Criminalidade sobe 3,42% em 2016 e Governo de Alagoas silencia
Renan Filho escolhe não explicar por que 2016 foi mais violento
Quase três meses após comemorar números inflados da diminuição histórica de mortes decorrentes de crimes no ano de 2015 em Alagoas, o início de ano de 2017 não tem nada de festivo para o governador Renan Filho (PMDB) e para seu ainda secretário da Segurança Pública, coronel Lima Júnior. Ao contrário do que faziam quase mensalmente aos primeiros dias de cada mês, janeiro de 2017 não teve nem terá convocação da imprensa para apresentação entusiasmada de avanços no combate à violência em Alagoas. A razão disso? A criminalidade resistiu e subiu 3,42% em 2016.
Como se não houvesse explicações a dar para Alagoas voltar a superar a média de cinco assassinatos por dia, o Governo de Renan Filho se limitou a publicar a péssima novidade de forma discreta, sem releases nem notas à imprensa. O Boletim Anual da Estatística Criminal de 2016 foi publicado somente na tarde desta tumultuada quarta-feira (25), que terminou com dois ônibus incendiados por criminosos na noite de Maceió.
Os dados de 2016 mostraram que o ano terminou com 1.875 mortes violentas; 62 a mais que os 1.813 crimes violentos letais e intencionais, os CVLIs, registrados em 2015. A média diária de mortes subiu de 4,97 para 5,12. E todo o segundo semestre de 2016 foi mais violento que o ano anterior, culminando com o alarmante fato de o mês de dezembro ter sido o mais violento desde 2013, registrando 196 alagoanos mortos; número também maior que os dos anos de 2011, 194, e 2012, 190.
O perfil das vítimas segue o mesmo: maioria era homem (95%), tinha entre 18 e 29 anos (46,8%), morreu por arma de fogo (77,8%), em locais públicos (54,7%) ou em casa e em suas imediações (39,8%), entre o sábado e o domingo (34%).
A publicação do relatório estatístico foi feita com atraso incomum, a seis dias do fim do mês de janeiro. Um cronograma bem diferente do que foi cumprido no festivo início do ano de 2016, quando Renan Filho celebrou, no 4º dia de janeiro, a redução de 18% (na verdade 17,6%) do número dos chamados crimes violentos letais e intencionais (CVLIs) em Alagoas. Mais recentemente, em outubro de 2016, o governador e seu secretário da SSP comemoraram publicamente o flagrantemente equivocado percentual 20,8% na redução de violência de 2016.
REPRESSÃO
Aliado aos avanços nos setores de inteligência policial e à integração das forças de segurança do Estado, o vertiginoso aumento de mortes de suspeitos pela polícia alagoana em supostas trocas de tiros não surtiu efeito nos números da criminalidade. O que parecia ser o fator psicológico capaz de acuar criminosos, só contribuiu matematicamente para o ano de 2016 ser mais violento que 2015.
Tais mortes pelas mãos do Estado foram ampliadas em 45% desde o último ano do governo anterior, passando de 77, em 2014; para 102, em 2015, e 111, em 2016. O curioso é que 85 das 111 mortes de suspeitos de crime ocorreram somente a partir de junho de 2016, quando iniciado o período da pré-campanha e campanha para as eleições municipais.
Desta vez, o silêncio de Renan Filho e de Lima Júnior na divulgação dos dados negativos soam muito mais preocupantes do que os ocultados motivos para a violência resistir à política de segurança pública baseada estritamente na repressão policial e quase nula integração de outras políticas públicas com o propósito de promover a pacificação do Estado.
No início da semana a sessão de estatísticas do site da Secretaria de Segurança Pública (SSP) de Alagoas ficou fora do ar e a assessoria de imprensa não explicou os motivos. Também não respondeu se os dados de dezembro já haviam sido contabilizados, nem quais seriam os números finais de CVLIs de 2016.
Sem respostas da assessoria, o Diário do Poder telefonou para o secretário da SSP, na terça-feira (26), pela manhã, à tarde e à noite. Somente após a publicação do boletim anual de 2016, nesta quarta, a assessoria retornou ao segundo e-mail enviado, afirmando que teria havido um “problema geral no site da Segurança Pública”. “Estávamos sem poder alimentá-lo também com matérias e demais assuntos”, disse a assessoria de comunicação da SSP.
Confira as estatísticas: