Atual diretor da PF foi escolhido por lista, em 2010
Delegados querem usar a mesma estratégia este ano, no governo Temer
Delegados da Polícia Federal vão eleger nesta segunda-feira (30) três nomes para apresentar ao presidente Michel Temer e ao ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, para que um deles seja nomeado novo diretor-geral e represente a instituição. Os delegados acreditam que a eleição por meio de lista tríplice evita indicação política ao cargo.
Apesar de já ter declarado ser contra a lista tríplice da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Moraes sinalizou que vai avaliar os nomes. E ele não seria o primeiro ministro a acatar a decisão dos delegados. O nome do atual diretor-geral, Leandro Daiello Coimbra, saiu de uma lista, em 2010, entregue a José Eduardo Cardozo, que assumiria o Ministério da Justiça.
Essa foi a primeira lista da Polícia Federal que indicou um nome para o posto de DG e continha seis nomes. O processo foi feito pela Federação Nacional dos Delegados de Polícia (Fenadepol) e contou com a participação de quase 400 delegados na votação. O delegado Sandro Avelar ficou em primeiro lugar com 32% dos votos, mas apesar da expressiva votação, ele não foi nomeado. Leandro Daiello, que em seguida seria o escolhido, ficou em sexto, com apenas 8%.
Cardozo recebeu a lista sêxtupla em dezembro e chamou cada um para entrevista pessoal. Tanto Sandro, o mais votado, quanto Daiello, o menos votado. Após sabatina e algumas xícaras de café nas conversas, Daiello foi nomeado em 1º de janeiro de 2011 para o cargo, no primeiro governo Dilma, onde permanece até hoje.
Após o então ministro da Justiça escolher o menos votado dos seis para ser nomeado o diretor-geral, Avelar enviou um texto de agradecimento aos colegas da PF pelos votos e parabenizando Daiello, desejando-o sorte na empreitada.
No total da apuração daquele ano, Sandro recebeu 32% dos votos, Roberto Ciciliati Troncon Filho 21%, Getúlio Bezerra 16%, Ildo Gasparetto 14%, José Mariano Beltrame 9% e Leandro Daiello Coimbra 8%.
Coincidência ou não, Sandro Avelar virou secretário de Segurança Pública no Distrito Federal, durante o governo Agnelo Queiroz (PT), seguindo os passos de Beltrame, chefe da polícia do Rio de Janeiro, onde permanece até hoje. O segundo mais votado, Troncon, virou superintendente da PF do estado de São Paulo.
Dois pesos
A Defensoria Pública da União escolhe o defensor-geral por lista desde 2005, sendo oficializada em lei complementar em 2009. A DPU é um órgão do Ministério da Justiça e Cidadania igual a Polícia Federal. O órgão conseguiu tais prerrogativas com o argumento que advoga contra a União. E é com esse termo que a PF também acredita que pode, pois investiga poderosos que podem influenciar nas investigações.
De acordo com Sandro Avelar, que foi o mais votado e 2010, mas não foi nomeado ao cargo de diretor-geral, o processo de lista tríplice faz parte do amadurecimento do órgão. "A escolha dessa forma dá possibilidade do órgão de ajudar ao eleger seus dirigentes. Assim a instituição se compromete a unir esforços para alcançar metas a serem alcançadas", disse.
Avelar se declara a favor da lista tríplice e cita o exemplo do DF como sucesso. "Na Polícia Civil do DF, com a lista tríplice, a partir de 2011, foram eleitos apenas dois diretores gerais. Assim, houve estabilização. Com apoio da categoria, ele se converte em esforços para o órgão e sociedade", conta. Hoje, Avelar é presidente da Fenadepol e trabalha na Comissão Nacional de Segurança Pública nos Portos, Terminais e Vias Navegáveis (Conportos), do MJ.
O inexpressivo
Quem coordenou a primeira lista da PF foram os delegados Goes e Armando Coelho Neto. Para Neto, há uma certa desconfiança nessa eleição. "Não sei como andam os mecanismos hoje. De repente surge gente que não está acompanhando a categoria. Na minha época os votos eram físicos e Daiello (Leandro) ganhou, para minha surpresa. Então tenho receio da lista", relembrou.
"O Daiello era totalmente inexpressivo, um péssimo superintendente em São Paulo e só era conhecido naquele estado, com a história escondida", disse. Apesar das críticas, o delegado avalia que hoje o processo é mais transparente. "Hoje o processo é mais aperfeiçoado. Mais transparente. Há debate e perguntas para os candidatos responderem", completou. "Mas ainda assim tenho receio", finaliza.