Belisa Ribeiro lançará em Brasília livro sobre a história do 'Jornal do Brasil'
Livro resgata memória do JB, criado há 125 anos por monarquistas
O ano de 2015 foi especialmente doloroso para os jornalistas brasileiros: houve registros de mais de 1400 demissões no país, em veículos impressos, online, de TV e rádio. Neste cenário de mudanças nos meios de produção, de fechamento de veículos, de predomínio do digital, uma coisa parece certa: o jornalismo, como função social e profissão, não pode e não deve acabar. É essa a impressão que “Jornal do Brasil – Memória e história”, de Belisa Ribeiro, deixa ao leitor.
O livro registra depoimentos de alguns dos mais importantes jornalistas brasileiros que, em épocas diferentes, marcaram a trajetória do jornal e contribuíram para torná-lo um dos maiores de seu tempo. O JB, que em março completa 125 anos e foi criado para defender a monarquia, passou pela fase popular de jornal de classificados e pelas reformas editoriais que modernizaram a imprensa, foi trincheira muitas vezes para o combate à censura, para a denúncia de corrupção e maus feitos com o dinheiro público, má administração e outras mazelas da República. Foi também veículo de vanguarda, ditando moda, descobrindo tendências e revelando culturas.
Em suas 400 páginas, a jornalista Belisa Ribeiro conta histórias de edições corajosas, como a que noticiou a morte do presidente chileno Salvador Allende na primeira página inteira do jornal (sem manchete, como mandara a censura); de grandes reportagens, como a que revelou a reunião, no interior do Rio, de um grupo nazista, ou a que desvendou a farsa militar da bomba no Riocentro; e um pouco da trajetória de alguns de seus jornalistas.
A ideia para escrever o livro surgiu de um dos encontros dos jotabeninos, como se chamam os profissionais que lá trabalharam. Durante um ano e meio, Belisa manteve no ar um site para recolher depoimentos: “Ouvindo os colegas relembrarem seus “feitos”, os casos do passado, as reportagens históricas, decidi escrever não somente sobre a história do Jornal do Brasil, mas sobre as memórias de quem tornou o veículo inesquecível. E contar também quem são ou quem foram essas pessoas.”
O livro de Belisa Ribeiro, editado pela Record, será lançado no próximo dia 6, uma quarta-feira, a partir das 19h, no restaurante Carpe Diem, em Brasília.
A orelha
O livro de Belisa Ribeiro tem na orelha um texto do jornalista Alberto Dines, que marcou época à frente do Jornal do BrasilÇ
"Um jornal não muda o mundo, diz Belisa Ribeiro no seu prólogo. Está certa. Mas ao longo deste verdadeiro filme Belisa sutilmente comprova o contrário: aqueles doidos e doidas envolvidos na preparação do jornal do dia seguinte são possuídos pela mesma obsessão – fazer daquela edição algo único, especial, capaz de transformar o leitor, movimentar sua vida, alterar o seu olhar, enfiá-lo na história.
A “última profissão romântica” foi assim definida por conta da penosa dualidade que sujeita as emoções do relato à frieza da razão. No caso do jornalismo, a contradição se manifesta entre a imutável, implacável rotina diária e a sensação de transcendência que vai se filtrando, infiltrando à medida que as circunstâncias captadas tornam-se palavras, relatos, imagens, percepções.
As edições marcantes deste livro poderiam ser outras – jornadas grandiosas ou deprimentes. Os protagonistas poderiam ser diferentes, também as plataformas e páginas onde ficariam hospedadas. De qualquer forma, persistiria a cruel ilógica deste romantismo que tenta fazer do cotidiano algo trepidante, nobre, memorável, ajustando-o ao dever de torná-lo apenas justo e verdadeiro."