Collor apoia líder bolivariano para prefeito de Maceió
Prefeitável em Maceió tem ideais de Bolívar e apoio de Collor
Desde o mês de abril, o senador e ex-presidente Fernando Collor de Mello (PTC/AL) tem investido politicamente no nome que escolheu como seu pré-candidato a prefeito de Maceió: Paulo Roberto Kuchenmeister de Memória, 53 anos. Acompanha e certamente direciona cada movimento da pré-campanha do pupilo filiado ao seu novo partido, o PTC. A classe política local já reconhece a iniciativa como um ensaio de “valorização” da musculatura eleitoral do senador, para um eventual segundo turno da eleição na capital. Para isso, é natural que Collor elegesse um nome. Mas o que surpreende é que este nome seja de um líder bolivariano e chavista tupiniquim, também apoiador do ex-presidente Lula no Brasil.
Paulo Memória é um profissional político multifacetado, especialista em partidos e desempenhos eleitorais nanicos. Em 2014, obteve 2.517 votos, ao “disputar” um mandato de deputado federal pelo PEN, no Rio de Janeiro, 0,03% dos votos válidos e menos de 10% da votação que elegeu o último deputado federal pelo Rio. O carioca e conterrâneo de Collor, Paulo Memória, também perdeu uma eleição para prefeito da capital fluminense, há 20 anos, pelo PSL. Foi um dos 13 candidatos na eleição de 1996, vencida por Luiz Paulo Conde. Ficou na 10ª colocação, com 7.182 votos. Uma diferença de mais de um milhão de votos para o desempenho do prefeito eleito. Mas Memória explica que foram missões assumidas por ele para “fortalecer e ajudar os partidos”.
Líder bolivariano
Casado com uma alagoana, o prefeitável diz que mora há cinco anos em Maceió, mas afirma já participar da política de Alagoas há 30 anos. Fora de Alagoas, já foi filiado ao PMDB, PSL, PEN e presidiu o PTdoB e o PTN, no Rio de Janeiro. Mas o feito que repercutiu na grande imprensa foi quando Paulo Memória fundou e ainda presidiu, há nove anos, o Partido da Revolução Bolivariana Nacional (PRBN) no Rio.
Em 2007, quando explicou à Folha de S. Paulo sobre a ideologia do partido exótico que reuniu 109 assinaturas de 11 estados, o agora também collorido se descreveu como um bolivariano e chavista, além de ter afirmado que sempre votou em Lula, consequentemente, negou voto ao seu padrinho pelo menos em 1989, quando Collor se elegeu presidente contra o petista.
O candidato de Collor confirmou ao Diário do Poder que ainda se inspira em Simón Bolívar (1783-1830), tratado como herói da independência de colônias espanholas na América, como a Venezuela, que teve como discípulo o presidente venezuelano Hugo Chávez (1954-2013), que dizia promover uma revolução bolivariana e socialista, mas era na realidade um ditador de esquerda.
“Bolivariano eu sou com muito orgulho. Sou leitor ávido do pensamento e das ideias de Simón Bolívar. Ele pregava a grande pátria latino-americana. Acho que as pessoas estão mais preocupadas em saber se o prefeito não estar envolvido em nenhum tipo de escândalo. Não tenho em minhas costas a Máfia do Lixo, acusação de enriquecimento ilícito, nem meu nome não está em lista da Lava Jato, nem sou Taturana”, comentou Memória, se referindo a emblemáticos escândalos de corrupção no Brasil e em Alagoas.
É assim o pré-candidato do PTC, com discurso empolgante com relação ao novo momento de conscientização política, resultante da atuação das instituições contra a corrupção. Mas quando lembrado dos seis inquéritos sobre a Lava jato, contra seu padrinho político, que tramitam no Supremo Tribunal Federal (STF), Memória reagiu de forma descontraída.
“Mas… Veja bem, se você for dizer que não quer o apoio de alguém que tenha algum tipo de envolvimento no que quer que seja, você mude de país! [risos] Político e candidato não podem dizer que não querem apoio. Agora, eu não estou [investigado]. Posso dizer que não estou em nenhum deles [inquéritos]. Qual é acusação? Ser bolivariano? Se o camarada vier questionar, vou dizer que sou bolivariano e ele é taturana. Farei minha campanha programática, defendendo esse princípio”, respondeu ao Diário do Poder.
Contra oligarquias, mas nem tanto
Assim como Collor, o afilhado exótico apoiava o governo federal de Lula e achava o PT um “condomínio bastante amplo”. Ele ainda defende a mudança na política e o afastamento das oligarquias, dos sobrenomes e do poder financeiro dos poderosos, nessas eleições. A exceção é o poder e o nome de Collor, claro.
“A diferença, talvez, em relação às outras candidaturas é que sou um cara independente do poder econômico. Porque o senador Collor é do partido. Tem que apoiar o candidato do partido dele, não de outro. Veio dentro de um acordo nacional. Não veio com a visão coronelista que temos no Estado”, argumentou, antes de responder se o poder econômico de Collor será bem vindo para a campanha: “Meu amigo, tento convencê-lo, viu? [risos] Porque, até agora, o apoio dele é apenas moral. [mais risos] Quando eu convencê-lo a fazer isso, vou ficar eternamente grato, pelo menos para bancar o mínimo necessário”.
O prefeitável do PTC nega que tenha sido escolhido por Collor para ser candidato. E garante que o senador não interfere na pré-campanha e só participa quando é convocado. “É lógico que ele tem que ser ouvido. E, como liderança, tem papel importante. Mas a campanha é conduzida pelos presidentes municipais dos partidos”, afirmou.
Refazendo as contas
Segundo Paulo Memória, seu ingresso na disputa pelo comando da capital de Alagoas é mais uma missão partidária, dessa vez, dada pelo presidente nacional do PTC, Daniel Tourinho. A candidatura nasceu do grupo inicialmente formado por oito pequenos partidos, denominado de G8. Porém, até o momento, Memória só tem garantias de formar sua coligação com quatro partidos PTC, PRTB, PSDC e PEN, com quase certeza de fechar com o PMN, 98%, segundo o pré-candidato. “G8 é um conceito do grupo, que tem oito diretrizes, não oito partidos”, desconversa o pré-candidato, ao emendar que tenta atrair PTB, PV, PPL e PTN para sua coligação.
Memória disputa contra a reeleição do prefeito Rui Palmeira (PSDB), que também enfrenta o deputado federal mais votado de Alagoas, João Henrique Caldas, o JHC (PSB); e o ex-prefeito Cícero Almeida (PMDB), que é apoiado pelo governador peemedebista Renan Filho e pelo seu pai e presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL).
Com oito anos de mandato pela frente, e uma Operação Lava Jato em seu encalço, Collor está disposto a dividir seu tempo entre o plenário, a defesa das acusações de envolvimento no petrolão com o apoio à chapa de Memória. O engajamento do ex-presidente com o desconhecido político faz lembrar a estratégia de campanha de 2006, quando Collor escalou seu motorista para ser candidato, e o substituiu na reta final da eleição.
Mesmo improvável diante dos seis anos que restam ao mandato de Collor, a teoria da surpresa ocorrida na véspera da campanha retornou ao imaginário do eleitor. Mas Memória nega que vá abrir espaço para outro nome de maior expressão. “Quando surgiu essa história, eu mesmo disse ao senador que seria o primeiro a votar nele, independente de qualquer coisa. Mas isso não existe”, garantiu Memória.