Collor sugere freios em protagonismo dos EUA e da Rússia, na Síria
Comissão de Relações Exteriores debateu 'Fim da Pax Americana?'
O presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado (CRE), senador Fernando Collor (PTC/AL) fez um alerta diante do crescente embate entre os Estados Unidos e Rússia, após o bombardeio norte-americano a uma base militar na Síria. Durante o segundo painel do ciclo de debates promovido pela comissão na noite dessa segunda-feira (10), o ex-presidente afirmou que o momento atual vivenciado por um mundo preocupado exige reflexão, ponderação e freio em “certos protagonismos”.
Collor lembrou que, há 15 dias, a Comissão de Relações Exteriores deu início ao ciclo de debates “O Brasil e a Ordem Internacional: Estender Pontes ou Erguer Barreiras?” e, à oportunidade, a conjuntura mundial era diferente da que se encontra hoje. O debate contou com a presença do ex-ministro de Relações Exteriores, Celso Lafer, o professor Creomar de Souza e o consultor Joanisval Gonçalves debateram sobre o tema.
“O cenário mudou rapidamente, bastando para isso uma atitude unilateral passando por cima da ONU. O tema abordado, hoje, foi pensado há algumas semanas, mas está perfeitamente adequado ao momento atual. Neste contexto, exige-se reflexão, ponderação, freios em certos protagonismos e, sobretudo, diálogo”, defendeu Collor.
CONFIANÇA COMPROMETIDA
O professor e jurista Celso Lafer avaliou que Trump está colocando em pauta o não cumprimento de direitos e obrigações assumidas e a boa fé dos Estados Unidos no trato internacional, ao prometer que defenderá com agressividade a soberania americana em política comercial. Para ele, o mundo encontra-se hoje diante de um período de incertezas.
"É preciso ver o desdobramento da intervenção militar na Síria, a reação da Rússia e do Irã para saber quais são os próximos passos, em função da reação desses atores. O Oriente Médio é fonte de grande incerteza, com Estados falidos, em guerra civil, refugiados em penca e conflitos regionais e internacionais. A Coréia do Norte é problema da maior magnitude, por possuir armas nucleares", considerou Lafer.
Para o professor Creomar de Souza, a Pax Americana, vista como um consentimento vinculado à postura de hegemonia nas relações internacionais pode ter existido em um curto período da história recente, mas enfrenta hoje um processo de contestação em várias ordens. Ele apontou o crescimento da China em termos de desafio de segurança; o renascimento da Rússia via governo Putin, e a ideia de neo-eurasianismo, como ente libertador da Europa eslava.
Creomar ressaltou ainda o surgimento da Coréia do Norte, com sua diplomacia de comida por armas, de acesso a alimentos, para diminuir a velocidade de programa ou capacidades nucleares; e o terrorismo de matiz, que vai se tornando um elemento de contestação muito forte à Pax Americana e àquilo que ela representa, como a liberdade de comércio e os direitos humanos.
SÉCULO DE HEGEMONIA
Por sua vez, o consultor Joanisval Gonçalves ressaltou que os Estados Unidos estão diretamente envolvidos como potência hegemônica no sistema internacional há pelos menos 100 anos. O consultor que acompanhou as eleições americanas de 2016 no estado de Ohio, afirmou que "os dois grandes eleitores de Trump foram Barack Obama e Hillary Clinton".
“Trump efetivamente venceu as eleições. Ele jogou as regras do jogo político e venceu. O sistema político existente há mais de duzentos anos estabelece que, ainda que se ganhe por maioria popular, há que ganhar no colégio eleitoral. E assim ele o fez”, expôs Gonçalves.
O consultor ressaltou ainda que Trump, acima de tudo, é um "homem de negócios", e que a perspectiva do presidente americano irá mirar sempre nessa direção. "Trump é o primeiro presidente dos Estados Unidos que nunca ocupou cargo público, posição ou cargo no governo ou foi membro das Forças Armadas. Ele conseguiu falar a língua do americano médio, sendo bilionário e pertencente à elite da potência mais rica do planeta", completou.
O terceiro painel da CRE sobre política internacional ocorrerá em 24 de abril e terá como tema "O cetro do czar: o papel da Rússia na geopolítica global". As transmissões das sessões são realizadas ao vivo pela TV Senado. (Com informações da Agência Senado)