Facada já não é crime no DF?

Fotógrafo flagra tentativa de homicídio, mas bandido é liberado

Polícia do DF liberta bandido flagrado esfaqueando sua vítima

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O carnaval de Brasília tem crescido ao longo dos anos, aumentando, consideravelmente, o número de foliões nos blocos. Com mais gente nas ruas, a violência tomou conta da folia, em especial nos blocos Baratona e Raparigueiros, no último domingo (26) e terça-feira (28). O fotógrafo Minervino Junior, do Correio Braziliense, flagrou o momento em que um bandido esfaqueou um homem durante a festa. A tentativa de homicídio foi um dos vários casos de violência registrados nos blocos.

O autor da facada é Luan Ferreira Máximo, de 18 anos. Ele foi preso por policiais militares perto da Rodoviária do Plano Piloto e levado à 5ª Delegacia de polícia, na região central de Brasília. Apesar das provas contra ele, acabou liberado pouco tempo depois. A violência assustou, assim como a falta de providências nesse caso.

Segundo a assessoria de comunicação da Polícia Civil, a avaliação da ocorrência é feita pelo delegado “em sua autonomia constitucional, e não pela Polícia Civil enquanto Instituição. É uma prerrogativa que decorre da Constituição e da lei”, explicou.

Ainda segundo a assessoria, a “falta” de vítimas e a falta de registro oficial impedem que o flagrante seja registrado, mesmo diante de imagens de câmeras. “O registro posterior à soltura do suspeito não poderia ter surtido efeito para o flagrante, já que não havia mais ninguém detido. Trata-se de um episódio isolado”, disse a assessoria.

De acordo com a assessoria, mesmo com as fotos que comprovaram o crime, a “diligência policial ficou pela metade”.

Flagrante

Minervino Junior trabalhava durante o carnaval e fazia imagens de cima do trio elétrico. Segundo ele, havia muitas brigas generalizadas. “Percebi, olhando de cima, que alguns foliões aproveitavam a multidão para cometer alguns furtos. E alguns reagiam e começavam as brigas”, explicou.

Em relação à faca, o fotógrafo só identificou a arma após visualizar as fotos que havia feito. Ainda segundo o profissional, alguns policiais militares subiram no trio para identificar quem estava causando as confusões. “Mostrei a foto com os detalhes da camisa do autor das facadas”, disse. Ele foi preso pouco depois.

De acordo com o fotógrafo, a briga aconteceu por volta das 22h, no entanto, confusões eram vistas a todo instante. “Achei que havia poucos PMs para um grande número de foliões”, avaliou.

Sobre a polícia ter liberado o agressor, Minervino lamenta que as provas não tenham sido “suficientes”. “Sinto muita revolta em pensar que a foto não pode servir como prova. O rapaz agredido tinha sido roubado por um amigo do agressor. Por isso começou a briga, ele tentou reaver o relógio”, completou

Carnaval

Pelo menos três pessoas foram esfaqueadas nos dois blocos – Raparigueiros e Baratona. No total, foram registrados 350 mil foliões nos dois dias de festa. Para evitar novos casos de violência, o governo do DF estuda alterar os locais de concentração para o próximo carnaval.

Dados da folia

Segundo o GDF, houve um aumento de 78% no público. A polícia apreendeu 20 facas e vândalos depredaram 75 ônibus, de acordo com levantamento. Apesar disso, o GDF diz que houve redução de 15% nas ocorrências policiais. No trânsito, 245 veículos foram apreendidos em 163 operações da Lei Seca. Foram 69 acidentes com cinco mortes.

Resposta da Polícia Civil do Distrito Federal

O diretor de comunicação da PCDF, Delegado Miguel Lucena explicou que a ocorrência foi avocada pela Corregedoria Geral de Polícia e redistribuída à Coordenação de Homicídios. E o caso será apurado como tentativa de homicídio. "Faz parte do poder correcional avocar, chamar para si o feito, já que o delegado tem autonomia para decidir e não pode ser obrigado a mudar sua decisão. Ao avocar, chamar para si, a Corregedoria entendeu que se tratava de crime mais grave e designou uma unidade especializada para apurar o fato".

Brigas:

A sequência mostra a ação dos criminosos atacando e roubando foliões. (Fotos: Minervino Júnior, do Correio Braziliense)

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