Viaja Rousseff

Dilma viaja o dobro e conversa menos em 2014

Levantamento da agenda de Dilma mostra: viagens dobraram este ano

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Entre 1º de janeiro e 20 de março de 2014, a presidente Dilma Rousseff visitou, em agenda oficial, 20 cidades brasileiras. O número é o dobro do registrado no mesmo período de 2013. Em contrapartida, levantamento feito pelo Broadcast Político, mostra também que, neste início de ano eleitoral, a presidente recebeu menos empresários e políticos para reuniões na comparação com o ano anterior.

Os eventos preferidos da presidente durante as viagens de 2014 são formaturas do Pronatec, entrega de unidades do Minha Casa, Minha Vida e de máquinas a prefeituras pelo PAC Equipamentos, o que tem gerado críticas da oposição. “É uma agenda presidencial medíocre. Nunca vi o (Barack) Obama ou o (François) Hollande distribuindo tratores e caminhões”, disse o deputado Marcus Pestana, presidente do PSDB-MG, no fim de fevereiro, durante visita de Dilma a seu Estado.

Enquanto aumentou o espaço para viagens pelo País na agenda da presidente, diminuiu o tempo destinado a encontro com empresários e políticos da base aliada, que têm reclamado de “dificuldade de interlocução” com a presidente. Em 2014, Dilma fez apenas duas audiências com representantes do setor produtivo – recebendo no Palácio do Planalto os presidentes da Cosan, Rubens Ometto, e da Copersucar, Luís Roberto Pogetti. No mesmo período em 2013, foram 21 encontros.

Entre os que tiveram audiência com Dilma no ano passado estão pesos pesados do PIB como os banqueiros Emílio Botin, do Santander, e Roberto Setubal, do Itaú Unibanco. Foram recebidos ainda os empreiteiros Marcelo Odebrecht e Sérgio Andrade, e Eike Batista – recebido duas vezes. Além de representantes de associações setoriais, como o presidente da Confederação Nacional da Indústria, Robson Andrade, e da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Paulo Skaf.

Neste ano, além do encontro com Ometto e Pogetti, Dilma se reuniu com empresários apenas em períodos de viagens para o exterior, como no Fórum Econômico Mundial, em Davos na Suíça. “Acho que ela parou de receber porque estava dando errado. Todo mundo que ela recebia, seja empresário ou político, saía insatisfeito”, afirmou um empresário, que preferiu manter o anonimato.

Contrariados, empresários ouvidos pelo Broadcast Político não fogem da comparação com a gestão de Luiz Inácio Lula da Silva, que, segundo eles, era mais aberto ao diálogo, mesmo que nem sempre levasse em conta o que havia sido conversado na hora de tomar decisões.

Uma fonte em Brasília, que também não quis se identificar, diz que o fato de Dilma centralizar as decisões atrasa o andamento dos processos. “Ela não conversa. O ministro conversa e ela desautoriza. Aí volta tudo à estaca zero”, reclama. Há ainda a impressão de que Dilma não gosta do empresariado e que parte dos problemas enfrentados vem da falta de habilidade do governo em escutar.

Ex-presidente da Fiesp, Horácio Lafer Piva reclama que o governo, quando conversa, o faz apenas com poucos representantes, os de sua confiança. Piva argumenta que “em todos os lugares do mundo o presidente cria espaços para ouvir empresários, e quanto mais transparente e regular, melhor”. “Não tem havido mais interações, que são fundamentais, não somente para que o lado de cá procure entender a racionalidade das decisões do governo, como por parte dele para entender o sentido de urgência da economia real”, reclama.

O presidente da Confederação Brasileira da Indústria da Construção, Paulo Safady Simão, diz que seu setor não pode reclamar do relacionamento com o governo. “Temos acesso a ministros, falamos nos órgãos. Fazenda, Planejamento, Trabalho um pouco menos”. Simão acha, porém, que o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) é pouco explorado e que o estilo de governo da presidente é diferente e dificilmente vai mudar. “Talvez, se ela estivesse mais próxima do empresariado, teria tido ideias melhores”, afirmou.

Mesmo que a agenda oficial mostre uma dificuldade de contato direto com a presidente da República, as reclamações não são unanimidade. O presidente da Cargill no Brasil, empresa do ramo do agronegócio, diz que sempre teve “um diálogo ótimo com o governo”. “Sempre fomos muito bem recebidos”, afirma.

Políticos

Além dos empresários, Dilma também dedicou menos espaço aos políticos. Eles tiveram 12 encontros com a presidente este ano, contra 24 em 2013. Essa dificuldade para diálogo foi uma das principais reclamações dos parlamentares da base aliada na Câmara que formaram o “blocão”. O grupo de dissidentes impôs algumas derrotas ao governo em votações, como no caso da convocação de ministros para prestar esclarecimentos, e ainda dificulta a votação do Marco Civil da Internet.

Em compensação, a presidente se reuniu mais com seus auxiliares: foram 66 audiências com ministros, secretários e outros integrantes do governo em 79 dias. No ano passado, foram 52 no mesmo período.

Senador pelo PMDB, partido da base aliada, e empresário do setor de transportes, o mineiro Clésio Andrade reclama da burocracia do governo. “Tirando o Minha Casa Minha vida, que é um excelente programa, as ações do governo não andam”, afirma. Clésio classifica como “falha” a estrutura gerencial do governo federal.

A assessoria de imprensa da Presidência da República foi procurada para comentar, mas não respondeu à reportagem. (José Roberto Castro e Carla Araújo/Agência Estado)

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