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Coronel leva filho para ver jogo em carro de Bombeiros em estádio

Subcomandante dos Bombeiros acomoda filho em carro de resgate

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Levar o filho ao estádio para assistir uma partida de futebol faz parte da cultura dos brasileiros. Mas enquanto mais de 10 mil pagaram para assistir ao duelo entre CSA e CRB, pela Copa do Nordeste, no último domingo (5), o filho adolescente do coronel Paulo Marques, subcomandante do Corpo de Bombeiros de Alagoas, assistiu à partida de dentro de uma das viaturas de resgate, camuflado entre os militares que tinham a importante missão de salvar vidas, no Estádio Rei Pelé, em Maceió-AL.

A denúncia recebida pelo Diário do Poder relata que o rapaz de 15 anos entrou no estádio de graça, junto com os militares, e assistiu toda a partida, ao lado do campo, vestido com uma camisa com um tom parecido com a cor laranja do fardamento dos Bombeiros.

Procurado pela reportagem, o coronel Paulo Marques deu algumas versões contraditórias para explicar a presença de seu filho no gramado. Primeiro, explicou que a viatura em que seu filho assistiu o jogo não estava em serviço,pois seria uma caminhonete vermelha, viatura que fica à disposição do subcomandante. Depois de ser informado que o Diário do Poder tinha uma foto de seu filho sentado dentro da viatura de resgate, estranhou: “É… Eu desconheço essa imagem”, reagiu no primeiro momento.

Viatura de resgate abrigou rapaz (Esporte Interativo)A denúncia relata que o adolescente havia sido entregue pelo pai, na saída do Quartel do Trapiche, a uma guarnição do Corpo de Bombeiros, que teria que dividir suas atenções com a tutela informal do herdeiro do coronel Paulo Marques. Mas o subcomandante dos Bombeiros disse que estava com o filho, mesmo de folga, no estádio. “Tinha um tenente-coronel presente. Mas eu estava lá na condição de supervisor-geral. E meu filho estava comigo. Não tinha ninguém tomando conta dele. Ele estava comigo”, garantiu.

Depois de a reportagem conversar com o oficial, que negou o ato abusivo, o Diário do Poder recebeu a informação de que o coronel telefonou para todos os bombeiros que estiveram em serviço no jogo, para saber quem tirou a foto. Foi quando uma segunda versão foi repassada pela fonte da reportagem, dando conta de que o coronel estava presente, mas que entrou com o filho no início do jogo, na caminhonete vermelha.

CONTROVÉRSIAS

O ponto central que não ficou claro foi como o rapaz, alheio ao trabalho dos bombeiros chegou ao espaço reservado para pessoas credenciadas, à beira do gramado.

Leia o relato do coronel Paulo Marques, na sequência em que as versões foram dadas, na conversa de cerca de seis minutos com o Diário do Poder:

1ª versão:

“Em um determinado momento, ele alegou que estava com um problema no pé, cansado por estar em pé… Porque eu estava em pé. E eu cheguei para ele e disse: ‘Sente aqui’. Abri a porta da viatura e ele sentou na porta da viatura, como qualquer atendimento que a gente possa fazer”.

2ª versão:

“Meu filho, que estava ali comigo, no estádio, assistindo, autorizado a estar no estádio, entendeu?… Chegou ali e eu disse sente aqui, pra ver o problema do sapato, e saiu, depois, da viatura”.

3ª versão:

“Meu filho foi, com meu outro filho ao estádio, meu filho adulto. E ele estava na arquibancada. Então, meu outro filho ligou para mim e disse: ‘Painho, o Leonardo – que é meu filho – torceu o pé’. Eu fui, pedi que ele entrasse, ele entrou, comigo, ficou comigo ali, botei ele sentado na viatura, olhei o problema dele. E aí, como já estava no término do jogo, não sei mais o menos o tempo do jogo, e nós ficamos até o final do jogo, lá. Para que ele não ficasse em pé”.

EVIDÊNCIA

Em um dos primeiros lances do jogo, aos dois minutos do 1º tempo, é possível ver que há uma pessoa assistindo a partida de dentro da viatura de resgate, no banco do motorista, acompanhando a cobrança de falta batida pelo volante do CSA Everton Heleno e defendida pelo goleiro do CRB, Juliano. 

Veja o lance da transmissão do canal Esporte Interativo e observe o movimento do rapaz, dentro da viatura de resgate, entre os 22 e 25 segundos do vídeo:

Clássico no futebol alagoano, o duelo entre CSA e CRB costuma virar palco de violência dentro e fora do campo. Na final do Campeonato Alagoano de 2016, por exemplo, as duas torcidas invadiram o gramado para lutar e o Corpo de Bombeiros foi acionado para salvar alguns dos feridos na batalha, enquanto eles mesmos se defendiam das brigas generalizadas.

Se as mesmas cenas se repetissem no jogo de domingo (5), a presença do adolescente seria um problema para as equipes de salvamento e para o próprio subcomandante dos Bombeiros, que poderia ter de optar entre garantir a seguraça do filho e cumprir a missão institucional do Corpo de Bombeiros.

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