Argentinos votam hoje para eleger presidente
Após 12 anos, país escolhe seu novo líder sem opção de um Kirchner
A Argentina tem neste domingo, 25, a eleição presidencial mais esperada dos últimos 12 anos, menos por quem a disputa e mais pela ausência do sobrenome Kirchner entre as alternativas. Na segunda-feira, o país saberá se um Scioli será o sucessor de Cristina, que deixa o poder com 40% de aprovação.
Nenhum instituto de pesquisa se atreveu a garantir se haverá ou não segundo turno em 22 de novembro. Para evitá-lo, o governista Daniel Scioli, da Frente para a Vitória, precisa que os 32 milhões de eleitores aptos a participar lhe garantam 40% dos votos e deixem o segundo colocado a mais de 10 pontos.
Se houver uma nova votação, o duelo tende a ser contra o conservador Mauricio Macri. Prefeito de Buenos Aires e representante da coalizão Cambiemos, ele tinha há uma semana, quando foram publicadas as últimas sondagens, uma folga em relação ao terceiro colocado, o ex-kirchnerista Sergio Massa, do grupo UNA. Com variações de 2 pontos porcentuais, os institutos mais conceituados apontavam os três com 40%, 30% e 20% das intenções de voto.
Diante da perspectiva de uma definição apertada, a Justiça Eleitoral convocou os candidatos a terem prudência antes de se declararem vencedores ou denunciarem fraude. Anunciou que a apuração total deve levar uma semana, embora prometa um resultado preliminar para este domingo. “É muito improvável que alguém admita a derrota no dia da votação”, avalia Mariel Fornoni, diretora da consultaria M&F.
Após as irregularidades em agosto na eleição regional de Tucumán, que chegou a ser anulada e logo foi validada, as autoridades aceitaram sugestões da oposição para aumentar a transparência. Ainda assim, o voto em papel dá margem a reclamações, num sistema em que cada coalizão precisa proteger suas cédulas na sala de votação do furto fácil de adversários.
O país renovará ainda 130 dos 257 deputados, 24 dos 72 senadores, escolherá 24 deputados e, algo que pode definir a eleição nacional, 11 governadores. Entre as regiões que escolhem novo administrador está a Província de Buenos Aires, que não inclui a capital argentina, contém 37% do eleitorado e historicamente é dominada pelo peronismo, do qual o kirchnerismo é uma corrente que estimula o confronto.
Analistas acreditam que esse território, governado por Scioli há oito anos, decidirá se a disputa presidencial acaba no domingo. Uma boa votação da opositora María Eugenia Vidal, mesmo que não vença o kirchnerista Aníbal Fernández, chefe de gabinete de Cristina, tende a beneficiar Macri. Isso porque as cédulas das coalizões contêm todos os candidatos da agrupação e recortar candidatos de grupos rivais para pôr no envelope, algo permitido, não é costume.
Se o sobrenome Kirchner não está na lista presidencial, aparece na Província de Santa Cruz, no sul, berço político da família.Na disputa pelo governo provincial está Alicia, irmã de Néstor, ex-presidente que enquanto ainda governava (2003-2007) teve o sufixo “ísmo” colado a seu sobrenome – Kirchner é um derivado da palavra alemã para “igreja”. Na briga para chegar ao Congresso como deputado está Máximo, filho dos dois últimos presidentes.
Pelos perfis moderado de Scioli e conflitivo do kirchnerismo, fala-se em fim de ciclo na Argentina. “Não me atreveria a tanto. Mas com certeza haverá uma mudança de estilo, ganhe quem ganhar”, diz o sociólogo e consultor Ricardo Rouvier. Cristina decidiu não concorrer este ano, mas não descartou a possibilidade de voltar em 2019.