Votação às escuras

DF: articulações podem salvar Raad da guilhotina

Decisão da Justiça de esconder voto pode assegurar a absolvição

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Prestes a escapar da degola, o deputado distrital Raad Massouh (PPL) já comemora um possível resultado contrário à sua cassação pelos colegas da Câmara Legislativa. A conquista judicial ao direito ao voto secreto no plenário tende a esconder as vozes dos parlamentares propensos a salvar o colega da perda do mandato. Para levar transparência ao eleitor, que colocou e mantém os 24 distritais na Casa, o Diário do Poder tenta quebrar a cortina de fumaça e revelar a cara dos políticos que estão dispostos a ser transparentes mesmo após a decisão judicial.

O levantamento identificou que menos da metade dos parlamentares remunerados com dinheiro público assumem divulgar o voto no plenário durante o processo que pede a cassação de Raad. Ele é acusado de participar de um esquema que desviou recursos de uma emenda parlamentar de R$ 100 mil, liberada por ele mesmo, para um evento cultural em Sobradinho, em 2010. O parlamentar deveria ter tido processo de perda de mandato votado no plenário em setembro, mas o trâmite foi suspenso por força desse mandado de segurança derrubado na terça (23).

Dos 23 votos dos parlamentares, a expectativa é que 14 se posicionem contrários à perda do mandato do colega. Uma operação ?Salva Raad? é arquitetada nos bastidores para convencer os 13 ‘ aliados’ para evitar que o suplente dele, o base-aliada-oposicionista Paulo Roriz assuma a vaga. Primo do ex-governador Joaquim Roriz, Paulo era secretário de Entorno do DF até hoje (24) quando o governador em exercício, Tadeu Filippelli (PMDB), resolveu exonerá-lo depois de assistir ao vídeo em que fala mal do governador Agnelo Queiroz (PT), da atual gestão e da construção do Estádio Mané Garrincha.

No entanto, a força da base aliada parece ter se ruído. Dos 13, Patrício (PT) e Joe Valle (PDT) não assumem terem acordado a salvação do político. Dos seis petistas da Casa, dois já admitem cassar o parlamentar, enquanto quatro devem seguir o possível acordo com o governo. Segundo a assessoria de imprensa da deputada Arlete Sampaio (PT), a deputada não vai adiantar o posicionamento, mas vai tornar público o voto no momento da votação em plenário. Já Cláudio Abrantes (PT) informou, por meio da assessoria, que não deve anunciar a decisão. A assessoria do presidente da Câmara, Wasny de Roure (PT), não retornou às ligações da reportagem. ?Ninguém tem coragem de me propor acordos. Vou tornar meu voto público no plenário no dia da sessão?, adiantou Chico Leite (PT).

Os deputados Olair Francisco (PTdoB), Luzia de Paula (PEN), Aylton Gomes (PR), Robério Negreiros (PMDB), Washington Mesquita (PTB) vão se aproveitar da cortina para manter decisão às escuras. Pré-candidata ao governo nas próximas eleições, a distrital Eliana Pedrosa (PSD) alegou, por meio da assessoria de imprensa, que adiantar o voto seria quebra de decoro e por isso ficaria em sigilo. Deixaram de responder à reportagem os deputados Benedito Domingos (PP), Cristiano Araújo (PTB), Wellington Luiz (PMDB), Roney Nemer (PMDB) e Evandro Garla (PRB). Nos bastidores, é comentado que grande parte deles se articulam na operação que salva Raad.

Relator do parecer que pedia a cassação do deputado, Joe Valle não será incoerente e votará em acordo com a deputada Celina Leão (PDT). Ambos alegam cassar o colega. “Temos que ser transparentes”, reforçou a pedetista. Na mesma linha estão os distritais Liliane Roriz (PRTB), Patrício (PT), Professor Israel (PV) e Doutor Michel (PP). Os seis defendem a transparência na Casa e lutam para derrubar as máscaras dos colegas.

?Sempre deixei clara a minha posição de que o farto material que recebemos da Justiça é bastante substanciado com relação às acusações. Como corregedor, apresentei meu parecer à luz dos autos, mais de 3 mil páginas, do Regimento Interno, do Código de Ética e da Constituição. Minha posição está mantida pela cassação e esse será o meu voto em plenário?, disse Patrício. Já os parlamentares Agaciel Maia (PTC) e Chico Vigilante (PT) nem sequer atenderam às insistentes ligações da reportagem.

Mas apesar do cenário favorável, a personalidade difícil do deputado Raad na Câmara pode contar contra ele.  Especula-se que o parlamentar pode ter mais votos que espera em favor da quebra de decoro. “É possível que alguns até aproveitem a votação secreta para se vingar dele”, contou uma fonte da Casa. “Só mesmo uma articulação forte do governo vai salvá-lo da degola”, alertou outra pessoa. A Câmara agora aguarda a notificação do processo do parlamentar para dar prosseguimento ao processo e agendar a data decisiva.

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