DESVALORIZANDO VIDAS

Governo faz politicagem com edital para 150 bombeiros em Alagoas

Renan Filho é criticado por minimizar carência por Bombeiros

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Um misto de decepção e indignação fez soar o alerta de emergência no Corpo de Bombeiros de Alagoas, após o governador Renan Filho (PMDB) anunciar que o Estado fará concurso para a corporação, após 11 anos, com previsão de abertura de apenas 150 vagas de bombeiros militares. Oficiais usaram as redes sociais na noite dessa quarta-feira (22) para protestar e cobrar que o edital previsto para abril traga pelo menos o dobro das vagas anunciadas.

Vida tem valor realmente? Vida só se salva com armamentos? São questionamentos feitos por alagoanos ao governador de Alagoas que decidiu que a Polícia Militar terá 1.000 vagas e os Bombeiros, apenas 150. O presidente da Associação dos Bombeiros Militares de Alagoas (ABMAL), sargento Marcos Ramalho, divulgou em suas redes sociais que existem apenas 82 soldados no Corpo de Bombeiros de Alagoas. Número que representa 4,8% do previsto para todo Estado de Alagoas.

Ao todo, há cerca de 1.200 homens e mulheres na corporação, contingente aproximado do da Guarda Municipal de Maceió. A carência de efetivo na corporação fica ainda mais evidente quando se consulta a capacidade de pronto emprego da tropa em casos de emergência, de acordo com os plantões. Para atender municípios da região da Grande Maceió, há cerca de 30 bombeiros; para Penedo, 10; Arapiraca, 12; Maragogi, uns 10, e para 26 municípios sertanejos de 12 a 15 por dia, segundo uma fonte da corporação.

“Somos tristemente surpreendidos com o número irrisório de 150 vagas para corporação. Uma frustração para todos nós. Eu queria entender de onde tiraram esse número. Vou repetir pra que fique claro pra todos: Só temos 82 soldados pra cobrir todo estado”, publicou o Sargento Ramalho, em seu perfil do Facebook.

Major Camila Paiva faz apelo a Renan Filho por mais vagas‘POLITICAGEM, NÃO’

O tenente-coronel Carlos Burity se manifestou nas redes sociais, na noite dessa quarta e pediu que a tropa a compartilhasse o protesto. O oficial é símbolo de uma luta antiga contra a precarização do digno trabalho de salvar vidas, Burity destacou que faz parte de uma instituição que é sonho de muitos jovens alagoanos. Ele dirige a Comunicação do Corpo de Bombeiros, mas não deixa de repudiar o que considera ser politicagem com a tropa.

“Instituição que salva vidas e é amada pelo povo alagoano depois de 10 anos recebe esse prêmio? Estou decepcionado! Salvar vidas. Esse é nosso juramento! Atenção meus companheiros, continuaremos pobres, mas sempre seremos limpinhos! Política pode ser nobre, politicagem conosco não!”, escreveu o oficial em seu perfil do Facebook.

A major Camila Paiva também se manifestou contra a abertura de apenas 150 vagas. E pediu diretamente ao governador Renan Filho para que reavalie a quantidade irrisória de vagas diante dos 11 anos sem concurso e do fato de que são previstos mais de 1300 soldados no quadro e atualmente só há 82 para atender a todo o Estado.

“Se torna quase impossível prestar um serviço de excelência, como é o nosso objetivo diário, se não temos efetivo suficiente para que continuemos dedicando nossas vidas à sociedade alagoana. Espero que o Governo conheça os números que mostram o quanto defasado está nosso efetivo, contendo menos da metade do necessário, e se sensibilize com a situação da Corporação primeiro lugar em nove anos consecutivos como a Instituição de maior credibilidade do país; e mais ainda se sensibilize com a população, motivo exclusivo da nossa existência e da nossa missão!”, escreveu a major Camila Paiva. 

Alagoas já mostrou não ter contingente de bombeiros adequado para atender grandes tragédias, ainda em 2010, quando enchentes levaram destruição a 19 municípios e o alagoano teve de contar com o esforço e o compromisso da tropa, para socorrer as vítimas da catástrofe que matou 27 pessoas.

Até a madrugada desta quinta-feira (23), no Facebook, já somavam mais de 400 compartilhamentos e comentários de apoio ao protesto dos bombeiros. O Diário do Poder não conseguiu contato com representantes do Governo de Alagoas.

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