Ex-prefeito mandou matar para ocultar fraudes, diz polícia de Alagoas
Polícia: ex-prefeito quis incriminar sucessora em assassinato
A Secretaria de Segurança Pública de Alagoas (SSP/AL) divulgou, na tarde desta terça-feira (26), durante entrevista coletiva, que o ex-prefeito de Palestina (AL) José Alcântara Júnior, o “Júnior Alcântara” (PMDB), e o vereador Luciano Lucena de Farias (PMDB) participaram do assassinato do caseiro José Arnóbio Gomes Feitosa, 60 anos, em maio deste ano de 2017.
A trama criminosa tentava simular um assalto para dar fim a documentos que comprovariam fraudes praticadas durante a gestão de Júnior Alcântara à frente da prefeitura, segundo os investigadores da Polícia Civil. O ex-prefeito acusado de ser autor intelectual do crime foi preso com o vereador na última sexta-feira (22), junto com outros três acusados.
De acordo com a investigação policial, o sequestro seguido de morte, em 27 de maio, também serviria para tentar incriminar a atual prefeita Lane Cabudo (PSD), que derrotou Alcântara com diferença de um voto, na eleição de 2016.
A SSP informou ainda que, logo após a morte do caseiro, Júnior Alcântara – que é partidário do governador Renan Filho (PMDB) – entrou em contato com autoridades pedindo que o crime não ficasse impune, prendendo os responsáveis, e justificando o sumiço da documentação de sua gestão.
O prefeito chegou a ser ouvido em depoimento, mas a polícia não conseguiu informações pelo fato de o crime não ter tido testemunhas, o que dificultou a identificação da autoria do crime. A vítima trabalhou por 15 anos para o ex-prefeito da cidade de Palestina.
O coordenador da Divisão Especial de Investigação e Captura (Deic), delegado Mário Jorge Barros, disse que a vítima estava trabalhando na chácara de propriedade do ex-prefeito, quando um carro com alguns homens armados chegou ao local informando que iriam buscar uma documentação.
O delegado relatou que dias antes do sequestro, houve uma reunião entre o ex-prefeito e correligionários. Júnior Alcântara relatou que na casa onde a vítima trabalhava havia uma documentação que comprovaria atos ilícitos da sua gestão. Foi quando nasceu a trama que o blindaria de uma eventual investigação sobre improbidade administrativa.
Logo após raptar o caseiro, os suspeitos fugiram. Sem testemunhas, a polícia fez uso do serviço de inteligência e de ordem judiciais para chegar aos responsáveis. Os telefones dos acusados foram analisados, inclusive, com interceptações telefônicas. A polícia diz que foi uma surpresa quando se depararam com o ex-prefeito sendo o autor intelectual do crime.
Além de Júnior Alcântara e de Luciano Lucena, foram presos Daniel da Silva Carvalho, O “Daniel Gordinho”; José Edison Pinheiro da Silva, o “Sula”; e Thiago Correia de Brito. A polícia revelou que o depoimento dos acusados foram contraditórios e todos eles negaram a participação do crime. Contudo, a Deic assegura que há informações que apontam a participação de todos no sequestro e, posterior, morte.
CONDENADO ESTAVA LIVRE
A Justiça Alagoana já conhece o vereador Luciano Lucena, que, após quatro adiamentos e decretação de prisão, foi jugado condenado em novembro de 2016 a uma pena de 15 anos e sete meses de reclusão pela morte de Manoel Messias Simões, ocorrida no dia 21 de junho de 2009, em Pão de Açúcar (AL).
À época, o Juri ainda decidiu que o réu deveria pagar indenização de R$ 10 mil à família da vítima, assassinada porque teria xingado o vereador de ladrão, durante uma partida de baralho.
Mas vereador condenado foi posto em liberdade por decisão do desembargador Sebastião Costa Filho, do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL), no dia 15 de dezembro.
Sua prisão havia sido decretada antes da realização do Juri e foi reforçada na sentença de condenação. Mas Costa Filho argumentou que “o fundamento da necessidade da prisão para conveniência da instrução criminal encontra-se superado ante a superveniência de sentença condenatória”.