Petrolão

Gerente da Petrobras diz que não desconfiou de propinas

Lacerda fez parte do grupo que contratou empresa investigada

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Vítor Tiago Lacerda, gerente da área de engenharia da Petrobras, disse há pouco, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, nunca ter desconfiado de pagamento de propinas para a contratação da empresa italiana Saipem, encarregada de construir um gasoduto da linha de Lula Nordeste-Cernambi, na bacia de Santos.

Lacerda fez parte do grupo de trabalho que contratou a empresa e a Saipem é investigada por suspeitas de pagamento de propina em troca do contrato.

A Saipem foi a única empresa a apresentar proposta para a construção do gasoduto, de 19 quilômetros de extensão. Ao responder a uma pergunta do relator da CPI, deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), Lacerda argumentou que o negócio não era atraente para outras concorrentes.

“Era uma obra relativamente pequena e muito complexa, por ser em águas profundas, com mais de mil metros de profundidade, então isso afastou outras empresas interessadas”, disse.

Propinas
Lacerda afirmou que, no período de negociação para a contratação, nunca teve contato com a cúpula da diretoria de serviços, à qual o setor de engenharia estava subordinado, Ele se referiu especificamente ao então diretor Renato Duque e ao então gerente-executivo Pedro Barusco – acusados de envolvimento em recebimento de propina pela Operação Lava Jato. “Nunca tive contato com eles pessoalmente”, disse.

Ele também negou ter conhecido, no período em que a Petrobras negociava a contratação da obra do gasoduto, o empresário João Antonio Bernardi, representante da Saipem acusado de pagar propina a Duque.

Custos
O deputado Bruno Covas (PSDB-SP) perguntou por que a Petrobras reduziu a estimativa de custos da obra até que ela se encaixasse na proposta da Saipem. A Petrobras aceita pagar até 20% a mais do que o custo estimado de qualquer obra.

“A Petrobras estimava a obra em R$ 228 milhões e a Saipem apresentou a proposta de R$ 286 milhões, acima do limite aceitável pela Petrobras. Como a empresa acabou sendo contratada?” perguntou o deputado. Lacerda explicou que foram feitas várias reuniões de negociação com a Saipem e houve uma redução do custo estimado pela Petrobras; nesse processo, a estatal reduziu sua estimativa de custos para R$ 210 milhões, ao passo que a Saipem reduziu suas pretensões para R$ 248 milhões.

“Então, foi um milagre ou a estimativa da Petrobras estava superfaturada?” perguntou o deputado.

“A Petrobras reduziu a sua estimativa porque retirou um equipamento que deveria ficar no meio do gasoduto, numa forma de tentar atrair mais empresas para a concorrência. Como a empresa também reduziu seu preço, isso foi bom para a Petrobras”, explicou o empresário.

Depois de ganhar a concorrência para a construção da linha Lula Nordeste-Cernambi, a Saipem ganhou um contrato maior. Em dezembro de 2011, a empresa italiana apresentou o menor preço na concorrência da Petrobras destinada à contratação do serviço de instalação dos 380 quilômetros de linhas com a proposta total de R$ 1,013 bilhão.

Inversão
A pedido do deputado Ivan Valente (PSol-SP), a ordem dos depoimentos foi trocada, e a CPI já começou a ouvir o doleiro Leonardo Meirelles.

A comissão está reunida no Plenário 13. (Agência Câmara)

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