Segurança em Alagoas

Delegado recusa preso drogado que violou condicional, e PM ainda lhe dá carona

Com droga, tornozeleira; preso zomba: 'Pra mim, Brasil vai bem’

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Uma ocorrência policial de flagrante de posse de drogas e descumprimento de medida cautelar, em Maceió, voltou a expor o caos na Segurança Pública de Alagoas, cujo Sistema Prisional está prestes a ter unidades fechadas pela Justiça, por falta de vagas, e já recusa o reingresso de presos, há alguns meses. Em vídeo que se tornou viral nas redes sociais, nesta terça-feira (1º), um policial expõe sua indignação ao ser orientado libertar um jovem, que debocha da situação e é levado para casa, de carona, pela mesma guarnição que o prendeu.

O vídeo mostra o momento seguinte à prisão ocorrida há cerca de um mês, de um reeducando identificado como Carlos, que foi levado até a delegacia da Central de Polícia do Farol para lavrar um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO) por posse de drogas e constatação da quebra da medida cautelar, imposta pelo Judiciário, com uso de tornozeleira eletrônica.

Cabo Bebeto ironiza e abraça preso diante da imprensa (Reprodução SBT)Nas imagens veiculadas no programa Plantão Alagoas, da TV Ponta Verde (SBT), o Cabo Bebeto narra ter sido orientado pelo delegado plantonista, Marcos Lins, a libertar o preso, porque, após exame de corpo de delito, o Centro de Operações Penitenciárias (Copen) contatou o policial para comunicá-lo de que não receberia o rapaz de volta ao sistema prisional.

O policial militar reagiu com indignação, diante das câmeras da imprensa, enquanto o transgressor da lei sorria e debochava da situação, considerada uma desmoralização para a Polícia Militar de Alagoas, pelo Cabo Bebeto.

“É uma beleza,meu irmão! Brasil! Eu vou levar ele em casa, agora. Para a polícia ficar desmoralizada o resto do dia, eu vou levar ele em casa, porque eu sou taxista, agora, de vagabundo. Viu? Quando eu chegar na casa desse cidadão de bem, eu vou liberar ele, lá, junto com a família, vou tomar um refrigerante com ele. E vai ficar tudo numa boa. Tô de graça. Tô morto. Beleza, pai. É! Fazer o quê, né? Brasil, né?”, ironiza o policial, indignado, enquanto o infrator da condicional desdenha: “A polícia prende, e a Justiça solta”, disse o rapaz identificado como Carlos.

O apresentador do Plantão Alagoas, Sikêra Júnior, completa a ironia, pedindo uma salva de palmas: "Ele está certo! Fazem isso com um senador da República, com um assessor de presidente, com o povo do PT. Fazem isso diariamente, por que não vão fazer com um fumador de maconha rafamé desse?", provoca.

Assista:

'ELEITOR É CULPADO'

Na semana passada, juízes alagoanos responsáveis pela Execução Penal no Estado denunciaram a não utilização de R$ 44 milhões liberados pelo Ministério da Justiça para o Sistema Prisional de Alagoas, para o governo de Renan Filho (PMDB). E o presidente do Tribunal de Justiça de Alagoas (TJ/AL), desembargador Otávio Leão Praxedes, tenta evitar a interdição em instalações inadequadas do sistema, solicitada pelos magistrados, por falta de estrutura, ausência de presídio semiaberto, superlotação, entrada de telefones, drogas e objetos proibidos e, obviamente, deficiência no uso de tornozeleiras eletrônicas.

Policial quis ser vereador em 2016, em Maceió (Foto: Divulgação)No fim da tarde desta terça-feira, Cabo Bebeto publicou um vídeo em seu perfil do Facebook, no qual esclarece que não teve a intenção de criticar órgãos públicos ou o Poder Judiciário. Mas o policial com 15 anos de carreira admitiu o desabafo feito no vídeo. 

“A gente sabe a dificuldade que é prender alguém na rua, por diversos fatores. Não é fácil, ainda mais prender reincidentes, porque vão aprendendo a cometer o crime, a fugir melhor da polícia. Foi um desabafo de alguém que está há 15 anos na Polícia Militar, lidando com as dificuldades por que o cidadão passa”, disse o policial que foi candidato a vereador pelo PTN, atual Podemos, em Maceió, em 2016. E obteve a 39ª maior votação, com 2.940 votos.

Além de explicar que se deixou filmar para esclarecer a situação à imprensa, daquele ato público, porque a equipe de reportagem já estava fazendo a matéria, Cabo Bebeto esclareceu que decidiu levar o preso para casa, para garantir a integridade física dele, bem como resguardar a sua guarnição, caso algo acontecesse com o rapaz, que seria deixado muito longe de casa e sem dinheiro. “Eu não ia deixar ele a pé, para que, de repente acontecesse algo com ele. E a minha guarnição iria responder”, argumentou.

Ele disse não ter direcionado a crítica a nenhum gestor público, no Estado governado pelo filho do senador Renan Calheiros. Mas culpou o cidadão comum por escolher mal os seus representantes, que fazem as leis que ele e o Judiciário fazem cumprir.

“Todas as nossas mazelas começam e terminam na política. Enquanto o brasileiro não valorizar, não tiver a consciência do quão é importante é o voto dele, a gente vai ver cenas iguais a essa e piores do que essa, no nosso dia-a-dia”, concluiu o Cabo Bebeto, no novo vídeo divulgado após a repercussão do caso.

Assista à explicação do Cabo Bebeto: 

O Diário do Poder não conseguiu falar com o delegado plantonista, Marcos Lins. Mas o presidente do Sindicato dos Delegados da Polícia Civil do Estado de Alagoas (Sindepol/AL), José Carlos André dos Santos, disse que não havia desfecho diferente previsto na legislação para o caso.

"Neste caso, a polícia civil não tinha o que fazer pq uso de drogas é caso de TCO (assina o termo e é liberado) e a quebra dos termos da tornozeleira eletrônica, por si só, não autoriza a prisão sem que haja orientação ou decisão judicial", disse o dirigente sindical.

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