Lava Jato

Cerco à irmã pesou em decisão de Lucio Funaro de buscar delação

A prisão de Roberta Funaro provocou devassa na vida da família

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O operador de propinas Lucio Bolonha Funaro, aliado do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ameaça falar o que sabe sobre corrupção ao Ministério Público Federal. A prisão da irmã Roberta Funaro, com cerco contra ela para provar seu papel de recebera da mesada de R$ 400 mil, em troca de seu silêncio, foi um dos fatores que mais pesam na decisão de buscar um acordo de delação premiada.

Roberta Funaro foi presa no dia 18 de maio, alvo da Operação Patmos, desdobramento da Lava Jato decorrente da delação premiada dos donos do Grupo J&F – que levou o apocalipse político à Brasília. No dia 1º, o ministro Edson Fachin, da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), aceitou a conversão de sua prisão preventiva, em domiciliar, monitorada com tornozeleira eletrônica.

Funaro é citado nas delações da J&F como recebedor de um mensalinho de R$ 400 mil, para ficar em silêncio na cadeia. O lobista está preso desde 1 de julho de 2016, no presídio da Papuda, em Brasília, alvo da Operação Sépsis, que apura corrupção e fraudes na Caixa Econômica Federal – decorrente da delação do ex-vice presidente de Fundos e Loteria da Caixa, Fábio Cleto, que era apadrinhado de Cunha.

“Os elementos indiciários apresentados ao Ministério Público apontam que o Grupo J&F Investimentos SA vem repassando R$ 400 mil periodicamente a Lúcio Bolonha Funaro, por intermédio de um familiar seu”, informa o delegado da Polícia Federal Thiago Machado Delabary, no Relatório Circustânciado nº 02.

A compra do silêncio foi um dos assuntos que levou Joesley Batista, um dos donos da J&F, até o Palácio do Jaburu, no dia 7 de março, quando gravou de forma oculta conversa com o presidente Michel Temer. Um dos fatos narrados a ele seria o pagamentos para Funaro – que não é expresso no conteúdo do diálogo de forma clara.

Durante as investigações da Patmos, os delatores avisaram que Roberta e o irmão Dante eram os dois responsáveis por buscar o dinheiro. E que no dia 20 abril ela iria até a sede da J&F para retirar uma mala com uma das parcelas da propina. Os delatores entregaram ainda imagem do sistema de segurança interna da empresa, com registro da visita de Roberta ao local no dia 5 de abril.

O responsável pela entrega do dinheiro foi o executivo Ricardo Saud, espécie de lobista da J&F, em Brasília, e um dos delatores. Como fez com as malas de dinheiro entregues para o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures (PMDB-PR), ex-assessor de Temer, e para o primo do senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG), ele fotografou os maços de notas de R$ 100,00, envoltos em elásticos dentro e fora da valise.

Com acompanhamento da Polícia Federal e autorização dada pelo ministro Fachin, os delatores registraram toda operação de entrega dos R$ 400 mil para Funaro, no dia 20 de abril, que acontece dentro da sede da J&F, em São Paulo. Especificamente dentro de um carro, no estacionamento da creche que existe na empresa.

No relatório feito pela PF que registra a operação consta a sequencia de fatos, em fotos feitas do sistema de segurança da empresa, por fotografias feitas por policiais e também de uma câmera instalada dentro do veículo da J&F, onde foi repassada a mala de R$ 400 mil para a irmão de Funaro.

Revelações

Se as negociações com Funaro avançarem e ele conseguir um acordo de colaboração, as chances de Cunha de fazer um acordo reduzem. O lobista era o principal operador do ex-presidente da Câmara, mantendo empresas que eram usadas para recebimento de propinas, por negócios do peemedebista no Congresso, no Ministério da Agricultura, na Caixa e em fundos de pensão e investimentos.

Os delatores da J&F entregaram documentos de provas sobre esses repasses iniciados em 2011, com um contrato falso de R$ 100 milhões, que rendeu repasses mensais ao lobista, via suas empresas, como a Viscaya e a Serra Carioca.

Os documentos indicam o repasse de pelo menos R$ 173 milhões a Funaro, por meio de entregas de dinheiro e notas fiscais frias.

“As operações foram realizadas e a propina foi paga, por meio de um sistema de conta-corrente criada para registar as entradas decorrentes da liberação dos financiamentos e as saídas, que se davam ora por meio de pagamentos em espécie em reais ou dólares, ora contra notas fiscais emitidas a empresas do grupo, por empresas titularizadas por Lucio Funaro ou por outras empresas indicadas por Funaro, titularizadas por terceiros”, informa o anexo entregue por Joesley aos investigadores. (AE)

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