PROPAGANDA NAS REDES

Candidato ao Senado, ministro usa dinheiro público para se promover

Reportagem expôs relação irregular de Quintella com empresa

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Funcionários da empresa contratada por R$ 6,5 milhões anuais para cuidar da comunicação institucional do Ministério dos Transportes estariam sendo utilizadas pelo ministro Maurício Quintella Lessa (PR-AL) para operar suas redes sociais pessoais e promover seu nome para a disputa eleitoral de 2018. O contrato não prevê qualquer gerenciamento de páginas pessoais do ministro alagoano e já foi renovado três vezes seguidas.

O acerto para a participação da empresa no controle e produção do conteúdo das redes sociais de Quintella teria sido conduzido pelo próprio ministro, em 25 de maio. As informações são de reportagem de O Globo, publicada em sua edição do último domingo (23).

Com cerca de uma hora e meia de duração, a reunião de Quintella com funcionários da empresa FSB Comunicação teria resultado em um acordo para a realização do serviço, com direito ao repasse das senhas das páginas pessoais do alagoano que é deputado federal licenciado.

Quintella tenta se projetar ao Senado, em 2018 (Foto: Tânia Rego/ABr)Quintella foi eleito em 2014 para seu quarto mandato de deputado federal, é líder do PR na Câmara, que fazia parte da base do governo de Dilma Rousseff, antes do impeachment da ex-presidente petista. Ele pediu licença da liderança para votar pelo afastamento de Dilma e foi nomeado ministro dos Transportes no primeiro dia do governo interino de Michel Temer, em 12 de maio do ano passado.

Recentemente, o ministro declarou ter interesse em avaliar suas chances de disputar uma das duas vagas de Alagoas no Senado Federal, em 2018, apesar de ter como prioridade sua reeleição na Câmara dos Deputados. O desejo de alçar voos mais altos tem relação direta com o aumento de sua visibilidade obtida pelo cargo de ministro de um setor ligado à infraestrutura e obras importantes como a duplicação da BR-101 em Alagoas.

O repórter Eduardo Barretto relatou, na reportagem, que um perfil falso, de nome Maria Silva, foi criado para administrar o Facebook do ministro, como forma de preservar as identidades de funcionários envolvidos. A Maria fake tem como amigo um coordenador da FSB, usa um desenho infantil como foto de perfil e bloqueou o acesso às suas “informações pessoais”.

O CONTRATO

O contrato da FSB Comunicação foi absorvido pelo Ministério dos Transportes em 2016, cerca de dois anos após controlar as redes institucionais da Secretaria de Aviação Civil (SAC). Desde 2014, o contrato teve três aditivos, sendo o último aditivo fixado em R$ 6,5 milhões, em 26 de março deste ano, válido até 2018. Mas sem a previsão de administração, gestão ou produção de conteúdo para páginas pessoais do ministro.

Um assessor da FSB, designado para atender o ministério, acompanhou o ministro na inauguração do aeroporto de Jericoacoara (CE), no dia 24 de junho deste ano. E teria recebido orientação do ministério para que se concentrasse nas redes de Quintella. O resultado do trabalho foi parar na página pessoal do ministro, no Facebook, num vídeo em que Quintella elogiava o “paraíso de Jericoacoara” e prometia entregar 50 aeroportos regionais até o fim de 2018.

À reportagem, a assessoria do Ministério dos Transportes – coordenada pela FSB Comunicação – negou que as redes do ministro sejam controladas por outra pessoa além do próprio ministro. “As redes sociais pessoais do ministro são de sua responsabilidade, não implicando em qualquer ônus para o ministério”, disse a pasta em nota.

O ministério ainda afirmou que o ministro “é quem administra suas redes sociais no Facebook, Instagram, Twitter e Snapchat, desde quando ainda era deputado federal”. Mas a reportagem de O Globo reafirmou haver registros das tratativas de Quintella para que a empresa assumisse o controle de suas redes sociais.

“Antes de pedir os serviços pessoais à equipe da FSB contratada apenas para trabalhos institucionais, o ministro tinha redes com aspecto bastante pessoal e amador. A empresa chegou a produzir um estudo analisando o perfil das redes pessoais do ministro e apresentou sugestões para evitar impropriedades e dar tratamento homogêneo às várias plataformas. O estudo encontrou casos de erro ortográfico, duras respostas a críticas de internautas e fotos com familiares, além de uma fotografia em destaque que ainda o trazia como deputado”, diz um trecho da reportagem.

Outros ministérios chefiados por políticos foram procurados por O Globo e a resposta foi que a praxe é que o partido pague pela gestão das redes sociais pessoais dos ministros, a exemplo de Gilberto Kassab (PSD-SP) no Ministério de Ciência e Tecnologia, e de Mendonça Filho (DEM-PE), na Educação.

O Diário do Poder não obteve retorno da tentativa de contato com o ministro Quintella. (Com informações de O Globo)

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