Agência de risco

Fitch: baixa performance do País se torna estrutural

Apesar das dinâmicas desafiadoras, elas não são 'explosivas'

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A agência de classificação de risco Fitch afirmou nesta terça-feira, 8, que os ratings soberanos de México e Brasil vão divergir ainda mais e que focará na dinâmica da dívida e no crescimento quando avaliar o Brasil.

A Fitch classifica o Brasil com rating BBB, tendo alterado sua perspectiva para negativa em abril, enquanto o México é classificado como BBB+. "A baixa performance do Brasil está se tornando estrutural", disse a diretora sênior de ratings soberanos da Fitch, Shelly Shetty, durante conferência em Londres.

Os custos dos contratos de swap de default de crédito (CDS, na sigla em inglês) de cinco anos dos dois países começaram a se distanciar em meados de 2013 e agora o Brasil está em mais de 300 pontos-base, enquanto o México está abaixo de 150 pb.

"O foco de nossa atenção será sobre a dinâmica de crescimento e dívida. Não há limiar mágico que estejamos olhando", disse ela, acrescentando que o Brasil era um país altamente endividado mesmo quando recebeu o grau de investimento. Ela apontou como positivo o fato de a parcela da dívida em moeda estrangeira ser de menos de 10% do total.

Desafio. A Fitch disse que as dinâmicas de dívida no Brasil são desafiadoras, mas não "explosivas". A Fitch afirma que o Brasil tem desafios crescentes na questão fiscal e também no crescimento. O crescimento médio de cinco anos está abaixo da mediana dos países com rating na faixa BBB e a inflação está bem acima da mediana desse grupo. Já o superávit primário vem caindo basicamente desde a média de 3,6% entre 2003 e 2005 e se transformou em déficit no ano passado. "A meta de superávit (para este ano) foi reduzida de 1,1% para 0,15%", aponta a agência na apresentação.

Na semana passada, após o governo enviar ao Congresso a proposta orçamentária para o ano que vem com déficit de R$ 30,5 bilhões, a diretora disse que as mudanças feitas pelo governo no cenário fiscal colocam a tendência para a obtenção de superávits primários "muito abaixo" do cenário base usado pela agência em sua última revisão do rating do Brasil. "[As revisões] refletem os crescentes riscos para a trajetória das finanças públicas e da dívida".

Na apresentação desta terça-feira, a Fitch aponta que a dívida bruta brasileira estava em quase 60% do PIB no fim de 2014, acima da mediana da faixa BBB, de 40%, enquanto os gastos com juros como porcentual das receitas do governo estavam em mais de 15%, sendo que a mediana do grupo é de menos de 10%. "As dinâmicas de dívida são desafiadoras, mas não explosivas", afirma o texto, mostrando um gráfico que mostra que a dívida brasileira deve rodar perto de 65% até 2017.

Nesse slide, intitulado "Brasil: o grau de investimento está em risco?", a Fitch lembra que quando a Croácia foi rebaixada para o nível especulativo, em 2013, o principal motivo foi o crescimento fraco e os desafios fiscal. Na época, a dívida bruta daquele país estava em 69% do PIB.

Mesmo assim, a apresentação indica que o Brasil ainda tem alguns pontos positivos, como a alta proporção de dívida em moeda local e as contas externas robustas, inclusive com uma melhora na balança comercial nos últimos meses. A agência aponta ainda que a inflação está acima da meta, mas que as expectativas estão melhor ancoradas.

Os desafios políticos, no entanto, crescem, com a popularidade da presidente Dilma Rousseff em uma mínima recorde. A Fitch também cita a recente desvalorização do real e a leve redução nos estoques de swap cambial nos últimos meses. (AE)

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