Cientistas criam banco de gametas para a conservação de corais

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As mudanças climáticas no planeta estão cada vez se tornando mais preocupantes. O aumento da temperatura do oceano rompe a relação entre as pequenas algas que vivem no tecido dos corais e que servem a eles de alimento. Os corais não conseguem suportar picos de altas temperaturas por um período longo de tempo – quatro a seis semanas já são suficientes para afetá-los. Em 2016, por exemplo, 22% de toda a Grande Barreira de Recifes de Coral da Austrália morreu por causas relacionadas ao clima. Mortalidades também já foram registradas em corais da costa brasileira.

O projeto ReefBank, coordenado pelo zootecnista Leandro Godoy, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), traz uma proposta inédita de pesquisa no Oceano Atlântico Sul que visa ao estudo e à proteção dos corais nas costas brasileiras. Utilizando ferramentas tecnológicas como a reprodução artificial e o congelamento de espermatozoides e óvulos, o grupo busca criar um banco de gametas congelados que permitirá a conservação desses espécimes por várias décadas. Esse material permanecerá armazenado por tempo indeterminado e poderá ser descongelado quando desejado, gerando bebês corais que poderão ser utilizados para recuperar recifes degradados. “Nós começamos primeiro com a avaliação da qualidade dos gametas de corais-célula, que são a base de formação do recife, pois são hermafroditas e a sua forma de reprodução sexual faz que sejam os principais construtores dos recifes”, diz Godoy.

Para os pesquisadores, conhecer as características das células é uma etapa fundamental para o desenvolvimento dos protocolos de congelamento. Eles explicam que, no processo de avaliação das condições do coral para sua futura conservação, uma amostra de seu sêmen é levada ao microscópio para avaliação da porcentagem de células vivas. “Caracterizamos a qualidade dos espermatozoides avaliando a porcentagem de células móveis, o tempo de vida, as características da morfologia e outros”, explica o pesquisador. “Após conhecer as características das células, fazemos os testes de exposição à baixa temperatura para ver a sensibilidade da célula e, então, começamos os testes de congelamento.”

A iniciativa é patrocinada pelo Projeto Coral Vivo, um movimento financiado pela Petrobras cuja base fica em Arraial d’Ajuda, Porto Seguro (BA), e que atua para a conservação e o uso sustentável do ecossistema marinho por meio de pesquisas, educação, turismo, políticas públicas e projetos de sensibilização dos cidadãos com o meio ambiente. Entre os principais parceiros do Projeto ReefBank também se encontram o Museu Nacional, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a UFRGS.

A equipe planeja trabalhar apenas com espermatozoides na primeira etapa do projeto. Segundo Godoy, o grupo visa realizar mais adiante novos estudos focados nos óvulos dos corais e, à medida que o projeto avance, ampliar os seus estudos por toda a área costeira do país. O mesmo processo de coleta deverá ser desenvolvido em fevereiro, feito com outra espécie endêmica dos chamados corais-cérebro do Brasil, as colônias de Mussismilia braziliensis, que só desovam nessa época do ano.

 

Mais informações sobre o projeto:

Instagram do ReefBank

Página do ReefBank no Facebook

 

Texto: Jorge C. Carrasco

Foto: Athila Bertoncini/Projeto Coral Vivo

Fonte: UFRGS Ciência

 

Notícia publicada originalmente em www.brasilcti.com.br/pesquisa/cientistas-criam-banco-de-gametas-para-a-conservacao-de-corais/

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