Operação Lava Jato, em 14 de novembro do ano passado. A Camargo Corrêa é uma das acusadas de integrar o cartel – que se autodenominava “clube” – que fatiava obras da Petrobras, mediante pagamento de propina.

Segundo a força-tarefa da Lava Jato, o controlador das contas e empresas de gaveta do esquema, “integrava a organização criminosa liderada por Alberto Youssef” e era “pessoa de extrema confiança” do doleiro. Os procuradores afirmam que o acusado “atuava ativamente na obtenção de seus fins ilícitos”, tendo ainda diversas funções no esquema.

“Porém, a função preponderante de João Procópio era de abrir empresas offshores no exterior, em nome de ‘laranjas’, bem como abrir contas e movimentá-las no interesse da organização criminosa.”

O advogado de Almeida Prado, Eduardo Sanz, não foi localizado para comentar o assunto. No processo da Lava Jato em que é réu, o suposto braço direito de Youssef nega que tenha participação em ilícitos denunciados. Nesta terça-feira, 20, a sua defesa entrou com novo pedido de liberdade na Justiça.

Investigação paulista

O material das contas da Santa Tereza será entregue para a Promotoria em São Paulo, caso seja aceito pedido formulado ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz os autos da Lava Jato.

O promotor Augusto Eduardo de Souza Rossini, da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social da Capital, solicitou acesso aos documentos da Lava Jato, em especial a planilha de apreendida com Youssef contendo informações sobre cerca de 750 contratos de obras públicas que estariam na mira do doleiro.

Um inquérito civil aberto no final do ano passado visa apurar “irregularidades consistentes em supostos desvios na licitação do trecho do Monotrilho entre as Estações Oratório e Vila Prudente, integrante da Linha 15-Prata do Metrô e descumprimento do prazo de entrega do referido trecho do Monotrilho pelos representados”. A Bombardier é um dos alvos.

A multinacional é investigada por suposto envolvimento com o cartel de trens que agiu em São Paulo entre 1998 e 2008, governos Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, todos do PSDB. Ex-executivos foram denunciados pelo Ministério Público Estadual por participação em conluio e fraudes em licitações.

A Bombardier reitera que jamais manteve contato com a empresa Santa Tereza ou qualquer outra companhia pertencente ao Sr. Alberto Youssef.

Em 2013 a Bombardier Inc. realizou uma emissão de títulos para captação de recursos na forma de bonds, em uma operação absolutamente transparente e de acordo com a legislação financeira. Como a venda dos referidos títulos é intermediada por corretoras e instituições financeiras (como atestam os extratos do banco PKB), a empresa emissora não mantém contato direto com o comprador/beneficiário final.

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