Corrupção

Ex-diretor da Siemens revela pressão de Portella, secretário de Serra

José Luiz Portella é acusado de pressionar a Siemens em nome de Serra

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O engenheiro Nelson Branco Marchetti, ex-diretor técnico da divisão de transportes da Siemens, relatou à Polícia Federal ter sofrido pressão de setores do governo de Sâo Paulo, em 2008, para que a multinacional alemã desistisse de recurso administrativo e de medidas judiciais contra a escolha da espanhola GAF na licitação de 320 vagões para a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), segundo noticiou o jornal O Estado de S. Paulo. Ele cita José Luiz Portella, ex-secretário estadual dos Transportes Metropolitanos em São Paulo, à epoca, como autor das pressões. Segundo Marchetti, Portella “determinou que os concorrentes tentassem solução de sub fornecimento” para demover a Siemens do plano de contestar a qualificação da CAF.

Marchetti é um dos 6 executivos que trabalharam na Siemens e assinaram acordo de leniência com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para revelar a ação de cartéis 110 setor metroferroviário que teriam conquistado licitações milionárias dos governos do PSDB Mário Covas, José Serra e Geraldo Alckmin, de 1998 a 2008. A PF investiga a acusação revelando um esquema de corrupção na ação dos cartéis.

O ex-diretor técnico afirma que Portella “sugeriu que a Siemens desistisse dos recursos e, como forma de se beneficiar de parte da licitação, passasse a buscar um acordo com a CAF para ser subfornecedora de peças”, Marchetti ocupou o cargo na Siemens entre fevereiro de 2007 e dezembro de 2008. “Era encarregado de manter contato com agentes públicos. Contatos frequentes com Portella e seu vice, João Paulo de Jesus Lopes. Da CPTM, contatos com seu presidente, Sérgio Avelleda, que depois se tornou presidente do Metrô, bem como com diretores da CPTM.” Sucedeu a Everton Rheinhemer, a quem é atribuída a autoria de carta anônima, de 2008, ao ombudsman da Siemens na Alemanha, na qual relata condutas anticompetitivas de multinacionais no Brasil e pagamento de propinas nos setores de energia e dos transportes públicos de massa.

“No edital havia a exigência de um capital social integralizado que a CAF não possuía. Mesmo assim, o então governador do Estado (José Serra) e seus secretários fizeram de tudo para defender a CAF”, afirma o ex-executivo da Siemens, em depoimento de 5 de novembro.

O depoimento de Marchetti preenche 6 páginas. Ele disse que houve “tentativa de formação de cartel com a Alstom” Revelou combinações de preços, ajustes prévios, reuniões reservadas, além de grande empenho de autoridades do governo paulista, na ocasião, em fechar contrato com a CAF. O engenheiro alega que explicou a Portella que a Siemens tinha condições de prosseguir sozinha no projeto, não tinha motivos para desistir da licitação. “A CAF foi qualificada e a Siemens apresentou recurso administrativo contra a decisão, que foi negado.”

A Siemens foi à Justiça, com mandado de segurança. Pediu suspensão da licitação e revogação da qualificação da CAF. A liminar foi concedida em primeira instância judicial. “Com isso, aumentou a pressão da CPTM, através de Avelleda e da Secretaria dos Transportes,_ por meio do secretário e do vice, para que a Siemens desistisse e deixasse o contrato ser firmado rapidamente com a CAF.”

Marchetti relatou encontro com Serra e Portella, “em meio a esse período de pressão”, durante evento em Amsterdã da International Union of Railways (UIC). “Aproveitei para dizer que entendia que minha empresa estava certa e que não tinha intenção de desistir de recorrer, caso a CPTM decidisse pela qualificação da CAF.”

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