Fim de um projeto

Figueiredo deixa ANTT e será substituído por Paulo Sergio Passos

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O desespero do governo para evitar que atrasos nas concessões de rodovias e ferrovias criassem más notícias às vésperas das eleições foi uma das causas do desgaste do presidente da Empresa de Planejamento e Logística (EPL), Bernardo Figueiredo, que deixa o cargo no início de dezembro.

O Diário do Poder apurou que Figueiredo será substituído pelo ex-ministro dos Transportes Paulo Sérgio Passos, já indicado e empossado na diretoria da EPL, conforme a coluna Claudio Humberto revelou com exclusividade em 26 de outubro.

Passos havia sido indicado para o conselho diretor da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), mas recebeu ordens para ele próprio solicitar o cancelamento de sua sabatina no Senado momentos antes de sua realização. O relator era o senador Alfredo Nascimento (PR-AM), seu antecessor no Ministério dos Transportes, e o Palácio do Planalto obtivera a informação de que ele seria reprovado da Comissão de Infraestrutura. Já no dia seguinte, uma reunião do conselho de administração da EPL, meramente formal (na verdade, nem sequer foi realizada porque havia integrantes que nem estavam em Brasília), aprovou a indicação do seu nome para o cargo de diretor.

Pouco mais de um ano após assumir a estatal, Figueiredo aceitou em silêncio a perda de prestígio, mas não esconde dos mais próximos o cansaço de assistir a agenda eleitoral se sobrepor às discussões técnicas, segundo reportagem de Anne Warth para o jornal O Estado de S. Paulo desta quarta-feira. Sua ideia era ficar até o fim de 2014. Ao longo do ano, percebeu que sairia quando suas opiniões deixaram de ser levadas em conta por Dilma Rousseff.

Os maiores embates ocorreram com a ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, que tomou a frente do Programa de Investimentos em Logística (PIL), uma das bandeiras eleitorais de Dilma e Gleisi, que deve disputar o governo do Paraná.

Enquanto era escanteado das decisões mais importantes, Figueiredo dizia nos bastidores que atrasos na licitação das rodovias e ferrovias deveriam ser assumidos como parte normal do processo. Na avaliação dele, os editais só deveriam sair depois que todas as questões econômicas e de engenharia fossem discutidas com investidores e com a sociedade, incluindo governos estaduais e municipais, segundo interlocutores.

Mas, diante das cobranças de que o programa completaria um ano sem o leilão de nenhum lote, e faltando um ano para as eleições, Gleisi assumiu o controle de todo o processo. Segundo interlocutores, Figueiredo defendia maior consistência nos projetos. Apesar de várias sinalizações ruins dos investidores, principalmente a respeito do pedágio elevado, o governo licitou a BR-262 em setembro. Não houve interessados.

Só então o governo aceitou rever questões como a previsão de crescimento do PIB nos estudos dos editais. Antes fixada em 4,5% ao ano, ela foi reduzida para 3,5% e, depois, 2,5%. A projeção de crescimento do tráfego caiu de 1,2 para 1. Para Figueiredo, tudo isso poderia ter sido revisto antes, de uma só vez, e não na base da “tentativa e erro”. Segundo fontes ouvidas pelo Estado, Figueiredo relatou a insatisfação em reuniões com o núcleo do Planalto.

A falta de investidores nacionais também atrapalhou. Após roadshows para convocar estrangeiros, Gleisi não quis aguardar que os investidores firmassem parcerias no País, mais uma vez para não atrasar o cronograma. Segundo auxiliares, Bernardo discordou e sugeriu aguardar a chegada desses investidores para os leilões.

Houve também conflitos com o Ministério da Fazenda, sobre o retorno dos investimentos, e com o Tribunal de Contas da União (TCU), sobre a função da Valec na compra e venda da capacidade de carga das ferrovias. Um dos episódios que marcou o enfraquecimento de Bernardo foi o Trem de Alta Velocidade (TAV). Ele propôs que a Taxa Interna de Retorno (TIR) fosse maior que a de rodovias e ferrovias, chegando a 8%. Dias depois, a Fazenda fixou em 7%, comprovando sua perda de prestígio no governo.

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